A segurança, o prazer e conforto de dirigir nos próximos anos por milhares de quilômetros serão determinados nesta escolha. É importante ter em mente vários fatores antes de tomar esta decisão.
Projeto do carro
Primeiramente é importante entender como a engenharia do fabricante determina o pneu que será utilizado como equipamento original. Usarei como exemplo um carro médio de uso geral, pois para esportivos, utilitários e veículos off-road os critérios podem variar devido sua utilização mais específica.
As dimensões do pneu são definidas já no início do projeto, pois são determinantes para escolher as relações de câmbio e diferencial. Nesta fase utiliza-se o diâmetro dinâmico de giro como base de comparação.
O tamanho e peso do veículo são outros fatores na escolha do índice de carga do pneu. O diâmetro do disco de freio irá ser o próximo fator limitante. Dificilmente é visto um carro onde entre a pinça de freio e a roda há grande espaço. Isso demonstra que foi escolhido o menor aro para aquele tamanho de freio.
Por um lado, as necessidades atuais de consumo de combustível e emissões de gases levam os engenheiros a utilizar o menor pneu possível, o que significa menor peso e inércia rotativa. Já os designers gostariam de utilizar os maiores conjuntos de rodas e pneus.
Com relação à largura do pneu, vários estudos são realizados para identificar qual o maior pneu que caberá dentro dos para-lamas dianteiro e traseiro, sem causar interferência com a carroceria. Na maioria dos casos é considerado o conjunto pneu+corrente, visto que em países onde existe a incidência de neve, o uso de corrente é obrigatório. É por isso que às vezes notamos que alguns carros poderiam ter adotado o pneu mais largo (p.ex: 225 em vez do 215).
Através de computadores de alta capacidade de processamento com software 3D específicos é possível visualizar potenciais pontos de contato entre pneu com carroceria. As deformações das buchas dos braços de controle da suspensão também entram nessa simulação computacional, assim como a própria deformação do pneu. Dessa maneira chega-se ao tamanho ideal de pneu para um determinado projeto. Todo esse estudo é posteriormente comprovado em testes físicos com os veículos protótipos.
Ao entender estes fatores já notamos que temos pouco espaço para alterar a dimensão original do pneu montado pelo fabricante. Existe uma abertura dada pelo próprio fabricante ao oferecer uma versão similar com um pneu um pouco mais largo em um aro maior, porém com o raio dinâmico similar. Evitam-se assim diferenças de indicação de velocímetro ou dados do computador de bordo e sem perder as características de desempenho do conjunto motor-câmbio.
Quando devo trocar os pneus do meu carro?
A Resolução nº 558 do Contran determina que ao ultrapassar a marca TWI (Tread Wear Indicator – Indicador de Desgaste da Banda) o pneu passa a ser considerado “careca”, e o agente de trânsito poderá multar e reter o veículo até que seja reparado. O mesmo se aplica ao pneu do estepe; O TWI indica profundidade de sulco mínima legal, que é de 1,6 mm
O senso comum entre especialistas dos fabricantes de automóveis e de pneus recomenda que a troca seja feita ao atingir 3 mm de profundidade de sulco. Nesta condição o pneu estará no seu limite de drenagem de água, essencial para reduzir ao máximo a possibilidade de aquaplanagem, quando o pneu perde contato com a pista, situação das mais perigosas..
Quantos pneus preciso trocar?
Considerando que os pneus afetam o aspecto visual e o desempenho do carro, todos os quatro pneus devem ser o mais idênticos possível, evitando problemas de estabilidade e, por que não, de aparência. Se os pneus não tiverem um bom casamento é possível que o veículo não responda como esperado nas diversas condições de uso.
Trocar um pneu
Infelizmente ao trafegar pelas ruas esburacadas deste país é possível ocorrer dano em apenas um pneu. Neste caso é altamente recomendado que o pneu seja substituído por outro de mesma marca, modelo e dimensão (atenção para que o limite de carga e de velocidade sejam idênticos). Mesmo que o outro similar seja mais barato, não é hora de fazer barganha e comprometer a segurança do automóvel.
Trocar um par de pneus
Se apenas um par de pneus tiver que ser trocado por ter atingido a profundidade de sulco mínima de 3 mm, estes devem ser substituídos por um par de pneus comparável aos outros dois que não serão trocados. Enquanto o ideal é utilizar pneus idênticos, muitas vezes somos obrigados a utilizar outro devido à descontinuidade de fabricação do antigo. Neste caso, pneus de mesma marca, tamanho e tipo podem prover bons resultados também.
Existe muito debate onde os pneus novos devem ser instalado. No AE existe o consenso de que a instalação recomendada é no eixo dianteiro, assunto que foi apresentado pelo Bob Sharp neste artigo, e aqui também pelo Daniel Araújo. O importante é nunca deixar o sulco com profundidade inferior a 3 mm.
Importante na troca de dois pneus é observar porque esses dois se desgastaram mais rapidamente dos que os outros. Isso pode ser causado pela falta de rodízio regular dos pneus. Outras causas desse desgaste pode ser um desalinhamento do sistema de direção ou alguma bucha ou componente da suspensão com desgaste prematuro que leva a desalinhamento também.
Tenha sempre em mente que o objetivo é ter um desgaste uniforme dos quatro pneus, de modo a fazer a troca do conjunto completo, os quatro ao mesmo tempo.
Se há algo de errado no carro, corrija para não sacrificar os novos pneus que estão sendo instalados. Um bom balanceamento e alinhamento também deve ser feito.
