Nesta época de fim de ano eu publico mais um causo de meu livro “EU AMO FUSCA II – Uma Coletânea de Causos de Felizes Proprietários de Fusca”. Desta vez é o causo do Márcio Roberto Alves Araújo, de Goiânia, GO, cuja leitura certamente causará calafrios a muitos de vocês.
Feliz coincidência
Por Márcio Roberto Alves Araújo
A minha história aconteceu no dia em que fui fechar a compra de um Fusquinha 73. Eu trabalhava para o meu tio que era muito sovina. Eu andava a pé no sol quente de Goiânia, era um sofrimento só.
Um dia em que eu acho que a galinha criou dentes e o sargento Garcia conseguiu pegar o Zorro, meu tio me disse que estava pensando em me comprar um carrinho.
Fiquei me imaginando em um Golzinho bola com rodinhas, o sonho acabou quando ele perguntou se uns R$ 2.000,00 dariam para comprar alguma coisa. Em vez do Golzinho bola, imediatamente já me vi em um Fusquinha velho, mas estava ótimo, o importante era estar motorizado.
Já havia se passado um mês desde a ideia da compra do carro e eu já tinha visto vários carros, e o que tinha mais gostado e que dava para comprar era um Fusquinha 73, amarelo, de um mecânico perto da minha casa. Fechamos o negócio e marcamos de nos encontrar no Detran para a transferência do carro.
Levei o dinheiro comigo no bolso. Junto com o dinheiro que estava em um pequeno saco plástico, coloquei um papel com o número do bloco e o nome da seção onde me encontraria com o mecânico, dados esses que o próprio mecânico escreveu para mim.
Tínhamos marcado às 14:00 horas, e já eram 14h25; quando deu 14h35, mais ou menos, resolvi ligar para o mecânico, e me dirigi a um orelhão (foto ao lado). Chegando ao mesmo, tirei do meu bolso o pequeno embrulho com o dinheiro e o coloquei em cima do aparelho, tirei o cartão telefônico que estava no mesmo bolso e liguei para a oficina onde fui informado de que já havia quase uma hora que ele tinha saído para se encontrar comigo.
Agradeci e resolvi ir até o local onde se faz vistoria nos veículos para ver se o encontrava,. Chegando lá e não o encontrando, resolvi voltar. Foi quando minhas pernas bambearam e fiquei sem uma gota de sangue na face, coloquei as mãos no bolso e constatei que havia deixado o dinheiro em cima do orelhão.
Em questão de segundos passou pela minha cabeça a reação do meu tio ao saber que eu perdera seu precioso dinheiro. Como morava em Brasília antes de me mudar para Goiânia, já estava imaginando algum parente que poderia me aceitar por um tempo até meu tio se restabelecer do choque.
Tudo isso eu imaginava enquanto corria para a seção onde havia sido marcado o encontro. Chegando lá, a primeira pessoa que vi foi o mecânico, ele estava um pouco agitado, eu apenas dei uma olhada no orelhão, sem muita esperança de reaver o meu dinheiro, e constatei que o local estava limpo.
Estava totalmente abatido e disse ao mecânico que não iria mais se concretizar o negócio. Antes que eu expusesse o motivo, ele me pegou pelo ombro e me levou para um canto mais sossegado e me disse que estava me esperando sentado dentro da seção, e que já havia pegado uma senha e como eu não chegava ele foi telefonar para mim.
E para meu espanto, meus caros leitores, ele me disse que havia encontrado um pacote com uma soma razoável de dinheiro em cima do aparelho telefônico. Senti um misto de perplexidade, alívio e medo de que o mecânico não acreditasse na minha história, e nisso me deu um estalo.
Olhei para ele e disse para irmos transferir o carro que o mesmo já havia sido pago; ele fixou o olhar em mim achando estranha aquela conversa, foi então que pedi para ele olhar com mais atenção para o conteúdo do saco. Ele, com uma clara decepção no rosto, pegou o papel que ele mesmo havia escrito, com o número do bloco e a seção onde devíamos nos encontrar.
Expliquei o que havia ocorrido comigo, e ele, honesto como toda pessoa de bem deve ser, me entregou a chave do carro e nos dirigimos à seção de transferências.
Aproveito a oportunidade para desejar a todos um Feliz 2020, que este ano traga muitas matérias que sejam se seu interesse e que contem com os comentários de meus leitores e leitoras, como tem sido até agora.
Lembrando da missão de ir registrando causos novos, convido aos que tenham um para que o enviem para o e-mail: alexander.gromow@autoentusiastas.com.br . Ele será acrescentado ao acervo e poderá ser publicado nesta coluna.
AG
A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.