O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (foto de abertura), certificada pela TÜV SÜD, não é o único malfeito desta entidade alemã, também acusada de emitir certificados irregulares em usinas nucleares na Alemanha e na Coreia do Sul. Em 2013, sua “irmã” TÜV NORD foi incriminada na França por ter aprovado próteses mamárias que se romperam em 1.600 mulheres.
TÜV signfica Technische Überwachung Verein (Associação para Vistoria Técnica), criada na Alemanha no século 19 para verificar a qualidade de caldeiras de vapor após a explosão de uma delas em 1865, numa cervejaria em Manheim. No início do século 20, ela iniciou a vistoria veicular. Várias dessas entidades surgiram naa Alemanha e foram se associando até que permaneceram três delas: a TÜV Rheinland, a TÜV NORD e TÜV SÜD. Entre as diversas filiais pelo mundo, no Brasil tem a TÜV Nord (como BRTÜV) e a TÜV SÜD do Brasil.
Estabeleceram padrões internacionais para a certificação de produtos e serviços, mas a TÜV SÜD se tornou reconhecida principalmente pelo rigor de sua inspeção veicular, certificando automóveis, peças e acessórios. Na Europa, só se comercializa uma peça de reposição depois de certificada pela TUV SUD. Mas elas se dedicam também a consultoria, certificação, testes e treinamento em diversos outros setores, inclusive barragens.
No último dia 19, funcionários da Vale e da TÜV SÜD foram formalmente indiciados pela Policia Federal por falsidade ideológica e uso de documentos falsos para permitir o funcionamento da barragem da mina do Feijão (Brumadinho. MG) que se rompeu em janeiro deste ano deixando um rastro de destruição e ceifando 249 vidas e deixando 21 pessoas desaparecidas..
Quanto a economizadores, em 2017 tomei conhecimento da venda no Brasil de um “economizador” de combustível chamado BE-Fuel Saver, que consiste de um pino cilíndrico de aço que o motorista joga no tanque (gasolina, etanol ou diesel) ou prende-o junto a uma mangueira que leva o combustível ao motor. O pino, chamado aqui de Pinox, é produzido na Áustria e vendido no Brasil por um importador. A informação de produto diz que “o Pinox melhora o desempenho do motor e reduz em até 20% o consumo de combustível”. E anuncia que suas qualidades são certificadas por uma filial da TÜV SÜD em Dubai, no Oriente Médio, a TÜV SÜD Middle East.
Embora eu jamais tenha acreditado em “economizadores”, desta vez tomei o cuidado de investigar a tal certificação pelo TÜV-SÜD, uma entidade centenária e merecedora de respeito na Alemanha. Cheguei a duvidar de sua presença no Oriente Médio e consultei a matriz a respeito da filial e do teste com o BE-Fuel Saver. Na resposta, ela sugeriu que eu consultasse sua filial brasileira, que confirmou minhas suspeitas.
O engenheiro Sérgio Murillo Mello, diretor-geral da TÜV-SÜD Brasil, me respondeu que: “Não conseguimos rastrear nenhum certificado de conformidade para este produto. Isto quer dizer que não existe nenhum certificado de conformidade com qualquer norma registrado em nosso sistema.” E que: “…nós realmente temos uma filial no Middle East, mas, até onde eu sei, ela não tem laboratórios automotivos.” E mais: “… os resultados de relatórios de ensaios são cheios de tecnicidades e dificilmente uma pessoa sem a formação específica consegue tirar conclusões corretas. Ensaios limitam-se a apresentar resultados de testes aplicados em uma amostra determinada e sem nenhuma conclusão específica.”
Confirmou, portanto que o certificado emitido pela filial do TÜV-SÜD não tinha consistência técnica e era tão discutível quanto o das próteses mamárias na França ou da barragem de Brumadinho. Óbvio tratar-se de enganação, pois o que levaria uma empresa austríaca a se certificar numa filial do longínquo Oriente Médio, se estava num país vizinho da Alemanha?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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