O “buchanista” Marcos Prado, diretor de Trânsito de Curitiba nos idos de 1970, durante a primeira gestão do prefeito Jaime Lerner que, juntos, revolucionaram a cidade, escreveu um livro abordando o trânsito como um todo, citando as providências tomadas na sua excelente gestão em sua cidade.
Por uma questão de honestidade, cito-o, com saudade, pois já nos deixou, e permito-me citar aqui neste meu artigo trechos do seu utilíssimo livro, em seu capítulo “O acidente”, quando menciona a opinião médica desta “doença” chamada: Acidente de Trânsito.
Comecemos com a sua opinião abalizada quando escreveu;, “Os acidentes de trânsito estão, em nossos dias, substituindo, em face do número exagerado de óbitos, as grandes pragas da Idade Média, como a peste e a lepra”. Perfeita observação, face a sua justa revolta pela pouca importância dos responsáveis, em Brasília, em diminuir o nossos índices alarmantes de acidentes rodoviários.
E mais adiante prossegue citando o professor de Psiquiatria Jorge Malafaia quando aborda o problema sob o enfoque da psicologia. Entende que os fatores psicológicos dos tipos recalque, agressão, insegurança, depressão e desespero entram de forma mais do que evidentes nos acidentes de trânsito.Esta colocação levou aos exames psicotécnicos dos motoristas.
O interessante é que todas estas reações previstas pelo professor se enquadram, na realidade, nas reações da Emoção e Volição, componentes do Princípio do PIEV que nos comanda quando, comportando-nos como “primatas”, conduzimos um veículo.
Tinha razão, portanto, o lendário diretor de Trânsito de Nova York, Henry Barnes quando alertava: “ Trânsito é o povo em movimento”, querendo enfatizar que todas as medidas para ordená-lo devem ter como alvo o motorista.
No seu estudo o professor procura abordar três dos mecanismos mentais que intervêm no acidente:
a) A regressão ao narcisismo
b) Extravasamento do desejo de poder em busca do desconhecido
c) Necessidade de autoafirmação
A regressão ao narcisismo se demonstra pela exposição pessoal ao perigo.
A fuga da realidade, consequência de conflitos íntimos, se traduz por manobras perigosas.
A necessidade de autoafirmação, comum nos motoristas amadores, é fato marcante nos acidentes e de pessoa portadoras de grandes frustrações afetivas.
Todo fator que diminua a capacidade de reação do motorista favorece o acidente, a saber: a instabilidade, o uso de drogas ou álcool, cansaço, diminuição da audição, defeitos físicos ou mentais, idade avançada, etc
Eu, pessoalmente, no limiar de completar 94 anos, abandonei o volante. Não tenho mais os reflexos exigidos para o trânsito desorganizado de minha cidade, completamente à “matroca”. Nesta decisão, embora com a CNH em dia, aprovado nos exames periódicos,para renovação da mesma, atendi à regra básica do trânsito, em relação aos motorista: “conheça os seus limites”.
A ameaça, vinda de Brasília, de aumentar a periodicidade da verificação médica das condições de saúde do motorista, aumentando-a para 10 anos, é totalmente disparatada e, exagerando, criminosa.
O controle destas vulnerabilidades é o bloqueio da doença Acidentes de Trânsito.
A linguagem que o médico Samuel Barney utilizou na sua obra “Patologia Médica” nos dá um rumo a seguir copiando a medicina, devem ser estudados :
a) Fatores relacionados aos transmissores
b) Fatores relacionados com as fontes de infecção
c) Fatores relacionados com a infecção pelo homem.
d) Tratamento .
Resumindo o que acima foi dito está na frase. “No momento em que o automóvel estiver fora dos limites de controle de segurança.passa a ser o “vírus”, que combinado com o “primata” condicionado que o conduz, o seu comportamento, apenas controlado pelas suas reações de Emoção e de Volição, o acidente acontece e, convém enfatizar, raramente são acidentais.”
Cabe ao administrador do trânsito que faça jus a este honroso título, criar condições, eu diria comparando com a medicina, capazes de eliminar todos os sintomas aqui enumerados através uma sinalização correta,e um exame técnico sério das condições do veículo.
Infelizmente, uma administração que ignore o “vírus” motorista, não condicionando-o devidamente,atuando apenas por simulação em computador, não chegará a coisa alguma, uma vez que as simulações ignoram o principal “vírus”, um veículo mal conservado conduzido por um “primata” mal condicionado.
Sugere-se e, eu a utilizei com absoluto sucesso, como se faz no Primeiro Mundo, a observação das vias, em escala real, de 1:1, com o trânsito em movimento, tudo real, usando o helicóptero.
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente para o AUTOentusiastas sobre questões de trânsito