Pois é, semanas depois de ter feito minha primeira coluna “Diário do confinamento” cá estou eu, sem diário, mas ainda com confinamento.
Como já disse, minha vida não mudou praticamente nada desde que comecei a me isolar totalmente por causa do Covid-19. Nem tenho tido mais tempo livre, ao contrário do que muitas pessoas dizem por aí.
Não consegui nem começar a organizar minhas receitas de cozinha (velha promessa de anos que nunca termino), nem os álbuns de fotos (embora tenha feito notáveis progressos, porém mais por não ter viajado a lugar nenhum do que por ter tido mais tempo livre), muito menos os vídeos de viagens (esses acumulam lustros e até mesmo décadas de atraso). Livros comprados e ainda não lidos então… melhor nem pensar.
Sequer tive que arrumar armários, pois no meu caso organização é mais um moto contínuo e uma forma de vida do que algo a ser feito em ocasiões especiais. Como quando vejo essas campanhas de oficinas mecânicas: “revisão de férias”; “deixe seu carro em ordem antes de pegar estrada”… Hã? Como assim? Quer dizer que tem gente que só revisa freios, calibra pneu e verifica o óleo antes de pegar estrada? Novamente, no meu caso é um moto contínuo. Sempre faço isso e nunca precisei recusar um convite para passar fora alguns dias porque a tal “revisão de férias” não estava em dia. No máximo, completar o tanque — na maior parte das vezes, nem isso. É fazer a mala e sair.
A única coisa que mudou realmente é que tenho estado mais tempo com meu marido. Sem congestionamentos, sem viajar sequer a trabalho e, aliás, sem ter de sair de casa para nada, ficamos ainda mais tempo juntos. O bom é que sempre gostamos disso — logo, nada de diferente. Assim, temos visto mais filmes e já estou quase conseguindo chegar naqueles indicados para o Oscar de 1998…
Brincadeiras à parte, temos visto juntos alguns vídeos no Iutúbi. Como meus caros leitores sabem, sou fã declarada do Kimi Räikkönen — não apenas do estilo de pilotar, mas também do jeitão blasé e “tônemaí” fora das pistas. Por isso, para quem gosta dele, ou mesmo para quem quer apenas se divertir numa época em que alguns maldosos dizem que qualquer macaco pode dirigir um carro de Fórmula 1, veja o que é um piloto humano — com vários defeitos, aliás. Talvez o principal seja uma certa queda pelo consume de substâncias etílicas… Seguem alguns vídeos que recomendo:
Tenho gosto especial pelos de perguntas e respostas como estes:
Neste momento de quase abstinência de corridas, alguns canais têm reprisado algumas antológicas e cheguei mesmo a ver um pedaço de uma corrida virtual de Nascar — mas confesso que nem terminei. Achei muito chata e a resolução — do ponto de vista da imagem — era muito ruim, por isso nem vou colocar aqui.
Para quem gosta de emoção de verdade, e para quem como eu tem saudades de ver o público colado na pista (OK, claro que é uma doideira em termos de segurança…) e curte direção no limite repito aqui uma dica dada por um leitor. Infelizmente, não guardei o nome da pessoa e o problema é que ele me viciou. Faz meses que fico vendo videos deste campeonato de rali para ver como treinam os finlandeses — e porque tem tanta habilidade em controlar carros em condições extremas de pista.
Não era exatamente este o vídeo enviado pelo leitor, mas era desta competição:
No campo “atualidades”, me diverti muito vendo a entrevista de Nelson Piquet a Mariana Becker. Sim, sou fã do Piquet. Declarada, assumida, tudo. Aliás, um parêntese: a primeira vez que o entrevistei foi memorável. Estava no interior de São Paulo para a inauguração de um trecho de hidrovia Tietê-Paraná em Presidente Epitácio, quase na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul. Eu nem sabia que ele estaria lá, pois era algo meio burocrático, que incluía o governador do Estado, o prefeito da cidade e várias autoridades, inclusive da área de logística e transporte. Eu trabalhava no jornal O Estado de S. Paulo e fui até lá de carro, com um dos motoristas do jornal. No caminho, paramos em Sorocaba para que se juntasse a nós o correspondente local, um ótimo jornalista e muito gente boa. Chegamos e nós dois nos dividimos nas pautas, quem faria o quê e quem entrevistaria quem já que o lugar era enorme e havia muita coisa para fazer. Mas, antes de começarmos, ele me pediu para acompanhá-lo, pois queria que eu encontrasse alguém. Claro que concordei e fomos juntos a um dos vários trailers que estavam funcionando como escritórios naquela intempérie e sob o sol escaldante. E quem eu vejo ao entrar? Nélson Piquet, em carne e osso, sentado numa poltrona rodeado de algumas pessoas que nunca saberei quem eram. Não consegui enxergar mais nada. Apenas virei para meu colega e falei: “O quê???” Ele sorriu e disse apenas: “eu sabia que você ia gostar”. Dali para a frente é tudo um borrão na minha lembrança. Passei a agir como uma autêntica adolescente diante do vocalista de sua banda favorita de rock.
