Pode parecer estranho, mas um câmbio automático em um Brucutu feito para terrenos ruins, como o Troller, tem suas vantagens.
Desde que a Ford refez o projeto do Troller (cuja fábrica em Horizonte, CE, foi comprada em 2007), o jipão seguia sem novidades. Veículo de nicho, focando fanáticos pelo fora-de-estrada, em 2014 o Troller apareceu totalmente reformulado, usando toda a mecânica da Ranger, inclusive o chassi, que foi encurtado.
O motor é o Duratorq Diesel cinco-cilindros 3.2 (de 200 cv e 47,4 m·kgf de torque) e o câmbio sempre foi manual de cinco marchas, tudo herdado da picape Ranger.
Na época da compra da fábrica, 13 anos atrás, era claro o interesse pela marca e fábrica por uma questão fiscal, já que as instalações no Nordeste tinha maiores incentivos, extensivos a outras fábricas da Ford. Mesmo assim, a Ford primeiro reformulou a fabricação e processos industriais, colocando uma verdadeira linha de montagem para melhorar qualidade e reduzir custos de produção. A mecânica da Ranger também foi outra solução lógica e por isso o jipão com carroceria de compósito de fibra de vidro (com peças moldadas a quente) foi todo reprojetado para encaixar no chassi da Ranger encurtado e reforçado. E surgiu o modelo atual, seis anos atrás.
Com tudo isso, o Troller continua veículo de nicho, vendendo uma média de 1.500 unidades anuais. Como prova de sua especialização em terra, lama e terrenos ruins, pesquisa da Ford entre os proprietários revela que ele trafega no asfalto em apenas 5% de sua utilização.
Por isso, o fabricante resolveu democratizar um pouco seu uso, lançando o TX4, modelo com câmbio automático.
Segundo o Marketing, isso permitirá que ele concorra também com suvess e picapes 4×4. Não me parece real: suvess estão cada vez mais para Shoppings do que para a lama, e quem usa picapes na agricultura precisa de caçamba e maior capacidade de carga.
Mas a Ford criou todo um pacote de equipamentos para o novo TX4 para torná-lo mais atraente também para quem explora caminhos radicais. Inclusive para justificar seu preço de R$167.530. O modelo com câmbio manual começa em R$ 141.800, mas pode chegar a R$ 174.800 com vários equipamentos da própria marca, e boa parte deles já virão de série no TX4. Além do câmbio automático, o novo Troller traz para-choques metálicos com melhores ângulos de entrada e saída, além de uma série de detalhes estéticos e utilidades, inclusive uma central multimídia de 7″. Rodas também são especiais, usando os pneus Pirelli Scorpion 245/70R17. Detalhe: esse pneu é voltado 80% para o uso off-road e apenas 20% para o asfalto. Tem excelente tração em terra, lama e areia.
O TX4 sempre será bicolor, com algumas cores combinando sempre com o azul Naval, o que resulta em combinações estranhas, como é o caso do marrom e azul, o visual de lançamento.
O câmbio da Ranger tem uma relação final diferente do usado na picape, mas com o automático esta relação do Troller ficou cerca de 12% mais longa, comparada com o câmbio manual, E, claro, o câmbio do jipão tem uma programação de gerenciamento eletrônico diferente da usada na picape.
Ficou muito bom de cruzar no asfalto, chega a ser bem rápido, mas exige adaptação e uma tocada diferente. A direção tem assistência hidráulica, que aguenta maiores pancadas e mantém maior sensibilidade no volante sobre o que ocorre com as rodas dianteiras, tudo fundamental em terrenos difíceis. Porém, no asfalto, há bastante inclinação da carroceria em curvas e os pneus mais voltados para o off-road cobram seu preço. Eles “dobram” bastante e é preciso entrar “antes” na curva. Ou seja, com maior velocidade no asfalto você vira o volante, os pneus têm resposta lenta para só depois o Troller começa a fazer a curva. Claro, dá para andar rápido, mas é preciso lembrar que para corrigir uma possível derrapagem as manobras ficarão um pouco em câmera lenta, com reações bem demoradas. Mas, a tração 4×4 ajuda muito e para “atravessar” numa curva é preciso fazer muita bobagem.
