Claro que a minha paixão e interesse pelos motores nunca passaram despercebidas aos meus leitores. Já falei dos AP da VW e do motor que a Ford começou a produzir aqui para o Corcel na segunda metade dos anos 60 e que ficou em produção até meados dos anos 90. Fiquei pensando na importância e no fascínio que as pessoas têm pelos motores V-8. Por isso, resolvi relembrar um pouco do que tenho na memória dos V-8 que equiparam os carros nacionais, os da Ford e os da Chrysler..
O primeiro carro nacional com motor V-8 foi o Ford Galaxie 500, lançado no início de 1967. Era um V-8 de 4,5 litros que não se destacava pela potência máxima de 164 hp (cerca de 120 cv potência líquida, a utilizada hoje pela indústria) que gerava a baixas 4.400 rpm, mais sim pelo bom torque que vinha desde os baixíssimos giros. Esse motor derivava do motor V-8 utilizado pelos caminhões F-600 que eram produzidos aqui no Brasil desde o final dos anos 50. De projeto antigo, esse V-8 de 4,5 litros, ou 272 polegadas cúbicas, tinha características típicas para uso comercial: baixa potência, baixo número de rotações e torque elevado. Ideal para levar carga, mais que se deu muito bem no pesado e silencioso Galaxie de 1967.
No final dos anos 60 já inicio dos anos 70, esse motor teve sua cilindrada aumentada para 4,8 litros, ou 292 polegadas cúbicas, que elevou a potência máxima para 190 hp brutos, que em valores atuais poderia ser traduzido como cerca de 130 cv de potência líquida. Mas, o aumento substancial foi no torque máximo, nesse caso mais adequado ao primeiro câmbio automático de um carro brasileiro que chegou no LTD, uma versão mais sofisticada do Galaxie, no final de 1969. Esse LTD automático era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em cerca de 15 segundos e atingia até 150 km/h de velocidade máxima.
Esse V-8 de 4,8 litros equipou a família Galaxie/ LTD/ Landau, até meados dos anos 70, quando, aí sim, chegou o V-8 que marcou sua passagem aqui no Brasil: o famoso 302 V-8 bloco-pequeno de 4.942 cm³ (foto de abertura), um motor moderno na época, importado do Canadá, que desenvolvia 199 hp, que em números atuais de potência líquida poderia ser comparado a algo ao redor de 135 cv. O primeiro carro a receber o nervoso V-8 302 foi o Ford Maverick GT, lançado em agosto de 1973, na época um dos carros mais velozes do mercado nacional. O 302 era opcional no Ford Maverick 4-portas Luxo com o mesmo câmbio de quatro marchas com alavanca no assoalho do GT.
No início de 1974 a Ford trabalhou na homologação de uma versão mais potente desse motor para competições e que seria vendida nas concessionárias da marca na forma de kit para o proprietário que desejasse mais desempenho. O tal kit, era composto de um carburador quádruplo e respectivo coletor de admissão, um comando de válvulas para mais potência com molas de válvulas mais fortes, um jogo de juntas dos cabeçotes mais finas para aumentar a taxa de compressão e alguns outros detalhes necessários para a montagem do kit. Nessa configuração a potência líquida saltava para 180 cv.
Muitos donos de Maverick GT, compravam o kit e já o instalavam na própria concessionária, saindo com um GT que falava mais alto. Esse mesmo motor, na sua versão original, passou a equipar a família Galaxie, melhorando sobremaneira o desempenho dos confortáveis e pesadões sedãs e, acreditem, trazendo até melhora no consumo de gasolina. Esse motor 302 acompanhou os grandões Landau até o final de sua produção em 1983. ..Nos Maverick, o V-8 302 esteve presente enquanto o modelo foi produzido, no final dos anos 70. Chegou mesmo a haver uma versão a álcool
O excelente V-8 5,2-litros (318 polegadas cúbicas) da Chrysler, apareceu por aqui no Dodge Dart sedã 4-portas lançado no quarto trimestre de 1969. Desenvolvia cerca de 197 hp brutos na versão mansinha, ou 135 cv potência líquida. Os Dodge tinham ainda uma versão cupê, batizada de Charger, equipada com esse mesmo motor, mas escapamento duplo, melhorando a potência máxima para 205 hp, cerca de 140 cv nos dias de hoje.
O Dodge possuíam uma versão ainda mais nervosa do seu V-8 5,2: com taxa de compressão aumentada para 8:1 e escapamento duplo. Esse veoitão chegava a gerar 215 hp, cerca de 145 cv de hoje., aplicado no Dodge Charger R/T.
Os V-8 da Dodge, assim como os da Ford, eram robustos e duráveis, além de produzirem muita potência e torque quando preparados pelos especialistas. Um Maverick da antiga Equipe Hollywood, preparado em parte na Argentina pelo famoso preparador Oreste Berta, era alimentado por quatro carburadores Weber 48 IDA, cabeçotes especiais de alumínio Gurney-Weslake, americanos, e comando de válvulas especialmente desenvolvido para competições e um sistema de escapamento dimensionado para esse motor, que tinha uma potência de 450 cv.
Quem tinha um Maverick similar, com carroceria mais simples do que a ultra-elaborada do carro da Equipe Hollywood, mas com basicamente o mesmo motor de 450 cv e igual desempenho, era a Equipe Mercantil Finasa-Motorcraft , de Luiz Antônio Greco, representante oficial da Ford nas competições. Quem pilotou o carro na temporada de 1976 do Campeonato Brasileiro de Turismo Especial, a Divisão 3, foi o nosso Bob Sharp. Infelizmente o carro não tinha concorrente à altura, pois a Equipe Hollywood foi desfeita após a temporada anterior. “Corri praticamente sozinho em meio a alguns Mavericks e Opalas e a uma multidão de Fuscas D-3, mas mesmo assim me diverti um bocado,” contou-me o Bob na época, ao sagrar-se campeão brasileiro de Turismo Especial Brasileiro naquele ano. “Mas foi um título ‘oco’”,disse.
Foi mesmo uma boa época, em que se podia desfrutar da potência e suavidade desses V-8. Pena que a crise do petróleo de 1973 e a forte elevação do preço da gasolina tenha abreviado sua passagem no país.
DM
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