Um Toyota Corolla com três motores, um a combustão e dois elétricos, é o carro “bola da vez” do Teste de 30 Dias do AE. Lançado no Brasil em setembro passado, este novo Corolla pertence à 12ª geração dos sedãs que lideram o segmento no Brasil e que, de quebra, é o modelo de carro mais vendido do planeta, tendo superado a respeitabilíssima marca de 46 milhões de unidades desde o lançamento, em 1966.
Fortemente renovada mas sem perder de vista sua identidade, esta nova geração dos Corolla traz grandes atualizações, e é exatamente este modelo híbrido que ora testamos o mais inovador. Carros que se valem de motores elétricos associados aos convencionais, de combustão interna, são quase um patrimônio da Toyota. Pode se dizer que através do Prius tal tecnologia se popularizou mundo afora. Porém, a este Corolla ora estacionado em minha garagem, cabe uma primazia: trata-se do primeiro híbrido equipado com um motor “flex” do planeta, veículo que pode se mover usando eletricidade, álcool ou gasolina. Trata-se de um Corolla exclusivo para o Brasil, “made in Indaiatuba”, no interior do Estado de São Paulo, onde o conjunto motriz made in Japan é agregado ao sedã de sucesso incontestável.
Em agosto de 2017 fiz um Teste de 30 Dias como o Toyota Prius, que você pode ler AQUI. Gostei muito, bem mais do que supunha poder gostar de um sedã com cara de espaçonave e desempenho morno no que tange a acelerações e retomadas. Mas o “gostei” que concedi ao Prius logicamente não se deu por conta de um aspecto que me é muito caro, e que sempre norteou minhas escolhas automobilísticas: a esportividade.
Nesse item Prius é quase um zero a esquerda, mas mesmo assim ele me cativou, substituindo a emoção pela brutal eficiência, capaz de entregar consumo recorde de 27 km/l e uma média global de 16,3 km/l em quase 1.700 km rodados “fifty-fifty”, cidade e rodovia. Sinceramente, foi de bem pouca coisa que não gostei no Prius.
Agora estamos com este Corolla “priurizado”, que se vale de praticamente a mesma mecânica e estrutura. Custa R$ 138.240,00 pois tem R$ 9.250 de opcionais, entre os quais o mais relevante para mim é o teto solar. Na chamativa cor branco pérola, o Corolla Altis Premium Hybrid — o mais caro Corolla híbrido que é possível comprar — impressiona. Por causa de suas novas formas, que seguem a versão europeia, o sedã japonês se distanciou do clichê “carro de tiozão”. Há elegância com certa esportividade, e nada de visual “Jaspion” como no Prius.
Dentro o revestimento de couro de duas cores, marrom café e bege, se contrapõe ao painel bege e preto. Detalhes black piano cá e lá e uns poucos detalhes aluminizados resultam em uma ambiente de certa sofisticação, luminoso não só por conta do teto solar (que tem fechamento que bloqueia 100% da luz, nada de telinha…) mas sim pela forração clara do teto e, óbvio, por causa da ampla área envidraçada livre de películas escurecedoras nos carros de teste, exceto os da Mercedes-Benz no Brasil — só podia ser aqui mesmo..
O ajuste do banco do motorista é elétrico e isto mais o volante, que permite acerto de altura e distância, me fez achar a boa posição de dirigir com facilidade. Dar a partida é por botão e… ao pressioná-lo, fiquei em dúvida: o painel se iluminou, apareceu um “ready” (pronto, em inglês) mas… nenhum barulho ou vibração de motor. Deslizei a alavanca do câmbio até D, acelerei de leve e, sim, o Corolla Altis Hybrid se moveu, levado unicamente pelo motor elétrico. Aliás, esclarecer que o Corolla híbrido tem dois motores elétricos mas que apenas um deles é implicado em funções relativas à tração foi o que aprendi estudando não apenas o excelente material de imprensa entregue pela Toyota do Brasil mas também artigos publicados cá (Brasil) e lá (exterior).
