Vi, num misto de alegria e tristeza que a a atual redução de tráfego na cidade de São Paulo, infelizmente graças a esta maldita pandemia, chegou a 50%, tornando a poluição atmosférica quase zero.
Tal noticiário me fez, caminhar para trás no tempo, quando tendo o privilégio de assessorar o Departamento de Operação do Sistema Viário (DSV) de São Paulo,em 1974, criamos a “Zona de pedestres’, no entorno da rua Sete de Abril. O efeito na redução da poluição do ar, então existente, fez com que pombos voltassem a frequentar aquela área, provocando noticia na mídia impressa: “São Paulo tinha pombos no seu centro comercial e ninguém sabia”.
Em 2008, como palestrante do 16º Congresso e Exposição Internacional de Tecnologia da Mobilidade Urbana, promovido pela SAE Brasil, com o título: “Sistema URV:utilização Racional das vias”, no tema do painel: A mobilidade urbana pede socorro. Como ajudar?
Na minha palestra ressaltava os comentários da mídia escrita quanto aos efeitos maléficos do ar poluído que os paulistanos respiravam , a saber:órgãos genitais, cérebro, músculos, pulmões, coração e sistema digestivo, cujo efeito se faz mais manifesto nos motorista de ônibus, em face do tempo que permanecem expostos às mazelas do congestionamento urbano.E concluía, com um dado alarmante e ignorado pelas autoridades responsáveis pela mobilidade urbana: “As estatísticas revelam que morrem, na cidade de São Paulo diariamente quinze pessoas devido à poluição”.
A minha proposição, de tornar racionado o uso das vias, por não ser a oferta capaz de atender a demanda, atendia ao apelo do engenheiro Alexandre Gomide, então diretor de regulamentação e gestão do Ministério das Cidades, quando declarou:”O espaço viário é restrito.O acesso é irrestrito.O resultado são os congestionamentos. Isto precisa ser racionalizado.”
O meu projeto foi apresentado, não apenas naquele congresso, mas encaminhado também a quantas autoridades pudessem aplicá-lo.
Não me surpreendeu esta omissão, ciente da revelação, em desabafo do maior urbanista do mundo, Costantinos Doxiallis, quando disse: “O problema da mobilidade urbana não é por falta de imaginação dos técnicos, mas da falta de coragem política daqueles a quem cabe implantar as propostas”.
Agora, em face desta maldita pandemia, não me admira de ser a minha querida São Paulo, onde tive oportunidade de colaborar com seu trânsito, no anos 73/74, ser o “epicentro” das mortes por este coronavírus, modificado, ou melhor, nacionalizado, em que pese os esforços do governo local e da equipe médica competente e abnegada. O vírus agressor encontrou um terreno fértil para agir graças ao enfraquecimento da suas resistências, fruto da ação do ar poluído, respirado há dezenas de anos..É lamentável quando sei que o meu projeto URV, graças às medidas construtivas que o complementam, pode diminuir a circulação de carros de passeio, nos horários de pico, em até 80%. É pegar ou largar, enquanto há tempo.
CF