Faleceu hoje André Beer, cujo nome se confunde com a General Motors do Brasil. Tinha 87 anos — completaria 88 no dia 6 de janeiro — e trabalhou na GM 48 anos, dos quais muitos como vice-presidente. Era o último grande capitão da indústria automobilística vivo.
Estava hospitalizado há 42 dias e a causa de sua morte foi falência múltipla de órgãos causada por diabetes.
André tinha um sonho que sabia não poder ser realizado, ser presidente da GM do Brasil: esse cargo até pouco tempo era reservado a americanos
Ele era o comandante da GMB: praticamente todas as áreas — Engenharia, Vendas, Marketing, Compras, Produção, Recursos Humanos, Pós-vendas — estavam sob sua batuta. Mas em 1999, o presidente Frederick Henderson, americano, que havia chegado em maio de 1997, tirou-lhe o poder, e isso o abalou muito. O cargo foi mantido, mas teve as citadas áreas sob sua responsabilidade retiradas.
Conheci André Beer no começo dos anos 1980, quando começou minha fase jornalística em São Paulo. Mas só viria a conhecê-lo verdadeiramente ao ser admitido na GM em maio de 1997 — coincidentemente junto com o americano Henderson — para a área de imprensa como um dos dois gerentes.
Conversávamos muito. Sua visão de assistência técnica era ampla. Em 1998 criou o primeiro atendimento a clientes pela internet. Me ouvia, como quando do lançamento do Tigra a área de vendas decidira que somente parte da rede Chevrolet comercializaria o carro e lhe mostrei o absurdo de tal estratégia. Deu a contraordem.
Noutra ocasião, conversávamos em sua sala, deu hora do almoço e ele disse “Vamos comer um feijoada” (no refeitório da fábrica). Era novembro e eu lhe lembrei que depois de setembro não havia mais feijoada devido ao tempo mais quente. “Eu mando congelar, vamos almoçar!”
No Clube GM próximo à fábrica mandaram fazer um busto dele, em bronze, para ficar na entrada principal, dado o apoio dele àquela atividade de lazer dos funcionários. Quando o busto foi descerrado e ele viu, disse “Esse cara aí não sou eu!!!” Gargalhada geral! E era bem diferente mesmo…
Desse convívio aprendi muito com ele. Por exemplo, ele me ensinou que nos textos deve-se evitar ao máximo usar a palavra ‘não’ por ser negativo. Depois que contei isso o leitor ou leitor ou leitora pode notar como nos textos do AE ‘não’ é bem pouco usado.
Dizer que daria para escrever um livro sobre minha experiência com o André é exagero, mas que daria para escrever mais, sem dúvida.
Uma das coisas que soube dele era sua canção predileta: “New York, New York” com o cantor que você logo saberá qual.
Deixo esse vídeoclip aqui como homenagem ao André e que ele saiba, esteja onde estiver, que tenho uma enorme saudade dele.
Requiascat in pace, André. Você merece
BS
(Atualizada em 10/11/19 às 14h35 com informação da causa da morte)