Na grande tela central de 8 polegadas, onde procuro a imagem que me fascinava no Prius, que faz ver o processo energético em tempo real. Naquele instante, a menos de 20 km/h e em rua plana pertinho de casa, apenas a eletricidade estava sendo usada, mas bastou apertar um pouco mais o acelerador para que as cores passassem do ecológico verdinho ao vermelhinho, e o fluxo de energia do gráfico mudasse, com o motor a combustão de 1,8 litro entrando em ação, dando expediente duplo: tracionando as rodas dianteiras e alimentando o “pack” de baterias de níquel-hidreto metálico, que ocupa o espaço sob o assento do banco traseiro.
Roda macio e bem quietinho o Corolla Altis Hybrid. Nas calmas ruas de minha vizinhança o sedã procede silencioso, mesmo quando o motor a combustão está trabalhando, coisa que se sente mais pela vibração no pedal do acelerador e assoalho do que por ruídos mecânicos ou de escapamento. Quando é apenas a eletricidade a atuar, nada vibra e um zunido surge, típico dos elétricos. Quanto à transmissão, o câmbio é um CVT dedicado a este novo Corolla Hybrid, que procura minimizar a todo custo aquele chato efeito scooter, no qual a aceleração sobe e a progressão de velocidade não a acompanha.
Satisfeitíssimo com este Primeiro contato volto para a garagem e me dedico a explorar minuciosamente este carrão novinho (pouco menos de 7 mil km rodados), descobrindo um padrão de acabamento interno bastante bom assim como ajustes de carroceria, qualidade de pintura e detalhes variados adequados. Realmente impressionado com o capricho deste Corolla Altis Premium Hybrid – superior em acabamento ao Prius made in Japan – projeto o resto desta 1ª semana: viagem que de São Paulo me levará a Campos do Jordão, cidade a 1.700 m acima do nível do mar, e cujo caminho me dará impressões plurais deste Toyota-novidade.
Subindo a serra
Com tempo para chegar ao meu compromisso em Campos do Jordão, escolhi a estrada mais tortuosa, a que parte de São José dos Campos rumo ao topo da Serra da Mantiqueira, passando por Monteiro Lobato. Cenário de inesquecíveis viagens motociclísticas desde os anos 70, a SP-050 é aquela típica estrada onde “reta” foi um conceito não premiado em seu projeto. Uma curva emenda na outra, tormento para uns, alegria para outros, como eu.
Fazia talvez uma década não passava por ali e me alegrei por verificar que o asfalto, antes degradado a um nível extremo, está em ótimo estado. Nesse cenário feliz confirmei impressões positivas sobre o Altis Premium Hybrid: confortabilíssimo, agradável e que exige uma tocada singular, que combine com sua motorização.
Em resumo, esqueça o modo de dirigir de carros convencionais e adote um novo modo de levar um carro, trocando uma eventual agressividade por uma pilotagem fluida, suave. Em vez de buscar performance no acelerador (e se frustrar…) buscá-la na eficiência energética. Em vez de olho no conta-giros (que não existe), olho no ponteiro que à esquerda no painel (visor TFT configurável com opção de velocímetro analógico ou digital), e que é dividido em três áreas distintas: CHG (charge), ECO e PWR (power). A brincadeira consiste é deixar o ponteiro o maior tempo possível em ECO ou CHG.
Frustrante? Nada! Mesmo sendo um ‘petrol head’, entendo a graça desta nova tecnologia, na qual o prazer do empurrão de uma acelerada brutal em saída de curva pode ser compensado por um contorno “lançado”, para não perder embalo, e pisar o mínimo no da direita. De fato, a tocada de um híbrido exige um reset, um novo comportamento ao volante que, acreditem, vai se tornando prazeroso com o passar do tempo.
Nos quilômetros percorridos esta semana de estreia – pouco mais de 300 – a maioria foi em rodovia, cenário onde os híbridos brilham menos em termos globais. Nos trechos planos o Corolla ronrona a 120 km/h sem que se perceba o funcionamento do motor, condição na qual a propulsão está entregue apenas ao 1,8 litro de 101 cv de potência máxima, que funciona no ciclo Atkinsons e não no Otto. Ao elétrico cabe a tarefa de tirar o Corolla da imobilidade e levá-lo – dependendo do quanto se pressiona o acelerador – até por volta dos 50 km/h. Caso seja preciso afundar o pé, em uma ultrapassagem por exemplo, a potência do motor térmico se somará ao do elétrico mas não na razão 101 cv + 72 cv.. A potência combinada máxima declarada pela Toyota é de 122 cv.
