Os desenhos nesta matéria são somente ilustrativos, sem nenhuma precisão técnica.
Há algum tempo tenho notado um fenômeno entre os construtores de veículos esportivos chamado “cauda longa” ou, em inglês, long tail. Ferrari, Jaguar e Aston Martin lançaram suas versões e até o Corvette mudou seu shape típico do motor dianteiro para um motor central-traseiro, com uma bela cauda, nem tão longa como devia.
A questão é que a cauda longa, na realidade, é uma consequência da aerodinâmica aplicada aos automóveis para ganhar desempenho aerodinâmico, e isso Porsche nos ensinou 50 anos atrás com o Porsche 907 LH 2,2-litros cauda longa (lang heck em alemão), vencedor da 24 Horas de Daytona de 1968, quando chegaram em primeiro, segundo e terceiro lugares.
Quando você já tirou tudo que dava para tirar em termos de peso, tem o melhor powertrain, uma suspensão adequada, freios potentes, enfim, tudo que se precisa para obter um verdadeiro bólido de competição, falta uma coisa básica para se decidir: o “body style!, ou seja, o estilo da carroceria.
Entre as marcas poderosas, temos a grande maioria que usa o motor central-traseiro como melhor compromisso para o balanço dos elementos do carro. Motor à frente do eixo traseiro, nas costas do motorista, este o mais avançado possível.
A maioria dos Ferraris, todos os Lamborghinis, Porsches, Audi R8, e também os exóticos McLaren, Rinspeed, Bugatti, Spyker, Pagani e outros adotam esse estilo de carroceria, não porque é o mais bonito, mas porque é a melhor forma aerodinâmica aliada à distribuição de peso.
A este “body style” podemos fazer uma correlação com a gota, a mais perfeita forma aerodinâmica.
Gotas de água em queda têm uma forma que não gera nenhum tipo de turbulência. E aqui vale um adendo sobre turbulência: ela equivale à força negativa que age como resistência, como se fosse um freio aerodinâmico. Se cortamos o rabo da gota vamos gerar uma “zona negativa”.
Esta zona negativa tende a segurar o carro gerando perda de velocidade!
O problema é que a gota viaja no espaço e o ar está ao seu redor por todos os lados.
O automóvel também viaja no espaço, o problema é que o piso está sempre ali. Diria que para resolver este problema, cortamos a gota pela metade na direção do eixo central.
Então poderíamos imaginar um automóvel, com uma boa aerodinâmica, com a forma de metade da gota com a parte plana voltada para o chão.
Fazendo uma análise da forma de uma gota, percebemos que a parte mais larga da gota fica na terceira seção, se a dividirmos em 10 partes.
Pois então, se eu fosse usar uma meia-gota como forma básica para o perfil de um carro, deveríamos posicionar a cabeça do motorista na parte mais alta da gota, já que a cabeça do motorista é sempre o “hard point” mais alto em qualquer automóvel.
Quando você posiciona o manequim com a cabeça no ponto mais alto da gota e, claro, posicionado na direção em que a gota se move, percebe-se que não há outra alternativa, se não colocar o motor nas costas do motorista e à frente do eixo traseiro.
E… pronto, aí está nossa plataforma ideal em termos aerodinâmicos.
Mas, diferentemente de uma gota de água, que só percorre o espaço em uma direção, sem acidentes, até encontrar o solo, o automóvel tem um caminho muitíssimas vezes maia dinâmico em todos sentidos.
Ele vai encontrar muitas curvas, abertas e fechadas, terá desníveis à sua frente, subida e descida e em alta velocidade, fazer uma curva a 200 km/h e frear violentamente, sem escapar da sua rota.
Portanto, terá que lidar com várias forças extremas atuando sobre sua superfície e estrutura. Nas retas, em alta velocidade, é onde a aerodinâmica, através da forma, vai fazer o seu trabalho mais difícil, que é eliminar turbulências e o carro se manter colado à pista.
Portanto, vários elementos (asas, difusores, ailerons e spoilers) são integrados à superfície básica para auxiliar, em primeiro lugar, direcionar o ar para vários outros spoilers, que têm a missão de manter o carro colado ao solo, jogar o ar não aproveitado para fora do carro e aproveitar somente uma parte (nobre) deste ar para o arrefecimento de todo o powertrain.
Então são três tarefas (nos próximos desenhos mostro o carro de lado e de cima na mesma vista):
1 – estabilizar a lâmina de ar que corre através da superfície quando esta está em alta velocidade. Eliminar turbulências. Criar o air flow, o fluxo de ar.
2 – criar o efeito downforce, a força vertical descendente que mantém o carro colado ao solo através de asas invertidas, spoilers, etc.
3 – arrefecer powertrain e freios.
Pois então, depois de décadas, e de grandes avanços na parte de eficiência de motores, suspensões e freios, ainda estamos a lidar com as mais básicas das forças que é a parede de ar que o automóvel tem que romper quando ele supera a barreira de 90 km/h. Quanto maior a velocidade, mais forte se mostra a barreira de ar, de maneira exponencial, desproporcionalmente crescente.
Outro fator muito importante na aerodinâmica é limitar ao máximo a lâmina de ar embaixo do carro, que além de ser um ar “sujo”, pode também gerar forças imprevistas e perigosas, por exemplo ,com o efeito solo, que puxa o carro para o solo com uma onda de vácuo, mas que, porém, pode se soltar imprevistamente e fazer o carro se descolar e “voar” sem controle.
Agora, voltando um pouco para o caso Corvette, fico em dúvida se mudar seu body style foi a decisão correta.
Primeiro, que, o Corvette, com sua longa frente e cabine apoiada no eixo traseiro, tem um caráter marcante , e esta característica faz parte do seu DNA, que no caso de carros particulares o luxo, conforto e a imagem, são mais importantes que desempenho superesportivo..
Desfilar com um Corvette com sua frente imponente é uma das coisas que fazem seu íntimo vibrar de alegria.
Outro tema ligado ao novo Corvette que me chama a atenção é o seu preço, bastante baixo para outros da sua categoria.
Você diria, mas isso é ótimo!
Só que não.
Eu já presenciei grandes projetos de carros de luxo se tornarem em um fracasso, justamente porque seu custo era muito inferior aos concorrentes.
No nicho do luxo, ninguém gosta de ostentar um carro mais barato que o do seu vizinho.
E somente para fechar esta coluna, alguns dos longtails mais fantásticos das últimas décadas.
Porsche 917
Aston Martin Valkyrie
McLaren F1 GT
Ford F3L P68
Koenigsegg Regera
E para finalizar um grupo de designers autônomos que redesenharam o mítico
Porsche 907 lang heck como um exercício de criatividade.
“Porsche 908-04 Concept” é o nome do grupo de cinco designers e técnicos que se uniram para criar um carro virtual, baseado no 907.
E a própria interpretação da marca , o “Porsche 917 Concept”
LV