Atendendo à inteligente, oportuna e bem argumentada sugestão de ninguém menos do que meu amigo Bob Sharp, vou hoje tentar explicar e amenizar a justa revolta do reclamante contra o uso desmoralizante, incômodo e errôneo dos redutores de velocidade de “araque”, pejorativamente denominados de “quebra-molas” instalados sem, praticamente, nenhum critério e, o que é pior,sem produzir o efeito desejado: conscientizar o motorista.
Tão grande é a revolta do batalhador e um dos criadores do inteligente e útil AE, que quando sobre o fato escreveu denominou-os de “dejetos viários”. Se não são de fato, parecem quanto ao equipamento necessário a eliminar, ou, na pior das hipótese, diminuir o efeito da velocidade , presente em quase a totalidade dos acidentes, dos quais somos vergonhosamente campeões.
Formado, nos meus primeiros passos na “ciência do controle do trânsito” na Holanda e Alemanha, como sou “anglófilo” de carteirinha, desde que por lá andei em 1950, tornei-me seguidor irrestrito de suas inovações na área do trânsito, principalmente urbano, graças à leitura do livro clássico e basilar de Sir Alker Tripp, no qual enfatiza como se administrar o trânsito e nos dá o conselho fundamental: “Tudo que puder ser conseguido com medidas construtivas, não deve ser imposto mediante restrições legais:” Baseados neste princípio, criaram o genial sistema de: “Traffic Calming”, que deu o título a este artigo.
Graças à minha amizade com o professor Paulo César Ribeiro, do COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, chegou às minhas mãos, faz tempo, o magnífico livro, publicado na Inglaterra, “TRAFFIC CALMING, in practice”, onde são detalhadamente explicados todos os recursos para se obter este efeito, inclusive com os exemplos, por eles classificados como case studies, onde detalham todos os detalhes de sua aplicação.Como redutores principais, as “chicanas” e os “Road humps”(os nossos infelizes quebra-molas). Ao detalhá-los estabelecem as alturas, extensão do redutor, o material de sua superfície, plana e, principalmente, o gradiente de sua rampa de acesso, em média de 1,8%.As alturas são as mesmas já determinadas pelo Contran, entre 6 a 10 centímetros e o piso da trecho elevado entre 3,7 e 1,5 metros de comprimento, pavimentado com material diferente do da via onde está instalado.Na Inglaterra complementam esta medida com a inteligente advertência: “O seu desconforto aumenta na razão direta do grau de sua desobediência ao limite de velocidade exigido”
Em 1976, sendo eu Diretor de Trânsito do Novo Estado do Rio, consegui, graças a este “status”, um estágio de sete dias no Departamento de Trânsito de Londres, onde me foi dada a oportunidade de visitar e de conhecer em detalhes o seu famoso: ”Transport and Road Research Laboratory”, subordinado ao Department of Environment, situado em Crowthorne, Berkshire, nos arredores de Londres. Lá tomei conhecimento dos estudos e o seu resultado,no seu Report 597, publicado em 1973. Neste fascículo está tudo o que se deseja saber sobre o uso deste redutor, da maior eficácia, se utilizado corretamente. Não cabe neste artigo transcrever as considerações sobre este importante componente do mobiliário urbano a fim garantir um trânsito seguro.
A minha experiência de mais de cinquenta anos de “janela” permite-me que eu ouse tecer as seguintes recomendações:
Temos na área urbana, conforme o CTB, quatro tipos de vias: as expressas, com o limite de 80 km/h, as de trânsito rápido, controladas por semáforos, com o limite de 60 km/h, as coletoras, com a velocidade máxima de 40 km/h, e, finalmente, as locais, com velocidade máxima de 30 km/h..
Caberá ao administrador dosar o tipo de road hump a utilizar e, ciente de que a importância de sinalizar o “porquê” da necessidade daquele redutor é fundamental para o seu condicionamento.A ausência da explicação diminui de muito o propósito do redutor, uma vez que, sem este alerta, o motorista após ultrapassá-lo, irritado talvez, continue com a velocidade indevida ou maior.O aviso do motivo da restrição à velocidade é uma tentativa de, atuando sobre a Percepção e a Inteligência, esta unida ao espírito de conservação, possa produzir no principio do PIEV, que governa suas reações, a ação de sobrepujar a Emoção e a Volição que normalmente o governam.
Ao fazer esta inserção, o aviso da necessidade de reduzir a velocidade, estamos cumprindo a recomendação básica de Sir Alker Tripp, meu “guru”, de usar sempre a medida construtiva, em lugar do “pardal” puro e simples, por exemplo.
O uso correto dos redutores, ou das chicanas, é desnecessário nas vias de trânsito rápido se utilizada corretamente a regulagem dos semáforos. com a abertura em sequência, controlando a velocidade ótima para rendimento da capacidade da via.
Ainda em tempo, os redutores de seção curva, na extensão padrão de meio metro, só devem ser tolerados, com a devida sinalização de alerta, precedendo as sinalizações de PARE, indicadas por sinalização gráfica vertical e horizontal,onde a parada total é obrigatória e no limite do contorno da chicanas.Nos demais casos, se usadas, serão como disse Bob Sharp “dejetos viários”. Fora da lei.
CF