Na matéria VW Fusca Última Série 1986 para funcionários: revelado o segredo foi apresentada a lista dos 100 funcionários mais antigos da Volkswagen em 1986 e que teriam direito de adquirir um Fusca Última Série. Pois bem, meu amigo de São José dos Campos, SP, Samuel Henrique Mandelbaum — renomado médico dermatologista e professor (e leitor dos mais antigos do AE) me escreveu falando que sua prima era o número 57 daquela lista: é a D. Deisi Maria de Souza, hoje com 81 anos de idade e em plena forma, absolutamente ligada nas redes sociais. Ela ficou muito emocionada ao ver esta história da matéria acima e decidiu relatar a sua história com a Volkswagen e com os Volkswagens que teve.
Na foto de abertura desta matéria a D. Deisi está na Praia Grande, SP, com o que ela acredita ser o seu primeiro Fusca. Ela mesmo é quem conta:
“Começando na Volkswagen do Brasil
Em 24 de fevereiro de 1959 fui admitida, com muito orgulho, na Volkswagen do Brasil, registro 3.577, apresentada por um diretor da empresa para a qual eu havia prestado serviço anteriormente.
A Volkswagen só tinha três alas, entrei direto na Seção Gráfica, acompanhei de perto o crescimento da empresa, até ser criada a Seção Hollerith (nome hoje aportuguesado para holerite), para onde fui transferida, com todo trabalho e equipe sob o meu comando; até meu setor ser absorvido pela Seção Hollerith, com todo o equipamento da IBM que necessitava de ar-condicionado, máquinas enormes. Até que, depois de tudo informatizado, passei para o Departamento de Peças. A Volkswagen transferiu parte do departamento para a Vila Carioca (na antiga fábrica Vemag, que havia se tornado a Fábrica 2), onde fiquei por mais de 12 anos, criando e comandando algumas seções.
Abaixo a publicação do “Nosso Jornal” da primeira quinzena de 1984 que comemorou os meus 25 anos de empresa. Sou a única mulher deste lote de jubilados e me colocaram no centro da página.
A legenda da minha foto é a seguinte: É operadora de Sistemas no Setor 1933 (Departamento Logístico). Depósito Alto Verticalizado – Ala 21. Começou na Volkswagen como gravadora. Hoje, com 25 anos de casa, Deisi só tem uma coisa a lamentar: “é uma pena que as circunstâncias impossibilitam tantos colegas de sentirem a felicidade deste dia”.
Ai eu voltei para a Fábrica Anchieta para comandar o sistema que revolucionou o processamento de itens armazenados, o sistema automatizado de armazenagem conhecido por “Alto Verticalizado”, com os seus elevadores de 19 toneladas que através de comando na cabine, estocavam duas caçambas por vez e automaticamente as registravam no computador.”
O episódio do Fusca Última Série de funcionário
“Em 1986, eu estava em férias e fui viajar, fiz um pequeno tour, terminando por Curitiba, até que voltei para casa, onde recebi a ligação de uma amiga, também funcionária da Volkswagen, me avisando que havia um Fusca, referente aos 100 funcionários mais antigos, que havia sido faturado em meu nome. Ocorre que, depois, eu vim a saber que eu era a número 57 desta lista.
Alheia a esta situação, eu não esperava isto…. Tampouco havia sido consultada; acabei sendo confrontada com esta situação e tendo apenas três dias para efetuar o pagamento! Foi uma correria, meu carro era com reserva de domínio (nomenclatura da época), eu tinha um prazo certo para vendê-lo.
Pedi socorro! Meu irmão Fernando me adiantou parte do montante devido e eu paguei o carro. Na minha casa já tínhamos três carros e uma moto. Retirei o carro na Volkswagen e o levei para a garagem do meu sobrinho no Morumbi. Como eu não ia ficar com o carro, comecei a procurar interessados até que um amigo de uma loja de carros usados conseguiu me apresentar a um comprador. Fui ao Morumbi e trouxe o Fusca zerinho para a minha casa até que o interessado chegou. Ele era morador da zona leste e amou o carro. Na verdade, ele procurava um Fusca branco, mas não tinha encontrado um, e, para minha alegria, ele se apaixonou pelo Fusca azul Stratos.
Ele combinou para alguém levar o Fusca até a sua casa, onde faria o pagamento. Meu irmão, mais uma vez “quebrando o galho”, foi dirigindo. O amigo que estava com o comprador foi no Fusca azul e comentou particularidades dele: ele era um bicheiro, reformou a casa fazendo uma entrada para carro direto na sala; e quando lá chegaram o carro foi estacionado no local pré-estabelecido.
Muito feliz, o tal bicheiro ficou alguns minutos contemplando sua aquisição, até que pegou uma sacola cheia de dinheiro vivo que os três contaram. Meu irmão, morrendo de medo de ser assaltado, pegou um táxi retornando para casa.”
