Retomando a publicação de causos de meu livro “EU AMO FUSCA II – Uma Coletânea de Causos de Felizes Proprietários de Fusca”, selecionei este causo escrito por Márcio Paul, de Joinville,SC. Neste causo ele conta seu relacionamento com Fuscas e como este relacionamento foi ficando mais maduro com o tempo. Como sempre que possível, eu faço contato com os autores dos causos para que eles se apresentem para nós, e no caso do Márcio ele conta como a vida não lhe foi fácil e como ele conseguiu dar a volta por cima, num relato marcante e emocionante.
Meu Fusca
Por Márcio Paul
Quando criança, o que eu mais gostava de fazer era brincar de carrinho no quintal de casa. Eu, meu amigo Roberto e minha irmã Marilene fazíamos ruas na terra com pontes de madeira, morros, plantávamos pequenas árvores, e construíamos casas com garagem para guardar nossos carros de plástico.
Lembro também que éramos representados pelos bonecos do “Forte Apache” que ganhei do meu avô de presente de Natal.
Tempos bons aqueles. Nem minha mãe nem meu pai se incomodavam, pois passávamos a manhã inteira e às vezes o dia inteiro brincando no quintal de casa.
Muito tempo depois, quando estava para completar 18 anos, novamente meu avô me disse: “Meu neto, quando você completar 18 anos vou te dar meu Fusca de presente, mas só se você me prometer que vai ser meu motorista particular quando eu precisar…”
Imaginem a minha alegria. Todos os sábados ia à casa do meu avô tirar o Fusca 1500 ’71 que ele comprara 0- km para dar aquele “trato”. Isso foi em 1981.
Contava os dias e as horas para que pudesse tirar a carteira de motorista e curtir meu Fusca. Só para você ter uma ideia, o Fuscão era azul Diamante, todo original, com todos os frisos imagináveis num carro, como barbatanas, porta-objetos de bambu abaixo do painel e com apenas 36.000 km rodados. Uma joia!
Ele só saía com o carro se o tempo estivesse bom. Viajar, só para Barra Velha onde tinha uma casa de praia, e quando chegava, já lavava o carro para tirar o “salitre”. A garagem tinha duas tábuas largas com 4 a 5 cm de espessura onde o carro ficava em cima. Brilhava mais que diamante.
E, finalmente, chegou o tão sonhado dia. Ganhei o carro e em seguida comecei a “depenar” o fusquinha. Coitado do meu avô! Três anos e meio depois vendi o Fusca, com: teto solar de lona, bancos reclináveis Procarro, som com equalizador, rodas aro 15 atrás e 14 na frente, rebaixei, coloquei piscas no para-choque, maçanetas de Alfa, escapamento direto, isso sem contar que bati com o carro duas vezes — de leve, mas bati.
Hoje eu me pergunto, porque ele não me disse assim: “Meu neto, quando você completar 18 anos vou te dar meu Fusca de presente, mas só se você me prometer que vai deixá-lo como está, original”. Mas meu avô concordava com tudo que eu queria fazer, talvez porque eu fosse seu único neto.
Em dezembro de 1999 conheci um amigo, o Sr. Eugênio Frederico Wegner Jr., que depois de eu ter contado esta história a ele, me convidou a participar de uma reunião do Veteran Car Club de Joinville e disse que estava indo ver um Fusca que pertencia a uma amiga que pedira para avaliar seu carro.
Era noite, mas tudo bem, se é só para avaliar o carro dela, vamos lá! Quando chegamos fomos muito bem recebidos pela Sra. Jutta Hagemann, que com muita simpatia foi nos falando sobre seu Fusca: “Meu pai comprou este carro em dezembro de 1969, colocou-o em meu nome e está comigo há pelo menos 22 anos. Tenho a nota fiscal original ainda guardada, a chave-reserva e mais alguns chaveiros e manuais da época”.