Acho que Piquet estava lá por causa da Autotrac, sua empresa de rastreamento de cargas, mas confesso que não me lembro. Assim como não me lembro sobre o que falamos. Tenho certeza apenas de que fui superprofissional e nem mencionei todas as manobras sensacionais que conhecia dele, as histórias… nadinha. A Nora corporativa tomou o controle total da situação, mas depois, ao tentar transcrever minhas anotações não conseguia entender minha letra. Tremi dos pés à cabeça, feito um bambu ao vento.
Em tempos pré-selfie não me ocorreu tirar uma foto junto com ele, mas como sempre levo uma câmera fotográfica comigo, no final da entrevista tirei duas fotos dele e acabei pedindo um autógrafo. Do resto não lembro de nadica de nada…
As matérias sobre a hidrovia, e mesmo a entrevista com o Piquet, saíram e saíram bem escritas, mas minhas lembranças do meu primeiro contato com meu ídolo são um borrão na minha mente. Depois disso teve mais algumas vezes que o encontrei e sempre foi mais ou menos igual. Eu já estava um pouco mais calejada e numa das oportunidades sabia de antemão que o encontraria. Acho que foi só na terceira oportunidade que tomei coragem e lhe disse que a ultrapassagem dele sobre o Senna na Hungria, em 1986, foi a melhor manobra que vi na minha vida (continua sendo). Para meu desespero, ele riu, me abraçou e, claro, não lembro de mais nada. Em outra ocasião havíamos formado uma rodinha, só jornalistas homens e eu e o Piquet soltou uma piada bem, bem suja, com um palavrão daqueles. Aí ele percebeu que havia uma mulher presente, pediu desculpas, me abraçou e também não lembro mais nada. Nem da piada…
Entrevistei outras pessoas das quais gosto muito e pelas quais tenho antiga admiração, inclusive Emerson Fittipaldi, mas é diferente. Já contei aqui também como foi quando encontrei Alessandro Nannini e o mico que paguei, mas por algum motivo tem algumas pessoas que eu realmente gosto demais. O estranho é que sempre fui extremamente séria e profissional, mas por algum motivo o Piquet e o Nannini mexeram comigo.
Fora minhas preferências pessoais, Piquet tem um papo excelente. Não mede as palavras e, depois de tantos anos de automobilismo tem histórias sensacionais. A entrevista à Mariana Becker é longa, mas vale a pena. Ri muito com a história do contrato que Bernie Ecclestone queria que ele assinasse.
É claro que vi alguns programas sobre Ayrton Senna e algumas das melhores manobras e GPs dele, outro piloto sensacional. Pessoalmente, não gosto de rever acidentes, especialmente quando são fatais e com o do Senna não foi diferente. Outro piloto que sempre adorei é Gilles Villeneuve e perdi a conta de quantas vezes vi as últimas voltas da corrida de Dijon de 1979, quando ele disputou roda a roda (literalmente) com René Arnoux — a segunda colocação! O líder era Jean-Pierre Jabouille no outro Renault, que venceu a prova. Ou a corrida do Canadá de 1981 quando ele correu com o bico do carro completamente quebrado e obstruindo a visão. Mas acho que só vi duas vezes o acidente que o matou — uma no mesmo dia e outra uma vez que não consegui deixar de ver. Mas não gosto. Se o piloto saiu bem, ainda vai — como o looping do carro do Christian Fittipaldi em Monza, em 1993, ou o acidente de Derek Warwick com o Lotus em 1990, também em Monza quando o piloto saindo do carro estraçalhado correndo até o boxe para pegar o carro reserva, quando isso era permitido. E fez mais uma dúzia de voltas até quebrar. Mas se o piloto morreu, nananinanão. Não vejo.
Aqui vai a corrida de Dijon se é que alguém ainda não viu aquela que para mim é a melhor disputa de Fórmula 1 de todos os tempos – não apenas porque foi extremamente acirrada mas igualmente limpa, mas também porque durou várias voltas. Não é como a ultrapassagem de Piquet sobre Senna na Hungria, em 1986, que é fantástica, mas é uma manobra. São diversas voltas de uma batalha feroz – e o fato de os dois pilotos serem muito amigos só apimenta ainda mais a corrida.
Por último, um link que recebi de vários amigos e que é bem interessante pela originalidade. Próprio para momentos de confinamento como os atuais. Pode-se escolher alguma cidade do mundo e “sair dirigindo” por lá. Testei algumas que conheço e achei bem bacana. Mas as imagens de São Paulo devem ter sido feitas durante a quarentena, de tão tranquilo que está tudo. Acho engraçado ‘dirgiir” na mão inglesa em Melbourne e ouvir o sotaque no rádio. Rever Praga é sempre lindo, mas tentei também algumas que não conheço e adorei a experiência. Estocolmo com neve parece linda (e a música é bem bacana também)
Mudando de assunto: para quem curtiu meu “mudando de assunto” de uns tempos atrás, recebi uma nova versão atualizada do mesmo meme:
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.