Por outro lado, o novo câmbio automático do TX4 traz vantagens em algumas situações do fora-de-estrada.
“Pera aí”, não me xingue ainda. Sou um adepto do câmbio manual mas… senta, que lá vem história.
O câmbio automático e o off-road
Mais de uma década atrás, fui convidado pela Chrysler, na qualidade de publisher da revista Oficina Mecänica, para fazer a Trilha Rubicon com o Jeep Wrangler. Suas 22 milhas (35,4 km) formam a única trilha americana com grau 10 de dificuldade em toda sua extensão, uma trilha totalmente rochosa. E a escala é de 0 a 10.
São dois dias escalando pedra na Sierra Nevada, Califórnia, próximo do Lago Tahoe. O primeiro aviso é simples “:Está com pressa, vá a pé,” Dá para fazer em dia. De Jeep são dois dias, dormindo em um acampamento no meio da trilha. Chegando à trilha, fiquei revoltado, pois todos os Jeeps tinha câmbio automático. Um personagem que parecia ter fugido de alguma história em quadrinhos (macacão de jeans, botinas e barba pela cintura) me pegou e levou para baixo de uma árrvore. Era um dos guias e inclusive morava num rancho na beira do Rubicon há mais de 20 anos.
Disse que no início, quando a fabricante colocou essa trilha com parte do Jeep Jamboree (um conjunto de trilhas demarcadas em todo os Estados Unidos) havia Jeep com câmbio manual no Rubicon. Com calma, ele explicava: nem o Jeep e nem o piloto aguentavam. A velocidade média escalando todas aquelas rochas era de 1.6 km/h, sempre em reduzida, e mesmo assim era necessário “carregar”o jipinho na embreagem em quase todos os obstáculos.
A capacidade off-road do Troller sempre foi apreciada
A perna esquerda não aguentava e também a própria embreagem, que tinha seu disco torrado em poucos quilômetros. Com o câmbio automático, o conversor de torque funciona como um “acumulador de energia” e se pode dirigir em marcha-lenta, centímetro por centímetro, sem que o motor apague. Depois de uma meia hora na trilha, o guia voltou a falar comigo: “Daria para passar com um câmbio manual?” Concordei com ele, que me disse: “olha a quilometragem no velocímetro”. O jipinho tinha cerca de 100 mil milhas rodadas (160 mil km), toda esta distância feita no Rubicon, rodando apenas 11 milhas por dia. Segundo ele, aqueles Wrangler vinham 0-km para o Rubicon e morriam com mais de 100 mil milhas sem ter problemas de câmbio.
Sim, aquilo mudou minha opinião sobre câmbio automático em trilhas. Quanto maior a dificuldade, maiores as vantagens do câmbio automático, desde que se saiba como usar. E, nas trilhas do Campo de Provas da Ford em Tatuí (que infelizmente está com baixíssimo uso), o Troller TX4 comprovou o que experimentei anos atrás no Rubicon. O câmbio automático é muito bom no fora-de-estrada, principalmente em situações difíceis, e você se concentra naquilo que interessa: qual a melhor forma de vencer aquele obstáculo e onde as rodas estão passando.
Por isso, a chegada do câmbio automático epicicloidal de seis marchas se torna uma interessante opção, mesmo para os amantes do off-road pesado.