Quando ouvimos aquilo queríamos logo ver o carro. Descemos pelo elevador e chegamos à garagem. Meu Deus, que Fusca! Não perdi tempo, fiz minha oferta, e ela me pediu um tempo para pensar, dizendo que tinha uns garotos que já estavam de olho no carro. “Pelo amor de Deus, dona Jutta, não venda para esses garotos que eles vão logo “depenar” seu carro e amanhã a senhora não vai mais reconhecê-lo”.
Na quinta-feira seguinte ela me ligou e disse que o carro era meu, mas que eu só poderia buscá-lo no sábado. Foram os dois dias mais longos da minha vida.
Hoje, estou feliz com meu Fusca 1300 que vou um dia passar para meu filho que já sabe: só vai ganhar o carro se me prometer que vai conservá-lo original!
E qualquer dia desses ainda vou ter um Fuscão 1971, igual ao do meu avô.
Márcio Paul dá o seu recado
Caro amigo Gromow,
Parece que foi ontem, mas já se passaram 15 anos do lançamento do “nosso” livro EU AMO FUSCA II que guardo com muito carinho e quando posso leio um causo e outro para relembrar as boas coisas vividas com meus Fusquinhas.
Muita coisa mudou de lá para cá, mas a paixão pelo glorioso, inesquecível e eterno Fusca continua.
Desde minha infância sempre gostei de carros e de desenhar, surgindo assim a paixão em colecionar carros antigos e o amor pela publicidade. Tornei-me então colecionador e um publicitário bem-sucedido.
A carreira profissional me proporcionou o sonho de adquirir minha paixão, já tive um Chevrolet Styleline 1950, outro Chevrolet, um Bel Air 1951, um Chevrolet Pavão 1928, um Ford Landau 1979, um Puma e um Escort conversíveis, entre outros. Mas os Fuscas, ah, os Fuscas, são inesquecíveis e, claro, é o carro que mais gosto e de que mais tenho saudade.
No meu causo no livro EU AMO FUSCA II contei sobre meu primeiro Fusca 1500, ano 1971, azul Diamante e sobre o Fusca 1300, ano 1969, branco Lótus. Este último eu havia encerrado o causo falando que seria repassado ao meu filho mas, como disse no começo, muita coisa mudou.
No final de 2004 veio a separação do meu casamento, divisão de bens, perdi a empresa e quando uma nova vida se iniciava em 2005, fui diagnosticado com um câncer de pulmão que me fez parar de trabalhar por “longos” dois anos que foram dedicados exclusivamente ao tratamento com quimioterapia e radioterapia.
Em consequência de tudo isso, me vi obrigado a me desfazer de minha coleção de antigos, inclusive do Fusca 1969 que eu havia prometido ao meu filho.
Os anos se passaram e dei a volta por cima. Sete anos depois, em 2012 comprei outro Fusca 1300, ano 1969, desta vez na cor verde Folha, tão bonito, original e conservado quanto o branco.
Foram lindos e bem-vividos cinco anos com ele até que outra crise me abateu, desta vez financeiramente e que de novo, me fez desfazer do sonho de ter meu Fusquinha.
A vida continuou e como todo bom brasileiro que sou, não desisto nunca, afinal a “ferrugem” e a paixão pelo velho e guerreiro Fusca continua correndo nas veias e quem sabe, em breve terei um novo “velho” e guerreiro Fusquinha para contar outro apaixonante causo para vocês…
Um grande e fraternal abraço e até breve!!!
Márcio Paul
Joinville, SC.
AG
Publicar causos é uma das vertentes da minha coluna “Falando de Fusca & Afins” e desta vez eu tive sorte, pois foi possível contactar o Márcio Paul, não pelo e-mail que eu tinha (que não funcionava mais) mas pelo Facebook. Minha sorte continuou com a pronta resposta do Márcio que reagiu rapidamente enviando, além do impactante texto, várias fotos significativas, o que resultou em uma interessante e completa apresentação dele para meus leitores e leitoras. Neste momento eu gostaria de agradecer ao Márcio, com quem além da troca de mensagens pelo Facebook e pelo WhatsApp, tive a oportunidade de bater vários papos por telefone.
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