FIAT CRONOS DRIVE 1,3-L, SACIANDO UMA CURIOSIDADE

Não sei por que sempre tive curiosidade de conhecer o Fiat Cronos, especificamente o 1,3 manual, desde que foi lançado um ano e meio atrás. Conhecer no uso normal, por uns dias, mas ainda trabalhando na GM era impraticável.

Agora, já desligado da fabricante e no time do AE, pensei em aproveitar o intervalo de alguns dias “de folga” entre os testes do EcoSport FreeStyle “100 Anos” e do próximo, a Ford Ranger XLT 4×4 (retirei-a ontem), para tentar dirigir este Cronos. O Bob verificou junto à FCA e, por sorte, havia uma única unidade disponível na frota de imprensa de São Paulo.

O Cronos, que é fabricado na Argentina, foi lançado em fevereiro de 2018, no Rio de Janeiro e esta versão 1,3 Drive foi objeto de teste pelo Arnaldo  Keller em 3/04/18 e pelo Bob em 23/10/18. A versão tem preço público sugerido de R$ 61.990.

Acredito que esse modelo tenha sido um dos veículos utilizados pela engenharia da GM como benchmarking para o novo Onix, e certamente será usado na comparação pelos consumidores por se tratar do mesmo segmento.

O motor Firefly 1,3-l de aspiração atmosférica, 4 cilindros, bloco e cabeçote de alumínio, 8 válvulas e comando de válvulas acionado por corrente com variador de fase, é um projeto voltado para ser econômico na construção e na utilização. O torque máximo de 13,7/14,2 m·kgf é produzido a 3.500 rpm e dirigindo no trânsito urbano sua elasticidade significa agilidade. A potência máxima de 101/109 cv a 6.000/6.250 rpm ajuda o carro a atingir a velocidade máxima de 178/183 km/h,  o que dá ideia da agilidade também em velocidades de viagem, como numa ultrapassagem.

Um dos destaques deste Firefly de quatro cilindros é, apesar da farta potência em baixa rotação, ser um girador por excelência, capaz de agradar usuários de diferentes perfis.A relação peso-potência de 11,2/10,4 kg/cv resulta em aceleração 0-100 km/h em 12,3/11,5 segundos, excelentes números considerando a cilindrada de 1.332 cm³.

Curiosamente, a carga do pedal do acelerador é tão baixa que no começo foi difícil manter a velocidade constante em rodovias, pois  o motor tem potência palpável — quase 70 cv — já  a 3.620 rpm, rotação a 120 km/h em 5ª marcha. A velocidade aumentava facilmente e requeria atenção constante. Para o desempenho do  sedã ítalo-argentino, ponto positivo.

O câmbio manual de 5 marchas tem um ótimo escalonamento, não deixando “buracos” muito grandes entre as marchas, facilitando principalmente a condução em cenário urbano, onde diminuição de velocidade é constante para adequação às velocidades de cada via, ou para transpor obstáculos como as execráveis lombadas.

Os alcances das marchas, levando o motor ao corte (6.500 rpm, misto) são 1ª 40 km/h; 2ª 74 km/h; 3ª 118 km/h e 4ª 166 km/h. O gráfico dente de serra mostra bem isso e também como as quedas de rotação nas trocas vão para a rotação de torque máximo de primeira para segunda e acima nas demais.

Recentemente, como o  leitor ou leitora sabe, participei da etapa de 13 de julho do rali de regularidade de Interlagos com um Argo Drive de 1 litro e  fiquei positivamente surpreso com o comportamento em curvas. O Fiat Cronos tem a mesma distância entre eixos do Argo, 2.521 mm, e as bitolas dianteira e traseira, 1.469 mm e 1.502 mm, são muito próximas às do Argo (1.465/1.500 mm),, porém em curvas tem uma tênue tendência a sair de traseira (sobre-esterço), diferentemente do que seu irmão hatchback.

