A crise no mercado automobilístico vai chegar, e não será pequena. Quem garante não sou eu, mas quem entende bem do assunto. Segundo estudo da Bright Consulting publicado pelo site Automotive Business, a produção de veículos leves neste ano deve cair 4% em relação a 2019. Antes da pandemia do novo coronavírus, a previsão dos fabricantes era um crescimento de 7%. Ou seja, uma gigantesca diferença de 11 pontos percentuais.
E pode se preparar porque os efeitos da Covid-19 não ficarão restritos a esse setor. A previsão do PIB do Brasil para 2020 também foi para o espaço. Em janeiro, comemorava-se um crescimento projetado de 2,31%, de acordo com o Boletim Focus. Agora os economistas já dão como certo o encolhimento da economia, que varia de 0% a uma pessimista queda de 7,7%. Só para ter uma ideia do que seria essa tragédia, no pior momento da economia dos últimos 30 anos a maior queda do PIB foi de 3,55%, em 2015.
Já que a crise é inevitável, será que dá para reduzir seu impacto? Como se preparar para o que vem pela frente? Várias empresas do setor mostram que o segredo está na criatividade, buscando ideias que ajudam a minimizar os prejuízos e, principalmente, apostando em ações de marketing para manter a marca conectada com seu público potencial, que poderá voltar a consumi-la em tempos de normalidade. Afinal, um dia essa crise acaba.
Que tal fazer test drive em casa?
Cada empresa encontrou seu jeito de fazer as coisas. É o caso da Caoa Chery, que criou um programa de test drive na casa do cliente. O interessado só precisa ligar para o 0800 e, no horário e local agendado, um funcionário treinado para seguir procedimentos de saúde levará o veículo devidamente higienizado.
Para sermos justos, devemos lembrar que outra fabricante teve essa sacada antes: a Renault fez uma parceria com o aplicativo de entregas Rappi em março de 2019 para um serviço semelhante. Mas há algumas diferenças. O programa da Renault era um projeto-piloto restrito a duas concessionárias. Já a ação da Caoa é uma adaptação ao cenário da crise para enfrentar a fuga dos clientes que têm medo de serem contaminados ao ir a uma concessionária.
Para outras marcas, a extensão do prazo de revisão e da garantia de fábrica foi seu modo de entender a situação excepcional do mercado atual e dar uma mãozinha ao consumidor que não pode ou não quer levar seu carro à concessionária. BMW, GM, FCA, Hyundai, Kia, Nissan e Peugeot ampliaram seus prazos, variando de um mês ou 1.200 km até três meses ou 3.000 km.
Fábrica vai consertar aparelho médico
A GM foi ainda mais longe. Encabeçou uma força-tarefa em conjunto com o Ministério da Economia e o Senai para reparar respiradores mecânicos, equipamento tão necessário nas UTIs que recebem os pacientes mais graves do novo coronavírus. Os 3.000 aparelhos inoperantes serão enviados às cinco unidades fabris da GM em três estados (São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), serão consertados e depois devolvidos aos hospitais. A ação segue a lógica de outras empresas na Europa e EUA. Por lá, Ford, GM, Jaguar Land Rover, Rolls-Royce e Tesla se mobilizaram para produzir os respiradores mecânicos.
Você deve se perguntar agora como estas últimas ações ajudarão a manter o dinheiro entrando se não atingem seu público nem retornam em vendas. A resposta é simples: branding. Para quem não conhece o termo, é a gestão de uma marca com o objetivo de torná-la mais conhecida e desejada na cabeça dos consumidores.
Novo logotipo e desenhos para colorir
Foi pensando nisso que duas empresas do setor tiveram ideias que não pesam no bolso e fazem com que o público continue pensando nelas neste momento em que todos estão em casa na sua quarentena (autoimposta ou não).
A mais conhecida foi a do Grupo Volkswagen, que mexeu em algo que nenhum publicitário tem permissão para alterar numa campanha de marketing: modificou os logotipos de duas de suas marcas. No símbolo da Volkswagen, as letras V e W foram separadas, assim como as quatro argolas entrelaçadas da Audi foram afastadas. Tudo para reforçar a importância do isolamento social a fim de evitar a transmissão do vírus.
Já o designer britânico Ian Callum, que trabalhou para Jaguar e Aston Martin e hoje tem um estúdio independente, optou por um caminho um pouco mais divertido. Ele divulgou desenhos para colorir do Aston Martin Vanquish 25 em cenários diferentes e convidou as crianças em quarentena a publicar seus trabalhos nas redes sociais. E mais: vai escolher e premiar as melhores obras.
Fórmula 1 de mentirinha
Nenhum desafio, porém, é maior do que o da Fórmula 1. Imagine o problemão que os organizadores têm na mão: todo o negócio gira em torno das corridas, mas a pandemia da Covid-19 obrigou ao adiamento de seis provas e ao cancelamento do GP de Mônaco (é a primeira vez desde 1954 que não haverá a corrida). Assim, a temporada só começará em junho. E o que fazer até lá para manter os fãs ligados no esporte?
A alternativa veio na forma de corridas virtuais. A FIA organizou um campeonato de videogame que terá como cenário os mesmos carros e os circuitos que tiveram as provas canceladas. Terá ainda a participação de pilotos de verdade, tanto da F-1 quanto de outras categorias. Segundo a organização, a iniciativa foi positiva. A primeira prova, o GP Virtual do Bahrein (foto de abertura), teve 350.000 visualizações em tempo real. É uma boa audiência considerando que a corrida real de 2019 teve 711.000 espectadores na rede ESPN. E o melhor é o perfil dessa audiência: 80% do público de esportes virtuais estão abaixo dos 35 anos. Uma boa notícia para um esporte que sofre há anos com o envelhecimento do seu público
Como se viu, para algumas marcas o aperto na economia de modo algum significa uma crise nas ideias.
ZC
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