Minha vida com meus Fuscas
“Comprei o meu primeiro Fusca em 1962, azul Pastel, lindo… foi o primeiro carro “zero” da família. Quando o vendi o interessado foi buscá-lo no estacionamento dentro da fábrica, era um dia chuvoso, que jamais esquecerei. Quando olhei … me pareceu que o Fusca chorava, quase desisti da venda; mas tinha que pagar o outro Fusca que ia ser faturado, peguei o cheque chorando e passei o resto do dia muito triste. Assim foi a venda do meu primeiro Fusca.
Nele, levei minha mãe ao aniversário da vovó Felismina, em Quatá, uma parte da família comigo, outra no carro do Joel, meu irmão. Era o dia 20 de agosto e feriado em São Bernardo do Campo, aniversário do município.
Vivi muitas histórias maravilhosas com meus Fuscas (tive vários que até perdi a conta, passei para outros modelos, visando o lado comercial).
Lembro de uma grande peripécia: fomos em quatro mulheres a Salvador, a primeira coisa foi instalar um bagageiro. Rodamos 2.000 km exatos de casa até o Camping de Itapuã. Fomos nos baseando no “GPS” da época: um croqui feito por um colega do meu irmão, que era viajante, com cálculo de quilometragem, local familiar para paradas etc., etc. Foram 15 dias maravilhosos, mas no quinto dia já não aguentávamos mais, saíamos da barraca às 5 horas da manhã, voltávamos para o almoço, banho, troca de roupa, e saíamos, só retornando à 1 hora da manhã.
Foi assim até que fomos visitar uma amiga que morava em Pituba, chegamos detonadas, poucas horas de sono, calor terrível na barraca. Já na casa dela havia uma área grande de piso de mármore (eu já conhecia a casa). Quando ela ofereceu um suco eu não resisti e pedi: podemos deitar-nos na sua área? No que ela respondeu: “fiquem à vontade!” Na área havia duas redes, mas nós quatro nos deitamos no mármore e dormimos imediatamente.
Ela e o marido não nos deixaram ir embora, fomos ao camping pegar nossas tralhas. Era tanta coisa! Comprei até um berimbau. Chegou o dia de virmos embora, as compras foram muitas, as duas amigas sentadas no banco traseiro vieram com as pernas em cima de sacolas. Paramos mais vezes no retorno para alongar as juntas e flexibilizá-las.
Na verdade, viajamos muito, foram três ou quatro Fuscas, um atrás do outro, Campos do Jordão, Poços de Caldas, São José do Rio Preto, praias, e muitas outras cidades.
Em Ribeirão Preto, lotávamos dois Fuscas e íamos para a Choperia Pinguim tomar o melhor chope do Brasil e melhor coxinha de frango, que era servida com garfo e faca. Essa era nossa maratona quase que constante por lá, passeávamos pela cidade nos refazendo, as vezes fazíamos visita a meus tios que lá moravam e, depois, já lúcidos, voltávamos para São Paulo.”
Deisi Maria de Souza
Uma foto especial
Depois de publicada a matéria, o amigo Samuel Mandelbaum enviou uma mensagem que vale à pena ser publicada nesta matéria.
Ele disse o seguinte: “Sabe que no dia 07 de setembro de 2019, agora, fizemos o Encontro de nossa família. Reunimos os primos em São Paulo junto com uma só tia ! Deisi é a decana, nossa prima mais velha. Ela nos aprontou uma ENORME surpresa ! Escreveu um livro com s história de nossa família ! Presenteou a cada um com seu exemplar autografado!”
Foi uma feliz coincidência, pois assim é possível incluir na matéria uma foto atual da D. Deisi e de seu primo Samuel, o que fecha estre trabalho com chave de ouro.
Nos inúmeros contatos feitos para as pesquisas que levaram à matéria “VW Fusca Última Série 1986 para funcionários: revelado o segredo”, o André Chun também coletou muitas histórias de pessoas que fizeram parte da lista dos 100 funcionários mais antigos da Volkswagen em 1986. Estas histórias estão registradas formando um acervo de vida destas pessoas com a Volkswagen e com seus Volkswagen, de maneira semelhante como o relato de D. Deisi, que acabei recolhendo e publicando acima.
O assunto ainda não está fechado e novos contatos estão sendo feitos pelo André, cuja meta é tentar fechar o contato com, se possível, a totalidade das 100 pessoas, ou com seus familiares, já que muitos já não estão mais entre nós. Estamos estudando a melhor maneira de completar as informações para nossos leitores e leitoras.
AG
Agradecimentos
É importante ressaltar o fato da D. Deisi se dispor a contar a sua história e dividi-la aqui conosco nesta coluna, pelo que a agradecemos muito. Nisto foi muito importante o Dr. Samuel Mandelbaum ter feito a ponte entre D. Deisi e eu, meu grande agradecimento a ele. As fotos apresentadas nesta matéria pertencem ao acervo da D. Deisi — que inclusive guarda carinhosamente cópias do Nosso Jornal, uma publicação interna da Volkswagen do Brasil.
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A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Nota de alteração emitida às 19h40m do dia 23/09/2019: Acréscimo da foto de D. Deisi e do Dr. Mandelbaum quando de um encontro familiar.