No dia 11 de julho de 2016 aconteceu algo interessante na história do automóvel. Mas não se trata do nascimento de um carro novo, ao contrário, foi algo “simples”: a data em que o Regulamento nº 46, em versão -6, foi publicado na Europa. Esse regulamento trata de espelhos retrovisores, e desde aquele dia câmeras e telas usadas como retrovisores são permitidos. O primeiro fruto dessa mudança é o Audi e-tron, mais conhecido como o primeiro Audi produzido em série com propulsão elétrica pura, um BEV (Battery Electric Vehicle).
Alguns anos antes na Alemanha já houve um carro com espelhos retrovisores externos virtuais, o Volkswagen XL1, e já escrevi sobre este carro aqui no AE. O XL1 só foi fabricado numa série limitada e mediante homologação especial. Com essa experiência dentro do grupo VW, que também participou no desenvolvimento nas regras do “R46 -6”, a Audi decidiu adotar essa nova tecnologia. Agora está pronta, e na verdade fiquei muito curioso de ver como funciona num carro bem mais normal comparado com XL1.
Os “espelhos” ligam-se ao entrar no carro. Como se está olhando para uma tela, normalmente é desnecessário qualquer ajuste, mas caso se toque na tela a imagem pode mudar um pouco. Na tela também se escolhe entre esquerda e direita por não ter como alcançar a distante tela direita. Pode-se também zerar o ajuste, que faz a imagem se colocar na posição padrão, de homologação. Mas como essa imagem no uso normal é ruim, ninguém vai ficar dirigindo com o horizonte bem no alto da tela (ou do espelho se fosse um normal).
As telas são de sete polegadas tipo OLED (sigla, em inglês, de diodo orgânico emissor de luz) e mesmo que eles deem um pouco menos luz em comparação com um LCD (mostrador de cristal líquido), o contraste é ótimo e pode-se usá-los mesmo com sol direto na tela. Às vezes vê-se alguns “brilhos” nas telas refletidos de outras coisas no painel do carro, mas sempre dá para usá-los.
De noite é outra coisa, e na verdade a claridade é melhor do que num espelho normal. Outra diferença com esse sistema novo é que não adianta mudar a posição da cabeça para ter uma visão modificada, pois não se trata de imagem refletida, mas captada. Também notei que é preciso se acostumar a olhar um pouco para baixo para ver o “espelho”. No início, principalmente no lado esquerdo, fica-se olhando para a câmera para depois baixar os olhos um pouco quando se lembra que esse não é um carro normal.
Pelo lado bom, esses “espelhos” fazem menos ruído aerodinâmico, teoricamente levam a menor gasto de energia (numa estrada fora da cidade, pois nela o consume elétrico das telas não compensa). Outro efeito é que os passageiros têm a mesma visão que você e todos gostaram disso.
Na tela principal no centro do painel tem como entrar — depois de procurar bastante — em alguns ajustes dos espelhos virtuais. Mas primeiro preciso dizer que esse sistema de menus me deixou perdido várias vezes. Audi, por favor, faça algo melhor, num Tesla é tão intuitivo! Tem como copiar algo dos americanos?
Na área dos espelhos tem como mudar a luz das telas (para gastar o mínimo de energia no ciclo de homologação…a posição normal é bem escura). Também tem como fazer três outros ajustes que me fizeram rir um pouco. Por quê? Porque isso mostra que Audi é uma empresa muito grande e que o sistema é bem novo para eles. Como assim? Porque os ajustes não são práticos, é só uma ideia de escritório que não deu certo na vida real. Vou tentar explicar:
Vista de autoestrada – Quando a ativo e desativo, não acontece nada, nunca. Teoricamente é uma boa ideia , mais as câmeras e o tamanho das telas não permitem a mudança que Audi imaginava durante o desenvolvimento.
Vista dos indicadores de direção – Ok, dá para ver uma diferença sem e com isso mas a diferença é muito pequena, com certeza bem menor do que os engenheiros achavam no começo do desenvolvimento.
