Mesmo levando em conta que o desempenho real dos carros de F-1 da safra 2020 só serão conhecidos nos treinos do GP da Austrália, dentro de 13 dias, as duas sessões de testes pré-temporada serviram para lançar alguma luz sobre o que se poderá ver este ano. Há de se considerar que condições meteorológicas longe do ideal, incluindo chuva e ventos frios, podem ter mascarado problemas de arrefecimento que ficarão evidentes no GP da Austrália, que será realizado no final do verão do hemisfério sul. Os organizadores da prova já confirmaram que a despeito do temor espalhado pela epidemia do Codiv-19, o evento será realizado conforme previsto.
Não resta dúvida de que a equipe Mercedes segue sendo o parâmetro: entre os cinco primeiros colocados o primeiro e o quinto foram pilotos do time alemão — Bottas (foto de abertura) e Hamilton, respectivamente com 1’15”732/437 voltas e 1’16”410 e 466 voltas completadas pelo hexacampeão. Sempre dentro das ressalvas características desta fase da temporada, notar um carro da Racing Point em sétimo lugar, à frente de um McLaren e um Williams, fechando o pelotão dos 10 primeiros, são fatos dignos de nota.
Um parâmetro interessante para se analisar os testes de pré-temporada é o número de voltas completados por cada piloto e por cada equipe e a progressão feita entre a primeira e a segunda semana. Novamente sob esta ótica, a Mercedes mostrou-se a mais eficiente no total de voltas percorridas (903) e na primeira fase (354) dos testes. Na segunda registrou 409 giros e ficou atrás da Ferrari (490), Williams (413) e Racing Point (411). O fato de ver os motores alemães rodando firme na segunda fase mitigam a impressão de baixa fiabilidade criada pelas panes registradas nas máquinas dessas escuderias. As panes seguidas registradas nessas máquinas de concepção variadas parecem mais ligadas a falhas de projeto no que diz respeito ao arrefecimento e instalação.
Valtteri Bottas garantiu a melhor volta das duas sessões de treino (1’15”732 e 1’16”196, respectivamente) sempre com os compostos mais macios dentre os disponibilizados pela Pirelli, o C5. Hamilton, por sua vez, foi o mais fominha da pré-temporada: percorreu os 4.655 metros de Barcelona nada menos de 466 vezes, equivalente a sete GPs no traçado catalão. Tal qual a maioria das equipes, eles dividiram um único carro nessa fase de preparação.
Ainda que abaixo do rendimento da Mercedes, o saldo das equipes clientes da marca foi igualmente positivo: Sérgio Pérez foi o sétimo mais rápido no cômputo das duas sessões de treinos (1’16”643, 441 voltas), ao passo que o canadense Lance Stroll chegou a 1‘17”118 e deu 341 voltas. George Russell mostrou seu valor ao colocar o seu Williams na décima posição entre os mais rápidos (1’16”871, 394 voltas), sete posições à frente do seu companheiro de equipe, o canadense Nicholas Latifi (1’17”313, 343 voltas).
Se a quilometragem indica resistência, quando o plano de trabalho indica a necessidade de avaliá-la e os diferentes conceitos, a solução mais óbvia é escalar um piloto para trabalhar em busca do rendimento ideal — o que implica fazer várias séries de curta duração —, e outro para rodar bastante. Esta foi a base de trabalho da equipe Red Bull onde Max Verstappen e Alex Albon trabalharam em frentes diferentes: o holandês marcou seus melhores tempos com os compostos C5 e Albon mostrou seu talento rodando com compostos C2, praticamente os mais duráveis…e duros. Verstappen obteve 1’16”269 na melhor de suas 414 voltas, enquanto o anglo-tailandês foi cronometrado em 1’17”550 na passagem mais eficiente dos 366 giros que completou. A segunda equipe com motor Honda, a Alpha Tauri (novo nome da Toro Rosso), Daniil Kvyat foi melhor (11º, 1’16”914, 399 voltas) que Pierre Gasly (14º, 1’17”066, 370 voltas)
Na Renault os ares parecem mais animadores após uma temporada abaixo do esperado e a explicação para isso é que tanto a equipe oficial quanto a cliente (McLaren) usaram um único motor cada uma durante as sessões de testes. Prova irrefutável de resistência é o total de voltas completadas por ambas escuderias (802 para a McLaren e 737 para a Renault) e as palavras de Cyril Abiteboul ao final dos trabalhos em Barcelona: “Podemos dizer que estamos muito satisfeitos com a confiabilidade dos nossos motores e com o desempenho obtido, em linha com as nossas expectativas. São sinais positivos para o nosso ambicioso plano de desenvolvido para esta temporada. Ainda é cedo para dizer onde estamos com relação aos concorrentes do meio do pelotão, mas estamos ansiosos para alinhar em Melbourne.”
Andreas Seidl, chefe de equipe da McLaren, mencionou que o “teste de Barcelona foi um dos melhores da McLaren no passado recente e a alta confiabilidade do nosso carro permitiu completar nossa agenda de trabalho e coletar uma boa quantidade de dados para análise.” Daniel Ricciardo foi o mais rápido entre os pilotos com carros impulsionados pelo V-6 francês e marcou o terceiro tempo da pré-temporada (1’16”276, 367 voltas), enquanto Estebán Ocón foi o sexto (1’16”433, 370 voltas), Carlos Sainz ficou em oitavo (1’16”820, 446 voltas) e Lando Norris foi o 21º (1’17”573, 356 voltas).
Na frente Ferrari os resultados foram menos entusiasmantes, o que já deu motivos para comentários de que a Scuderia poderia adotar uma tática de reduzir o desenvolvimento do seu modelo para esta temporada e concentrar seus esforço e orçamento no carro para 2021, quando o regulamento será bastante alterado, algo que pode ser considerado uma nova demonstração do folclore que envolve a equipe italiana. Charles Leclerc ficou em quarto lugar no cômputo das duas sessões de testes (1’16”360, 442 voltas) e Sebastian Vettel foi apenas o nono colocado (1’16”841, 402 voltas). Na primeira semana de testes os dois ficaram abaixo da média de voltas completada pelos 21 pilotos que participaram de tal sessão.
A Haas e a Alfa Romeo, que usam boa parte de seus sistemas mecânicos fornecidos pela Ferrari, ficaram abaixo das expectativas. Ironicamente foi o piloto de testes dessa última, o polonês Robert Kubica, o responsável pelo melhor tempo desse pelotão complementar: décimo-segundo classificado, com a marca de 1’1’16”942, contra 1’17”091 de Kimi Räikkönen (15º, 300 voltas) e 1’17”649 de Antonio Giovinazzi (18º, 240 voltas). Os pilotos da Haas tiveram rendimentos opostos: Romain Grosjean foi o 13º (1’17”037, 399 voltas) e Kevin Magnussen, o 19º (1’17”495, 250 voltas).
WG