A parceria anunciada esta semana entre Toyota e Suzuki pode resultar na maior empresa do setor no mundo. Associações entre fábricas existem desde que o automóvel foi inventado, mas algumas naufragaram e resultaram em gigantescas perdas financeiras. Alguns exemplos:
Prejuízo – A poderosa Daimler AG (fabricante dos Mercedes-Benz) comprou a problemática Chrysler Corporation, em 1998, por quase 36 bilhões de dólares, criando a DaimlerChrysler. Nove anos depois, livrou-se da americana ao vender 80% das ações para um grupo financeiro, o Cerberus LLC, por apenas 7,4 bilhões de dólares. E ao pretender mudar de nome para Daimler AG, o atual, teve que pedir autorização aos ingleses donos da Daimler. Se houve valor pago, é desconhecido…
Comprou mas não levou –Também em 1998, outra alemã entrava numa “senhora” fria. A Volkswagen pagou à inglesa Vickers US$ 713 milhões pela Rolls-Royce, uma das marcas mais valiosas do mundo. Mas só levou uma velha fábrica (em Crewe, na Inglaterra) e a Bentley, pois a marca criada por Henry Royce e Charles Rolls em 1906 pertencia à fábrica homônima de motores a reação aeronáuticos. Que vendeu os direitos de utilização em automóveis para a BMW por “míseros” 65 milhões de dólares.
PAG – A Ford também se meteu numa enrascada ao criar o PAG – Premier Automotive Group com a compra de duas inglesas, Jaguar em 1989, Land Rover (da BMW) em 2000, e a Volvocars em 1999. Vendeu as inglesas em 2008 para o grupo indiano Tata Motors e a sueca em 2010 para a chinesa Geely. Nenhuma das três deixou saudade em Dearborn, cidade-sede da Ford…
Japonesas… A recém anunciada parceria da Toyota com a Suzuki (foto) vai além de um troca-troca tecnológico pois haverá permuta de ações entre elas. Com boas chances, portanto, de integrarem a lista de casamentos que navegam em mar de rosas, como a Fiat-Chrysler, Peugeot-Citroën-Opel, Renault-Nissan-Mitsubishi, Geely-Volvo, Kia-Hyundai e outras.
BMW: só a Mini – A fábrica da Baviera amargou um formidável prejuízo em sua aventura inglesa. Comprou da British Aerospace em 1994 o Grupo Rover (Rover, Land Rover, MG e Mini), mas em 2000 percebeu que o buraco era mais embaixo, vendeu a Land Rover para a Ford e a MG/Rover para a chinesa SAIC. Ficou (acertadamente) com a marca Mini, que em 2001, com nova geração, passou a ser grafada em maiúsculas, MINI..
Casamento-relâmpago – Em 2001, General Motors Corporation e Fiat S.p.A. estabeleceram uma joint venture em três divisões: motores, compras e desenvolvimento de produtos. Houve troca de ações entre elas e a divisão de motores foi batizada de FGP – Fiat GM Powertrain. No Brasil, a Fiat usou o motor 1,8 Família I da GM em alguns modelos. O divórcio veio rápido, assinado em 2005 com um senhor prejuízo para a GM: um contrato malfeito a obrigou a pagar 2 bilhões de dólares à vista para desfazer o negócio.
Fracasso da Classe X – Além do baita prejuízo com a Chrysler, a Daimler contabiliza hoje um rombo de centenas de milhões de euros com o contrato para a produção de uma picape que seria gêmea da Nissan Frontier e Renault Alaskan. A Mercedes Classe X seria produzida nas fábricas da Aliança Renault-Nissan em Córdoba (Argentina) de onde viria para o Brasil, e em Barcelona (Espanha). Mas a Daimler desistiu de Córdoba e iniciou sua fabricação apenas na Espanha, em 2017, de onde é exportada para a Europa, África do Sul e Austrália. Porém o futuro da Classe X é incerto pois revelou-se um fracasso de vendas com apenas 17 mil unidades comercializadas em 2019.
Autolatina – Casamento que fez água no Brasil (e na Argentina) foi entre Volkswagen e Ford. Elas se associaram em 1987 sob o guarda-chuva de uma holding company chamada Autolatina para desenvolver em conjunto novos produtos, mantendo a identidade de cada marca. Só durou até 1994 por incompatibilidade das culturas americana e alemã e pior: quem mandava era a VW, que detinha 51% da holding. Tentativa semelhante entre as duas também não foi adiante em Portugal, onde criaram a Autoeuropa em 1991, mas a Ford saiu em 2006. Apesar dos desacertos no passado, as duas decidiram trocar alianças novamente e estabeleceram (no início deste ano) uma parceria para desenvolver produtos e dividir linhas de montagem de picapes, suves, comerciais e elétricos. Desta vez com separação total de bens: nada de troca de ações….
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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