Chamou-me a atenção o comunicado da Hyundai afirmando que o HB20 (foto acima) foi o automóvel mais vendido do Brasil em abril.
Realmente é uma grande notícia, já que era uma liderança inédita. Fui checar a informação no ranking de emplacamentos da Fenabrave, o padrão oficial do mercado para apontar os carros mais vendidos do Brasil. Para a minha surpresa, vejo que o líder lá é outro: o Chevrolet Onix.
Analisando os dados com cuidado percebe-se onde estava o erro. A Hyundai criou um critério próprio: comparou as vendas do HB20 contra as da nova versão do Onix, deixando de lado a antiga, chamada de Joy. Assim, em vez de perder por uma diferença de 782 unidades e ficar em segundo lugar, o hatch da marca sul-coreana faturou a primeira colocação com uma vantagem de 83 carros.
Não me lembro de ver a Hyundai usar esse padrão em outros anos, já que é antiga a prática da Fenabrave de somar as versões novas e antigas do mesmo modelo
A garantia aumentou, mas há limite
No mesma semana, surgiu outra notícia que parecia ser igualmente surpreendente: “Toyota passa a oferecer cinco anos de garantia para toda a linha de veículos zero quilômetro”. Muito louvável! Mas o comunicado escondia uma informação importante: lá na distante 14ª. linha do texto no meu celular, vem um complemento: a nova cobertura é vinculada ao limite de 100 mil km rodados aplicados somente para pessoa jurídica e/ou uso comercial: Veja o trecho original:
“A nova cobertura, vinculada ao limite de 100 mil km rodados aplicados somente para pessoa jurídica e/ou uso comercial, passa a valer para todos os veículos produzidos e comercializados a partir de 2020.”
Trata-se obviamente de má redação: a fabricante quis dizer que quando o veículo pertencer a pessoa jurídica e/ou tiver uso comercial, por exemplo, táxi, a garantia é de cinco anos ou 100.000 km, prevalecendo o que primeiro ocorrer.
Informações incompletas não são novidade no setor automobilístico. Lembro-me, por exemplo, do lançamento do Peugeot 207, em 2008. O nome dava a entender que seria uma nova geração do 206, que foi um dos grandes sucessos da marca francesa até hoje. Se na Europa já existia o 207, uma nova geração do compacto, no Brasil ela se restringiu a uma reestilização do 206, com uma grade bem maior, embora o comando de câmbio tivesse passado do arcaico varão para um eficaz sistema por cabos. A falsidade ideológica era evidente: o modelo foi exportado para a Europa com o nome de 206+ ou 206 Plus.
Um dos lugares mais comuns para encontrarmos eufemismos das fabricantes é na lista de equipamentos de série dos veículos,. principalmente daqueles mais baratos. Quem não lembra das antigas “supercalotas” da Volkswagen, que nada mais eram que calotas normais com um nome estiloso? O Fiat Mobi Easy tinha uma pomposa “grade dianteira texturizada”, na verdade uma simples grade plástica sem pintura.
O caso do Fox que decepava dedos
Foi um caso que repercutiu muito. Afinal, é inusitado no manuseio do encosto de banco traseiro, no caso voltá-lo à posição normal, uma pessoa sofrer tal tipo de ferimento. Obviamente, houve um descuido no projeto, havia um acabamento metálico altamente contundente na parte inferior do encosto. Tanto que havia informação no manual do proprietário e em adesivos no dorso do encosto sobre como proceder e o perigo de um movimento descontrolado “poder provocar ferimentos”, porém sem especificar quais.
Portanto, foi um caso típico de informação incompleta combinado com erro de operação. Mesmo erro, por exemplo, de fechar uma porta ou tampa do veículo deixando alguma parte do corpo no caminho, só que com consequências bem mais leves na maior parte dos casos..
A Volkswagen, mesmo não admitindo o erro de projeto e insistindo em erro de manuseio, acabou realizando um recall para eliminar tal risco.
ZC
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