Dsta vez o amigo João Cássio Bellini abriu o seu coração e o que há lá dentro? Encontre a resposta lendo o relato que ele enviou.
Minha paixão pelos VW refrigerados a ar
Por João Cássio Bellini
Desde que me entendo por gente sou apaixonado por Fuscas e seus derivados. Sempre gostei da forma do Fusca e da Kombi, tendo uma especial indecisão de qual deles era então o meu predileto.
Dependendo da fase, Fusca, dependendo da fase, a Kombi. Eram (e ainda são) minhas paixões que vieram a se juntar a seus irmãos e primos, próximos ou distantes, mas em comum a todos, o motor arrefecido a ar, de cilindros contrapostos, concebido pela equipe do Doutor Ferdinand Porsche lá nos idos dos anos de 1930!
As minhas primeiras lembranças, remontam aos idos de 1981/1982 (nasci em 1978) quando papai comprou um VW 1300, 1975 bege (o EF-9062) da minha tia para mamãe usar. Ele veio com um chaveiro de couro, verde de um lado e amarelo do outro, com um indiozinho (hoje sei que era emblema do concessionário Pacaembu Motor) e se me quisessem deixar quieto, era só abrir o motor do Fusca que eu passava horas a fio olhando para aquela maravilha.
A “peça prateada” (carburador) com o “chapéu preto” (filtro de ar). A correia que passava pela “roda” (polia) grande e pela “roda” pequena. Acreditem, passados quase 40 anos, fecho meus olhos e lembro do motor diante de mim!
Na família havia outros carros que eu adorava: Vovó tinha uma Brasília azul 1974, que conheci pouco. Posteriormente ela trocou por uma bege, 1978, (UW-0937), adquirida com pouco uso, que apodreceu em menos de 4 anos.
Tio Zé Roberto tinha os três carros que eu achava “os mais legais do mundo”: Um Volkswagen 1300 L “Fafá”, uma Variant II (UU-3516) e a Kombi! Não me conformava do meu pai ter um Passat. Legal mesmo era a perua Variant!
Aliás, uma dessas lembranças da primeira infância era a persistente dúvida que eu tinha: Como a Kombi do tio Zé tinha o mesmo barulho do Fusca da mamãe quando acelerava, sendo que a Kombi levava tanta gente???
Nessa época, minha mãe sofreu um acidente de carro e o Fusca dela teve de passar por uma reforma geral. Meu pai então, trouxe para casa um VW 1300 L branco Alasca, da empresa, carro pelo qual eu simplesmente fiquei apaixonado: tinha as famosas lanternas “Fafá”, pino de abertura das portas (no 75 da minha mãe era a famosa alavanca trava) e o mais legal, não precisava abrir o capô para pôr gasolina!
Acho que de tanto eu falar “Fusca Fafá Belém” meus pais resolveram trocar os para-lamas do velho 1300 1975 e colocá-lo como sendo “Fafá”. Mas não era o 1300 L, que por sinal, sobrou dele o Manual do Proprietário que está comigo até hoje!
Aliás, falando em manual, adquiri nessa época o hábito de guardar Manuais de Proprietário e com eles aprendi muita coisa. Recém alfabetizado já nos idos de 1984, minhas leituras de “dormir”, além das histórias contendo aviões, “O Fantástico Livro do Snoopy no Espaço”, tinha lugar cativo o manual do 1300 L, que ganhou a companhia do Manual do Passat 1981 do meu pai e da Variant II do meu tio.
Dessa época também me marcaram as viagens de Kombi para Monte Verde. Meus pais estavam construindo uma casa lá e comprávamos material em São Paulo e para levar o material, usávamos uma Kombi da construtora, 1982/1983 branca, Kombi esta que foi a primeira que eu vi com freios a disco na dianteira e, paradoxalmente, daquela pequena série que ainda saia com a alavanca do freio de mão que exigia o contorcionismo para acoplar/desacoplar.
Aliás, foi numa dessas viagens, carregados de canos de cobre no bagageiro, um boiler de água quente, azulejos e 4 (quatro) pessoas no banco da frente que meu pai teve a felicidade de esquecer a CNH em casa. Nem preciso dizer que fomos parados a cada posto policial e só seguimos viagem, sem intercorrências, porque meu pai apresentava a carteira de Piloto Privado emitida pelo Ministério da Aeronáutica…
Outra Kombi que me marcou foi a QD-0056, também da empresa, bege vime, esta ano 1985 a álcool. Fizemos viagens memoráveis com essa perua, lá para Monte Verde. A casa era grande e íamos sempre, meus pais e tios, primas (meu tio José Roberto, irmão de minha mãe era casado com a irmã de meu pai).
Em uma delas (e a mais divertida) fomos ver a “passagem” do Cometa Halley. Cometa ninguém viu, mas a diversão foi garantida. E minha brincadeira predileta (só para variar) era ficar em volta da Kombi, que naquele inverno de 1986, chegou a marcas inferiores a – 5º C…Imagina dar a partida em uma Kombi a álcool nesse tempo! Meu pai soltava a Kombi morro abaixo, dando tranco e injetando gasolina paralelamente…
Outro carro que virou paixão foi o Gol com motor arrefecido a ar. Sr. Alberto, vizinho de minha avó tinha um Gol L bege e me lembro de ouvir meu pai comentando que aquele carro “tinha motor de Fusca”. Parafraseando o mote da companhia Bayer (“Se é Bayer, é bom”), eu logo associei: Gol, se tem motor de Fusca, é bom! E confesso, achava aquele carro de visual moderninho bonito, e com motorização a ar do Fusca então…nem se fala!
E em meio a essa paixão pelos VW a ar, também na infância, passei a caçar carros com opcionais que estavam nos manuais e eu não via com frequência na vida real.
Assim, caçar VW Fusca 1300 L com freios a disco na dianteira (até hoje vi um único!), Fusca “Fafá” com ar quente (um único – e foi depois de velho que eu o achei), Variant II com vidro térmico traseiro (nunca vi), Kombi com aquecimento interno (só vi uma, até hoje) eram hábitos que despertavam a curiosidade minha de menino (e confesso que até hoje as mantenho) e meu interesse por elas só se divide (até hoje) com outro amor, mas esse, de certo modo platônico: a aviação.
O tempo passou, cresci, os carros “legais” da família foram sendo vendidos e eu fiquei com aquela coisa “um dia ainda vou ter um desses só para me divertir”. E conquistei, tive um Fusca por cerca de 25 anos e o Gol “com motor de Fusca” que comprei para restaurar (eita carro gostoso! Mesmo com 36 anos ele tem uma dirigibilidade invejável), mas por razões diversas, não pude dar sequência ao projeto.
Apesar de estar sem um “air cooled” na garagem (algo inédito desde que meus 15 anos quando ganhei o primeiro Fusca), o sonho não acabou e já planejo qual será meu novo brinquedo de gente grande. Quero um Gol L 1980 (já tenho um na alça de mira) mas quando vejo uma Kombi, um VW 1300 L ou uma Variant II dá uma baita indecisão…
Eis o relato de um amante de Volkswagens “a ar” de raiz, sem dúvida alguma. Certamente alguns de meus leitores e leitoras irão se identificar com o João Cássio. Mas que ninguém procure uma razão lógica para este “fenômeno”, pois certamente não a encontrará.
AG
Agradeço ao amigo João Cássio Bellini por mais esta parceria.
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