Semana em ritmo alternado, a terceira do Honda HR-V Touring: ora pacatos deslocamentos no enroscado trânsito paulistano, ora cruzando em ritmo acelerado as vias expressas de São Paulo fora de horários de pico e — ponto alto do período — usando o suve da Honda em sua porção “U”, de “utility”, ou seja, levando no compartimento de carga o peso-limite admissível: 320 kg de piso cerâmico, que somados aos 90 kg do motorista “lamberam” os 420 kg declarados como limite da capacidade de carga, ou seja, a carga útil..
Puxo a brasa para a sardinha do AE e seu Teste de 30 Dias (eu!), e afirmo que poucos são os avaliadores que se importam em rodar nesta condição que, diga-se de passagem, considero mais do que importante.
O tema carga faz parte da minha história de “bambino”. Meu finado pai, Signor Piero, ganhou a vida em uma empresa de transportes, gerenciando o vai e vem de caminhões entre São Paulo e o nordeste do Brasil, principalmente. E eu, acompanhante de meu pai nos sábados de manhã na empresa, me acostumei a ver a faina de caminhões sendo carregados e descarregados.
Trauma ou gosto? Pouco interessa, mas a verdade é que vira e mexe me vejo entulhando automóveis, picapes e até motos com carga máxima seja do que for: gente, bagagem ou… materiais de construção, como foi o caso. Acho sempre importante avaliar o funcionamento dinâmico dos mais variados veículos nesta condição.
Óbvio dizer que, quanto ao HR-V Touring, espaço e potência não são problema: as dez caixas do tal piso cerâmico mal ocuparam nem 20% do espaço dedicado, já que o encosto do banco traseiro foi rebatido e aproveitei a área de maneira ideal, distribuindo o peso de modo uniforme. Como se deve, aliás, quando possível. A alternativa de acumular a carga toda no porta-malas, sem rebater o banco seria até possível, mas malvada, já que a massa estaria toda concentrada atrás do eixo traseiro. Nessa tarefa de carregar o HR-V, ponto para o compartimento, plano.
Mesmo distribuindo os 320 kg de piso cerâmico de modo uniforme, o HR-V “sentou”, com a suspensão traseira praticamente chegando ao final de seu curso. Boa notícia nessa condição é que batidas secas, que poderiam surgir caso não houvessem batentes adequados no eixo de torção, não foram sentidos em nenhum momento do percurso de cerca 40 quilômetros. Outro fato positivo é a boa distância livre em relação ao solo, que torna contatos das ponteiras do escapamento duplo ou mesmo da frente do HR-V algo praticamente impossível.
Convenhamos: como é chato a “beiçada” em uma lombada, ou a raspadinha do(s) escapamento(s) ao transpor uma das tantas irregularidades que vingam estupidamente no Brasil atual. Nesse quesito, o motorista de um HR-V fica bem tranquilo, pois nem mesmo com carga-limite há contato.
Confirmou-se também nesta utilização com carga máxima a opção da Honda em dar à nova safra de HR-V suspensões menos ásperas, cujo acerto premia conforto. Porém, no caso específico dessa versão Touring, a mais potente, apesar das molas, amortecedores e barras antirrolagem específicas da versão, eu particularmente preferiria um ajuste algo ainda mais voltado à esportividade que a saúde deste motor 1,5 litro turbo exibe. Outra opção de câmbio também seria bem-vinda, a boa e velha caixa manual que tanto gosto, mas que não interessa praticamente a mais ninguém, salvo a dinossauros como eu.
Tirando o episódio carga-pesada, no restante da semana o HR-V mostrou mais do mesmo percebido no uso urbano da semana inicial: consumo parco com médias de consumo entre 8 e 9 km/l, suavidade de condução exaltada pelos bons comandos — direção, pedais, câmbio — e um interior claro agradabilíssimo, onde a luz proporcionada pelo grande teto-solar é um excelente diferenciador..