No vai e vem urbano o engenho protagonista é o motor elétrico, e nas ocasiões em que se percebe o motor a combustão ligar, na maioria das vezes não é para fim de tração, mas sim para prover carga à bateria instalada sob o assento do banco de trás. Ao chegar ao meu destino na montanha, o registro do consumo global foi de 11,8 km/l para 358 km rodados, com marca recorde obtida em uso urbano de 17,1 km/l e marca mínima, na mal comportada subida da serra, de 8,9 km/l. De acordo com a Toyota o carro foi abastecido com álcool, o que exalta tais cifras, realmente boas para um sedã de quase 1,5 tonelada.
Feliz com meus primeiros dias de Corolla Hybrid, resolvi passar do combustível vegetal ao fóssil e deixar para a semana que vem o relato da viagem de volta a São Paulo assim como uma descrição mais apurada do comportamento dinâmico deste Toyota (suspensão traseira independente e multibraço é novidade!), além dos inúmeros equipamentos dedicados à assistência de quem o dirige, como o inédito Toyota Safety Sense. Modernidades que assustam alguns e encantam outros — meu caso!!!! —, fruto de uma tecnologia espetacular e, de certo modo, inimaginável à época de minhas primeiras experiências ao volante, em uma Kombi corujinha…
RA
(Atualizado em 2/03/20 às 11h10, correção da fábrica Toyota onde o Corolla é produzido)
Toyota Altis Hybrid Premium Flex
Dias: 7
Quilometragem total: 358 km
Distância na cidade: 178 km (50%)
Distância na estrada: 180 km (50%)
Consumo médio: 11,8 km/l
Melhor média: 17,1 km/l
Pior média: 8,9 km/l
FICHA TÉCNICA TOYOTA COROLLA HYBRID 2020 | |
MOTOR A COMBUSTÃO | |
Designação | 2ZR-FXB |
Descrição | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, injeção no duto, duplo comando de válvulas acionado por corrente, variador de fase na admissão inteligente, 4 válvulas por cilindro, ciclo Atkinson, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 80,5 x 88,3 |
Cilindrada (cm³) | 1.798 |
Taxa de compressão (:1) | 14 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 98/101/5.200 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 14,5/3.600 |
MOTORES ELÉTRICOS | |
Tipo | Corrente alternada, síncrono, MG1 e MG2 |
Potência máxima (cv) | 72 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,6 |
Potência máxima combinada(cv) | 122 |
Torque máximo combinado (m·kgf/rpm) | n.d |
BATERIA DE TRAÇÃO | |
Tipo | Níquel hidreto metálico |
Tensão (V) | 201,6 |
Capacidade (kW·h) | 1,31 |
TRANSMISSÃO | |
Conexão motor-câmbio | Conversor de torque |
Câmbio | Transeixo hibrido, modos Normal, Eco, Power e EV, tração dianteira |
Relações das marchas máx. e mín. (:1) | n.d. |
Relações de diferencial (:1) | n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,6 |
Relação de direção média (:1) | n.d. |
N° de voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 370 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal |
Assistência | A vácuo por bomba |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/nd. |
Traseiros (Ø mm) | Disco/n.d. |
Controle | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem |
De estacionamento | Mecânico por alavanca, ação nas rodas traseiras |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 6,5Jx17 |
Pneus | 225/45R17W (Dunlop SP Maxx) |
Estepe | 205/55R16H (temporário, 80 km/h) |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.440 (Premium 1.445) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, sedã, 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,28 |
Área frontal calculada (m²) | 2,07 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,579 |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.630 |
Largura sem/com espelhos | 1.780/2.079 |
Altura | 1.455 |
Distância entre eixos | 2.700 |
Bitola dianteira/traseira | n.d/n.d |
Distância mínima do solo | 148 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 470 (com encostos rebatidos n.d) |
Tanque de combustível | 43 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11,3 |
Velocidade máxima (km/h) | 180 |
Velocidade em modo EV (km/h) | Até 50 |
CONSUMO INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 16,3/10,9 |
Estrada (km/l, G/A) | 14,5/9,9 |
GARANTIA | |
Garantia (anos) | Cinco |
Garantia do sistema híbrido, inclusive bateria (anos) | Oito |