JS
FICHA TÉCNICA TROLLER TX4 AUTOMÁTICO | |
MOTOR | |
Denominação | Ford Duratorq 3,2 L 20V Diesel |
Descrição | Diesel 5 cilindros em linha, longitudinal, bloco e cabeçote de ferro fundido, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 5 válvulas por cilindro, turbocompressor de geometria variável com interresfriador, injeção direta, combustível diesel S-10 |
Cilindrada (cm³( | 3.198 |
Diâmetro e curso (mm) | 89.9 x 100,76 |
Taxa de compressão (:1) | 15,5 |
Potência (cv/rpm) | 200 / 3.000 |
Torque (m·kgf/rpm) | 47,9 / 1.750~2.000 |
Rotação máxima (rpm) | 4.800 +/- 50 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Ford Getrag ¨6R80, automático epicíclico, 6 marchas à frente e ré, conversor de torque, três modos de condução (Drive,Sport. Manual), tração 4×4 temporária com reduzida, diferencial traseiro autobloqueante |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,171 – 2ª 2,342 – 3ª 1,521 – 4ª 1,143 – 5ª 0,867 – 6ª 0,691 – Ré 3,400 |
Relação dos diferenciais (:1) | 3,73 |
Relações da caixa de transferência (:1) | 1,00 e 2,72 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira e traseira | Eixo rígido, mola helicoidal, dois tensores longitudinais, barra Panhard, amortecedor hidráulico e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Setor e sem-fim, assistência hidráulica |
FREIOS | |
Configuração | Servoassistido a vácuo com bomba dedicada, duplo circuito hidráulico dianteiro/traseiro, ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 302 |
Traseiros (Ø mm) | Disco / 305 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 8×17 |
Pneus | 245/70R17 (20% on-road. 80% off-road) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Carroceria sobre chassi de longarinas de perfil retangular, carroceria em compósito de fibra de vidro moldado, duas portas mais porta traseira de carga, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento/largura com espelhos/altura | 4.163/1.992/1.936 |
Distância entre eixos | 2.585 |
Vão livre do solo sob os eixos | 227 (dianteiro) e 208 (traseiro) |
Vão livre do solo entre os eixos | 316 |
CAPACIDADES OFF-ROAD | |
Ângulos de entrada/saída (º) | 53 / 50 |
Ângulo de transposição de rampa (º) | 30 |
Inclinação lateral máxima (º) | 40 |
Profundidade de vau (mm) | 800 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 149 (835 com o banco traseiro rebatido) |
Tanque de combustível | 62 |
DESEMPENHO | n.d |
CONSUMO INMETRO PBEV | n.d. |
PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DO TROLLER TX4 AUTOMÁTICO |
Abertura/fechamento global de portas e vidros com controle remoto |
Acabamento do assoalho em borracha (lavável com escoamento |
Acionamento eletrônico da tração e reduzida através de seletor no console central |
Ajuste de altura do volante de direção |
Alarme volumétrico com acionamento a distância |
Alto-falantes de 6 polegadas dianteiros e traseiros |
Ar-condicionado automático/digital bizona |
Aviso sonoro de de cinto de segurança do motorista desatado |
Aviso sonoro de faróis acesos |
Bagageiro de teto com barras transversais ajustáveis |
Banco traseiro rebatível 60:40 e escamoteável |
Bancos revestidos de vinil |
Chave-canivete |
Cinto de segurança de três pontos para todos os ocupantes |
Computador de bordo com 7 funções |
Console central com porta-objetos e porta-copos |
Console no teto com luz de leitura |
Engates Isofix para dois bancos infantis |
Estepe na porta de carga |
Imobilizador de motor PATS |
Lanternas traseiras em LED hermeticamente seladas |
Painel com pré-disposição para instalação de dispositivos de navegação off-road |
Retrovisores externos com ajuste elétrico |
Sistema de som multimídia JBL Harman, Smart CarDrive, tela LCD de 6,75”, rádio AM/FM, entrada USB, Bluetooth, conectividade via Android Auto e Apple CarPlay |
Suporte para gancho de reboque traseiro removível |
Teto solar panorâmico dianteiro e traseiro |
Tomada de força 12 V no painel de instrumentos |
Trava elétrica das portas laterais e de carga |
Travamento elétrico da portinhola do bocal de abastecimento de combustível |
Vidros elétricos, subida/descida a um toque com antiesmagamento (motorista e |
EXCLUSIVO DO TX4 |
Acendimento automático dos faróis |
Capô e teto na cor azul Naval |
Diferencial traseiro autobloqueante |
Estribos laterais off-road na cor azul Naval |
Faixas laterais TX4 |
Faróis auxiliares de LED submersíveis Hella (2.000 lm) |
Faróis principais com lâmpada superbranca – Blue Vision Plus |
Interior com acabamento exclusivo |
Para-choque dianteiro com base para guincho |
Para-choques dianteiro e traseiro off-road na cor azul Naval |
Pontos de ancoragem dianteiros e traseiros para ganchos do tipo manilha |
Pontos de encaixe para macaco do tipo Hi-Lift Jack |
Protetor frontal off-road em aço |
Snorkel na cor azul Naval |