Caro leitor ou leitora,
É com grande prazer que anuncio a chegada de Zeca Chaves — pseudônimo profissional, seu nome completo é José Carlos Chaves —, um dos maiores nomes do jornalismo automobilístico brasileiro, ao quadro de colunistas do AE.
Conheci-o como meu colega na minha segunda passagem pela revista Quatro Rodas como colunista entre 2003 e 2008, e desde então sempre admirei sua competência. Por isso, quando após 19 anos ele deixou a revista, convidei-o para integrar o time do AE e fiquei feliz por ele ter aceito o convite.
Ele estreia hoje sua coluna “Panorama” e tenho certeza de que será um sucesso.
Bem-vindo ao time do AE, Zeca!
Bob Sharp
Editor-chefe
POR QUE A VOLKSWAGEN SE TORNARÁ LÍDER ESTE ANO
Quando o Virtus foi lançado, lembro bem da discussão que tomou conta da redação da Quatro Rodas. Era janeiro de 2018 e na época eu dirigia a revista. A polêmica era por que a Volkswagen afirmara que a versão topo de linha Highline teria baixa participação no mix de vendas. A redação discordava: o painel digital (opcional da Highline) tinha potencial para fazer o sedã disparar. E foi o que ocorreu. Na estreia do T-Cross, a avaliação da redação cravou que o suve tinha grande chances de chegar à liderança do segmento. Dito e certo!
Sabe qual é agora o novo comentário que ouço de alguns colegas da mídia especializada? Que logo a Volkswagen alcançará a liderança do mercado brasileiro, o que não acontece desde 2000. Concordo com essa análise. E, por favor, não me acusem de ser fã da marca. Essa conclusão nada tem de emocional. É só uma leitura racional do mercado, baseada em três aspectos, que explico a seguir.
1) Crescimento recente das vendas
Analisando o quadro acima, é fácil ver como a Volkswagen cresce muito mais do que a GM, atual líder. O gráfico detalha a participação dos principais fabricantes no acumulado de vendas no ano, entre automóveis e comerciais leves, segundo a Fenabrave. A variação é a cada seis meses, menos no último item, que só tem o acumulado até fevereiro de 2020.
Vamos fazer agora um exercício de imaginação e projetar as linhas até fim deste ano seguindo o ritmo de avanço de cada uma. Enquanto a GM tem no acumulado de fevereiro quase a mesma participação que já tinha em dezembro de 2017, a VW não parou de crescer nos últimos dois anos. Se não houver uma grande alteração no atual cenário, veremos a VW como líder de mercado em alguns meses de 2020, fechando o acumulado do ano bem perto da fabricante americana. Ou até mesmo conseguindo ultrapassá-la. Já em 2021 certamente ela levará o título.
2) Ausência de grandes ameaças na concorrência
Claro que a projeção do gráfico acima pode mudar em função da chegada de carros que ameacem a VW e favoreçam a GM. Mas, olhando para as grandes estreias de 2020, isso dificilmente deve acontecer.
O primeiro grande lançamento é a nova Fiat Strada, agora em abril. Essa estreia deve no máximo pode tirar alguns compradores da Saveiro, que é apenas o quarto modelo mais vendido da marca e hoje já está bem atrás da picape da Fiat (6.443 contra 10.609).
O segundo é a nova versão do Tracker, que chega também em abril. Este é um suve que, apesar do ótimo custo-benefício e de sempre ter vencido comparativos da imprensa especializada, nunca decolou nas vendas, mesmo nas gerações anteriores. É um nome que não pegou no Brasil. Além disso, a GM tem mostrado grande dificuldade de emplacar veículos de segmentos superiores nos últimos anos. Ela só consegue vender bem a família de entrada Onix. Mas a razão disso eu explico direitinho numa próxima coluna.
Outro grande lançamento do ano será a nova geração do Peugeot 208, que promete ser um belíssimo projeto, especialmente pelo design. Ele pode até roubar alguns interessados do Polo, mas não passa disso, já que compradores de VW e Peugeot costumam ter perfis bem diferentes. E fontes dentro da marca dizem que o hatch deve ser lançado inicialmente só com o mesmo 1,6 aspirado que já existe hoje, o que vai reduzir seu potencial de dano.
Do lado da GM, nenhum grande perigo à vista. Entre os lançamentos com grande força de vendas, temos mesmo só o já comentado Tracker. E no único Chevrolet que vende de fato (e vende muito!), a família Onix, a tendência é haver uma pequena redução nas vendas. De um lado, porque começar reduzir agora aquela grande empolgação que houve no lançamento. Do outro, porque a GM anunciou em março um aumento de preços de até R$ 2.870 em todas as versões. Considerando que é a linha de entrada da GM, isso pode ter um efeito considerável nas vendas.
3) Lançamento do Nivus
Já está confirmado para o início de maio o lançamento do Nivus, aquele que será o suve (ou pelo menos assim será vendido) mais barato da Volkswagen.
Agora é hora de fazer outro exercício de dedução. Se o T-Cross, que é reconhecidamente caro, foi o sucesso que vimos (9º carro mais vendido do país e líder dos suves em fevereiro), o que devemos esperar de um modelo que custará menos, teve seu design a cargo da equipe brasileira (ele terá estilo cupê) e virá com painel digital de série?
Isso quer dizer que o Nivus tem o potencial para abocanhar uma nova fatia do mercado e aumentar o tamanho do bolo da VW. Numa história muito parecida como eu vi naquele distante janeiro de 2018.
ZC
Zeca Chaves escreve a coluna “Panorama” no AE quinzenalmente às sextas-feiras.