Sempre que eu quero mostrar a complexidade de um automóvel eu falo da ”porta”.
Ela nem é uma das peças mais importantes do veículo, mas sim uma consequência do corpo do veículo, seja no exterior como no interior do carro.
Designers e a maioria dos técnicos de engenharia prefeririam que o carro não tivesse portas, mas infelizmente elas são necessárias para acesso e proteção no interior do veículo. As aberturas das portas no corpo do carro causam um enfraquecimento substancial da sua estrutura.
Para compensar isso, precisamos queimar muito a cabeça, criando reforços, caros e pesados, nas áreas de maior tensão, onde haverá a tendência da chapa se romper devido aos esforços que sofre uma carroceria em curvas, freadas, e em estradas acidentadas.
Quando se compara aà porta de um carro com a porta de uma casa, percebe-se claramente a sofisticação deste produto que se chama automóvel. Elas são muito caras de serem produzidas e encampa quase todos os processos de fabricação conhecidos, rígidos testes de durabilidade, estanqueidade, acústica, acionamento de controles, além de importante item de segurança passiva e ativa.
Outro sonho dos técnicos e designers são vidros fixos, pois os vidros corrediços, pela sua complexidade técnica, ocupam espaço dentro (do compartimento) da porta.
Nos carros do futuro o ar dentro do carro estará sempre ao gosto do freguês, que pode controlá-lo conforme seu desejo.
Os vidros laterais, basculantes também têm grande influência na aerodinâmica do veículo, já que um vidro aberto, mesmo parcialmente, modifica todo comportamento aerodinâmico do automóvel.
Os vidros laterais, em uma forma que chamamos de “tonel”, já que sua superfície é parte de um tonel, com uma circunferência nas pontas menor do que a circunferência do centro. Esta forma permite que tenhamos curvas tanto no sentido horizontal quanto no sentido vertical, proporcionando reflexos mais bonitos e compatíveis com a escultura do corpo do carro, e, ao mesmo tempo, corrê-lo para cima e para baixo dentro dos trilhos-guias dos vidros!
Agora, a parte pesada de trabalho e dinheiro está na estampagem das chapas de porta, externa e interna. Para formar cada uma delas são necessárias cinco ferramentas de estampagem que aos poucos esticam e puxam, cortam e furam as peças individuais. Depois estas suas peças serão soldadas e grafadas, para evitar marcas de soldas visíveis, limpas e entram posicionadas junto com o corpo do carro para receberem a tinta e verniz, compatíveis com a unidade correspondente.
Depois de pintadas, são novamente retiradas para uma pré-montagem de alguns elementos e depois recebem os acabamentos finais na própria linha de montagem.
Cada porta recebe:chicote elétrico para todas funções acionadas da porta, que no caso da do motorista não são poucas.
Depois, o sistema de levantador dos vidros, elétrico ou manual, é instalado junto com motores, retentores, e acionadores, fixados em suas respectivas “molduras”, mais conexão elétrica e física do espelho retrovisor externo e seus comandos.
Antes de montar o corpo do revestimento de portas (painel de plástico injetado) é posicionado e fixo uma película protetora contra umidade e pó.
Toda fixação dos revestimentos tem que ser não visível (pelo menos no grupo Volkswagen), portanto para fixar os painéis são desenvolvidos fixadores específicos e sofisticados para garantir posicionamento exato.
No corpo do revestimento são fixados os puxadores de porta (na realidade são fixados na estrutura da porta sob os painéis), porta-objetos e acabamentos em tecidos para áreas de toque com o corpo humano.
O corpo do painel e todas outras peças nele fixados recebem sofisticados tratamentos de superfícies, que são aplicados para melhorar não só o brilho e aparência, mas especialmente o toque com a pele.A textura tem que ser suave ao toque, o que melhora em muito, mesmo que inconscientemente a percepção de qualidade do material, e por consequência do carro.
Trincos e maçanetas não pintadas também recebem texturização fina, ou pintura com material metalizado. Carros de luxo podem apresentar trincos de alumínio polido ou até mesmo fundidos em prata.
Os tecidos usados nas laterais tem propriedades diversas às dos bancos., Mesmo que pareçam iguais, têm propriedades de estiramento superiores às dos bancos, devido à moldagem em superfícies curvas em todas direções, como o descansa-braço.