Vista da calçada -. Quando ativada isso muda um pouco a imagem na tela ao se dar ré. Mas na vida real é sem uso prático. E no caso de se precisar ver o que fica perto do carro ao estacionar, fica claro que se deve usar outro sistema, com câmeras específicas para isso. Como em todos os carros modernos e de preço mais alto, são mais quatro câmeras no e-tron. Uma na grade, outra no porta-malas e mais dois nas asas dos “espelhos”. Assim se pode ter uma visão 3D do seu próprio carro, de qualquer um ângulo, muito bom e prático.
Durante o tempo em estive comi o e-tron enfrentei chuva, e com as estradas molhadas a câmera do porta-malas ficava bem suja, claro. Assim, pensei que como o e-tron é todo novo e bastante caro, devia haver uma maneira de limpar a câmera com um borrifo de água, como tem no Porsche Panamera. Fiquei procurando muito entre os botões nos menus nas telas, e por fim encontre algo que me pareceu poder ser um borrifo para a câmera. Apertei o botão e nada aconteceu. Hein? Estranho. Depois de alguns segundos o meu nariz descobriu que tipo de botão era: perfume, e a cabine começava s cheirar como se eu estivesse num freeshop de aeroporto. Sim, como em alguns carros franceses, o Audi também tem perfume no sistema de climatização. Ao meu ver prioridades erradas, limpeza de câmera tem uso prático. Perfume? Ok, só se nada há mais para desenvolver no carro.
O carro
E o carro? Um Audi todo novo e elétrico? È um bom carro, sem dúvida. Bem grande, pesado, prático, confortável, 408 cv e 67,7 m·kgf, 300 quilômetros de alcance na vida pratica, tem como reclamar algo? Fora o fato de que nesse exemplar me pareceu faltar um pouco de cola na para-brisa (um ruidinho do vento quando seco sumia depois de uma chuva). Havia também um barulho um pouco forte da transmissão do eixo traseiro. Com certeza problemas que a Audi precisa resolver.
Outra coisa que não gostei no carro é que não tem freio com os motores. Ah, sim, tem, mas tem que usar a borboleta “-“ no lado esquerdo no volante toda vez que se quiser freio do motor em função gerador, muito chato. Todos os carros elétricos que dirigi na vida (menos o Baker de 1908…) tinham efeito frenante bem forte ao se soltar o acelerador e em todos tem como ajustar essa força num menu ou por um botão. E pelo que li, o novo Porsche Taycan é igual, muito estranho para mim. E a minha conclusão sobre o e-tron? Eu me divirto mais em qualquer Tesla. Audi, boa sorte com o próximo BEVs, eu sei que vêm muitos mais nos próximos anos.
HJ
Mais fotos, depois tem a ficha técnica básica
FICHA TÉCNICA AUDI e-tron | |
Energia a bordo (kW·h) | 95 (equivale a cerca de 10 a 11 litros de gasolina). |
Alcance (km, WLTP) | 400 (300 na vida prática). |
Consumo prático (km/kW·h)) | 3,33 |
Carregamento rápido (kW, CCS) | 150 (teoricamente bateria cheia em 95/150 = 0,63 h = 38 minutos |
Tração | Nas quatro rodas. |
Transmissão, tipo | Engrenagem epicíclica |
Marcha única à frente relação :1) | 9,205 |
Marcha única à ré (:1) | 9,083 |
Potência máxima | 408 |
Torque máximo (m·kgf) | 61,2 |
Aceleração 0 a 100 km/h, (s) | 5,7 |
Velocidade máxima, (km/h.) | 200 (limitada) |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.901 |
Largura sem/com câmeras | 1.940 / 2.043 |
Altura | 1.629 |
Distância entre eixos | 2.928 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 2.490 |
Carga útil (kg) | 589 |
Volume máximo de bagagem, (L) | 660 (1.725 com banco traseiro rebatido) |
Peso rebocável máximo (kg) | 1.800 |
Garantias da bateria (anos/quilometragem) | 8/160.000 |
Preço (euros) | 85.000 |