Um dispositivo que se destaca nesse HR-V quando o trânsito fica mais selvagem é o sistema LaneWatch, que toda vez que o pisca-pisca é acionado para a direita liga a câmera colocada na ponta do espelho retrovisor, projetando a imagem na tela de 7 polegadas do sistema multimídia. Ajuda? Claro, mas tal câmera mereceria algo mais de definição. Idem quanto à câmera de ré, que deveria ter imagem melhor e guias que se movem conforme o volante é girado.
Além dessas comodidades, faz diferença no uso urbano a chave presencial, o sistema de partida por botão, o assistente de partida em subidas e o brake hold, a aplicação automática do freio de estacionamento nas paradas que elimina a necessidade de ficar com o pé no freio em semáforos, por exemplo. Um senão do dispositivo é que ele sempre precisa ser acionado a cada vez que se liga o carro por meio de botão no console. Creio que não haveria inconveniente haver a possibilidade de programar tal sistema para atuar sempre e, através do botão, desabilitá-lo quando preciso. Este automatismo poderia ser estendido ao freio de estacionamento, que exige sempre que o motorista o acione: há quem prefira assim, mas há quem gostaria de configurar o acionamento para toda vez que a alavanca do câmbio fosse colocada em P.
Preferências e/ou detalhes, ao fim da 3ª semana de convívio no mais elaborado HR-V jamais vendido no Brasil, a verdade é que vive-se muito bem a bordo, tanto sentado atrás do volante como no espaço dos passageiros! A sensação de estar em um carro bem projetado e bem construído, que cumpre o que dele se espera, é total.
Para a semana derradeira, a programação de sempre — vista técnica à oficina Suspentécnica para ver o que diz Alberto Trivellato — já está agendada. Mas no horizonte surgiu a possibilidade de mais uma viagem o que, em se tratando deste Honda HR-V Touring e seu saudável motor, é sinônimo de satisfação à vista. Veremos…
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Honda HR-V Touring
Dias: 21
Quilometragem total: 1.186,9 km
Distância na cidade: 798,7 km (67%)
Distância na estrada: 388,2 km (33%)
Consumo (cidade): 7,8 km/l a 10,9 km/l
Consumo (rodovia): 14,2 km/l a 16,8 km/l
Consumo médio (na semana): 8,5 km/l
Consumo médio (desde o início da avaliação): 9,7 km/l
FICHA TÉCNICA HONDA HR-V TOURING 2020 | |
MOTOR | Quatro cilindros em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, 16 válvulas, comando no cabeçote acionado por corrente, variador de fase na admissão e escapamento, turbocompressor com interresfriador, injeção direta, gasolina |
Cilindrada (cm³) | 1.498 |
Diâmetro e curso (mm) | 73 x 89,5 |
Taxa de compressão (:1) | 10.6 |
Potência máxima (cv/rpm) | 173/5.5.00 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 22,4/1.700 a 5.500 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro automático CVT com 7 marchas virtuais, trocas manuais sequenciais pelas borboletas, tração dianteira |
Relações de transmissão (:1) | 2,645 a 0,405; ré 1,859 a 1,303 |
Espectro das relações (:1) | 6,530 |
Relação de diferencial (:1) | 5,048 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do aro do volante (mm) | 360 |
Diâmetro mínimo de giro (m) | 10,6 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/293 |
Traseiros (Ø mm) | Disco/282 |
Controle | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas (pol.) | Liga de alumínio, 7Jx17 |
Pneus | 215/55R17V |
CARROCERIA | Monobloco em aço, suve, subchassi dianteiro, quatro portas, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 393 (980 com encostos rebatidos) |
Tanque de combustível | 51 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.380 |
Capacidade de carga | 420 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.329 |
Largura sem espelhos | 1.772 |
Altura | 1.650 |
Distância entre eixos | 2.610 |
Bitola dianteira/traseira | 1.535/1.540 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l) | n.d. |
Estrada (km/l) | n.d. |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 9 (estimado) |
Velocidade máxima (km/h) | 200 (estimado) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 c/ rel. mais longa (km/h) | 59,7 |
Rotação a 120 km/h, idem (rpm) | 2.000 |