Todo sedã, quando comparado com a versão hatch, costuma apresentar um melhor conforto de rodagem e um melhor equilíbrio de movimentação entre os eixos dianteiro e traseiro. O balanceamento de peso entre os eixos causado pela maior massa e comprimento do porta-malas, é melhor. Ao mesmo tempo que aumenta o peso no eixo traseiro, o efeito gangorra traz alívio de peso no eixo dianteiro. O Cronos, comparado com o Argo, comprova esta teoria ao apresentar um rodar bem equilibrado e sem movimentação indesejável.

Avaliar um carro em estrada de terra ou asfalto molhado é sempre muito bom, pois todas as tendências direcionais em curvas, sejam estas subesterçantes ou sobre-esterçantes, acabam se amplificando nestas situações. Em velocidades menores e com menores riscos é possível identificar melhor as tendências de um carro.

Saindo de São Paulo fui a Indaiatuba,  SP, cidade no interior do estado a 105 quilômetros da capital. Para evitar um dos pedágios mais caros da região — o da Rodovia Santos Dumont SP-075, praça Indaiatuba, R$13,80, um verdadeiro assalto — é comum eu utilizar uma das rodovias estaduais não pedagiadas que liga Itupeva a Indaiatuba. Desta vez optei pela ligação vicinal que passa pelo povoado do Quilombo, onde existe um trecho de terra de 15 quilômetros, mas em ótimas condições.

Fui buscando os limites e notando que o carro tem uma tendência sobre-esterçante quando exigido, sendo até divertida sua condução por motoristas mais experientes. Tudo isso a menos de 60 km/h em uma estrada vicinal sem trânsito de outros veículos, pedestres ou bicicletas no horário utilizado. Fica a preocupação, numa eventual situação-limite, por um motorista de menos habilidade que venha a aplicar o freio em situação de pânico, o que só faria acentuar a escapada de traseira.

Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira compõem o eficiente sistema de freio do Cronos Drive. A modulação de esforço no pedal versus desaceleração do veículo é muito boa, não trazendo surpresas ou desconforto, tanto em uso urbano quanto rodoviário.

O sistema de direção eletroassistida com  o motor de passo  na árvore de direção proporciona esforço baixo para manobras de estacionamento com boa progressão com a velocidade. A resposta é rápida e precisa, sendo fácil apontar o carro na direção desejada.

Os chamados controles primários — direção, pedais e câmbio — são exemplares. Pedais, pela facilidade de fazer o punta-tacco — “telepático” de tão fácil, como o Bob diz — como em  todo carro italiano. Câmbio, pela precisão e baixa carga de engate de marchas, mesmo sem o toque seco conhecido nos Volkswagen, Honda e Hyundai, motivo (insubsistente) para muitos torceram o nariz para “câmbio Fiat”.

Os pneus 185/60R15H (Pirelli Cinturato P1 no carro testado) colaboram para o resultado dinâmico do veículo e mantêm a aspereza e ruído de rodagem em níveis semelhantes aos concorrentes deste segmento.

Sendo a pressão de pneus importante para o consumo de combustível, conforto de rodagem e segurança na distância de parada, a Fiat poderia adotar o critério de outros fabricantes e colocar uma etiqueta adesiva na coluna da porta ou portinhola do tanque de combustível para facilitar a vida dos usuários. Evitaria ter que consultar o Manual do Proprietário para encontrar o valor de 32 lb/pol² nas quatro posições.

O consumo Inmetro homologado junto ao Denatran é de 12,4/8,5 km/l na cidade e 14,8/10,3 km/l, na estrada. No melhor cenário é possível uma autonomia de 710 quilômetros com o tanque de 48 litros, o que certamente está de bom tamanho.

Com o ótimo porta-malas de 525 litros, o Fiat Cronos, em qualquer das configurações disponíveis, é o tipo de carro para famílias que querem espaço interno, 400 kg de capacidade de carga e autonomia, sem deixar de lado o conforto, muito menos o prazer de dirigir.

Minha curiosidade era mesmo procedente….

GB

Ficha técnica e lista de equipamento estão abaixo, após as fotos adicionais.