Já na concepção do revestimento interno, vários itens devem ser devidamente posicionados, de acordo com a posição do manequim do carro. Distância e inclinação do descansa-braço, ângulo do puxadores, posicionamento dos acionadores de vidros elétricos, comando do espelho, volume do porta-objetos, que normalmente inclui uma posição para um litro de água encaixado do revestimento da porta, são apenas alguns destas normas.
Finalmente, com o desenvolvimento dos automóveis modernos, agora com programas e “computadores” que rodam testes simulados, sobre todas matérias, a importância das portas na segurança cresceu muito.Além de prevenção contra batidas laterais, comuns em acidentes de trânsito. As barras de proteção nas portas também servem para distribuir a força que vem de uma batida frontal para o resto do carro, garantindo assim uma célula segura para os ocupantes.
Em alguns carro também existem airbags dentro das portas para proteção da cintura, e sempre a área do revestimento ao lado do quadril, não pode ter formas com cantos, mas sim sempre lisa e levemente curva.
Mesmo após crash frontal a 65 km/h (que não é pouco, posso garantir) a porta tem que abrir. Significa que todo o carro pode amassar para absorver a força do impacto mas a célula de sobrevivência tem que se manter intacta, e a porta tem que abrir por uma pessoa por fora ou dentro do carro.
Também nunca devemos esquecer que uma das principais qualidades da porta é de nos manter longe da poeira e dá água, portanto as guarnições devem selar 100% o interior da cabine.
Agora, para expandir ainda mais a importância e sofisticação da porta, vamos analisar todos os processo industriais envolvidos na sua manufatura.
– Estampagem em aço, e alumínio. (5 estágios)
– Dobragem de aço
– Rolagem de perfis de alumínio
– injeção de “plástico”
– Moldagem de plástico
– Injeção de alumínio
– Extrusão de borracha
– Moldagem e recorte de “vidros”
–Tear de tecidos
– Acoplagem de tecido espuma
– Confecção de chicotes elétricos
– Soldagem de metal (pontos)
– Grafagem de metal
– Aplicação pintura e verniz
– Aplicação de textura em plástico
Por ser uma peça considerada de segurança máxima, vários testes são realizados para garantir a eficiência de uma porta.
Dispositivos variados são criados por planejadores e engenheiros para submeter a porta e seus itens de desgaste como acionamento e travamento, estrutural, estanqueidade, entrada de poeira, crash test, ergonomia, enfim, testes que garantem o bom funcionamento da porta.
Em termos de design em si, na forma a porta normalmente e tratada como um elemento de transição ou do tema de exterior, ou com a continuação do painel de instrumentos.Como existe uma condição padrão de posicionar o manequim (adulto de 1,50 m até 1,95 m), a posição do descansa-braço e opções de puxadores de porta obedecem mais ou menos o mesmo lugar.
Agora uma curiosidade.Durante a era Martin Winterkorn foi implantado por ele mesmo e de maneira espontânea um teste muito simples que quase atestava a qualidade não só da porta mas do carro completo.Ele simplesmente abria a porta parcialmente, e batia para fechar de volta.
Com este simples gesto ele já podia fazer um diagnóstico acústico e estrutural do carro, e já sabia a quem olhar no grupo constante que o rodeava 18 horas por dia. Este é um “feeling” que se adquire com muitos anos de experiência, mas tem tudo a ver: o primeiro toque no carro é na maçaneta externa, que não pode ter nenhum canto vivo ou rebarba que cause o menor desconforto nas mãos.
A força de acionamento é o próximo sentido alerta, não deve ser nem muito pesada nem muito leve mas firme e sólida. Aí o principal: o ruído que está ação desencadeia. Especialmente quando se fecha a porta com certa força, de maneira firme, podemos sentir a qualidade de um automóvel. Chamo isso ao feeling do “porta de geladeira”.
Não pode haver nenhum tipo de ruído mais alto e especialmente nenhum ruído de vibração quando se fecha a porta.
Você também já pode sentir se o sistema de saída de ar da cabine funciona bem. Este sistema permite que você feche a porta sem sentir nenhum tipo de pressão nos ouvidos, já que como estamos falando de uma cabine selada e deve sempre haver uma saída (válvula) estrategicamente localizada dentro da cabine.
Ao mesmo tempo a porta deve fechar sem que você precise aplicar muita força, e mais uma vez vem o “feeling” do chefe, que é capaz de sentir se a força que ele aplicou bate exatamente com a norma estabelecida (por ele) e pela engenharia.
LV