Trocar um jogo de 4 pneus
Se todos os pneus tiveram o desgaste uniforme e chegaram à profundidade mínima de sulco de 3 mm juntos, há uma maior flexibilidade para a escolha de novos pneus. Se os pneus originais agradaram, bingo! Basta comprar outro conjunto igual ou de mesma marca e aplicação equivalente, caso o modelo original tenha sido descontinuado.
Se o desejo é por um pneu que proporcione melhor consumo de combustível ou mais silencioso na rodagem ou com maior capacidade de grip no molhado, provavelmente deve existir esse pneu para escolha no mercado. Basta buscar nos sites de revendedores de pneus e compará-los através do selo de etiquetagem. Infelizmente o selo definido pelo Inmetro não é o melhor, pois faltou comparar os pneus quanto ao desgaste, como explicado pelo Boris Feldman aqui, mas é o que temos para comparar e já ajudará bastante.
Qual tamanho certo de pneu para meu carro?
Como engenheiro especializado na área eu diria que o pneu correto é aquele que veio montado no seu carro. Mas é possível alterar? Sim, tudo é possível, desde que preservada algumas características e tomado alguns cuidados.
Primeiramente deve-se assegurar que o pneu escolhido é capaz de suportar a carga do veículo. Não importa o quão bom seja o pneu escolhido, sua capacidade de carga deve ser no mínimo igual ao que veio instalado como equipamento original. Evite economia neste quesito.
Muitas funções dos carros atuais são gerenciadas pelos módulos eletrônicos de bordo e levam em consideração a velocidade do veículo. O diâmetro de giro do pneu está nessa equação de cálculo da velocidade. Portanto, é recomendável que o diâmetro de giro do novo pneu esteja dentro de uma margem de 2% de variação em relação ao original. Caso isso não seja atendido, além da alteração dos efeitos da geometria de direção, sistemas como ABS, controle de estabilidade, computadores de bordo, velocímetro, gerenciamento do motor e câmbio, quando automático, estarão com sua precisão de funcionamento e desempenho comprometidos.
No Brasil não precisamos utilizar correntes nos pneus em nenhuma parte do território, portanto, na maioria dos carros, temos espaço para instalar pneus até 20 mm mais largos sem riscos de acontecer interferências. Porém é importante fazer uma verificação do movimento da suspensão e direção para ter certeza que não há risco de interferências com áreas pontiagudas (ex.: parafusos) ou cortantes da carroceria.
Troca consciente
Ao trocar os quatro pneus utilize a flexibilidade de escolha para selecionar o melhor pneus para as suas condições de uso.
Se o perfil de condução é dirigir dentro do seu bairro e a viagem mais longa é ir até o supermercado no bairro vizinho, qualquer pneu atenderá esse requisito. Porém, se dirige pelas ruas congestionadas da cidade e utiliza avenidas e vias expressas nos horários de rush, será melhor servido por um pneu que tenha uma melhor resposta à tração, frenagem e direção. Se é daqueles que como eu, gosta de viagens longas, o melhor é escolher um pneu que o nível de ruído seja mais baixo. Agora, existe o gosto de dirigir rápido por estradas sinuosas, subindo e descendo serras, eu recomendo que busque um pneu com maior capacidade de grip.
Para quem gosta de ocasionalmente colocar o carro para dar umas voltas em autódromos (ex.: track day ou rali de regularidade), por que não ter um jogo de pneu esportivo montado em rodas de boa qualidade e guardados no canto da garagem para utilizar nessas situações? Seria muito melhor do que instalar pneus com características esportivas para utilizar no dia a dia e obter eventualmente o benefício de utilizá-lo na pista, porém ter o inconveniente de ruído e aspereza desses pneus o tempo todo.
Preço versus valor
Na hora de fazer a troca, o custo de um jogo de pneu assusta, porém se considerar o custo por km rodado o valor é muito mais baixo que o preço do combustível utilizado.
Carro |
Pneu | Custo do jogo de pneus | Km esperada | Custo por km | |
Onix 1,4-l |
185/65R15 | R$ 1.400 |
50.000 |
2,8 centavos |
R$ 0,028 |
HR-V | 215/55R17 | R$ 2.000 | 50.000 | 4,0 centavos |
R$ 0,04 |
A mesma analogia feita para custo de combustível por km rodado, considerando custo da gasolina de R$ 4,40/litro:
Carro |
Consumo médio |
Custo por km |
|
Onix 1,4-l |
13,7 km/l | 32 centavos | R$ 0,32 |
HR-V | 11,6 km/l | 38 centavos |
R$ 0,38 |
O custo do jogo de pneus é aproximadamente 10% do valor do combustível. A nossa percepção difere desse resultado pois o combustível pagamos de tanque em tanque, já o jogo de pneus pagamos a cada troca e isso acaba sendo mais sensível no bolso.
Concluindo
Na hora de decidir pela troca dos pneus, leve em consideração tudo que foi exposto aqui, e se a escolha for por um pneu mais caro que outro que aparece como segunda opção, faça a avaliação do custo por quilômetro e verá que a diferença pode ser insignificante.
Se o plano é ficar com o carro por mais um tempo e consequentemente rodar mais 40-50 mil quilômetros nos próximos 2-3 anos, a diferença será de 1-2 centavos por quilômetro. Faz sentido economizar R$ 400 hoje e não ter o pneu “perfeito” no carro? Pense bem!
GB