Bom humor é uma das minhas características. É natural em mim, exceto quando acordo, mas aí não é culpa minha — quem quer conversar com outro que acaba de levantar? Fala sério! Antes de uns 15 minutos e um café deveria ser totalmente proibido. Se a pessoa tem o dia inteiro para falar, por que fazer isso logo nos primeiros 15 minutos que me vê? Não dá para esperar os outros 1.425 minutos do dia? Garanto que estarei disponível e de bom humor, super de bom grado para conversar e tudo, mas em hipótese nenhuma se arrisquem a fazer isso no início do meu dia. E friso, do meu dia, pois independe da hora que acordo. São os primeiros 15 minutos, não importa se acordo às 6 da manhã, às 11 ou às 3 da tarde.
Apesar do bom humor, não sou de dar risada quando vejo filmes nem seriados. Não sei por quê. No máximo, um sorriso, mas raríssimas vezes rio no cinema ou vendo televisão. Posso, e acontece com frequência, rir muito de uma piada ou de uma situação real, mas não de um filme. Mas recentemente aconteceu.
Dito isto, preciso mencionar uma cena que vi num capítulo de um seriado do qual gosto muito, Blue Bloods. É sobre a família Reagan que trabalha em Nova York. São três gerações de policiais descendentes de irlandeses, católicos, que todos os domingos almoçam juntos depois de assistir à missa. Os roteiros são muitos bons, diálogos especialmente inteligentes e grandes atuações de todos, sobretudo de Tom Selleck e Donnie Wahlberg.
No capítulo que quero comentar, a polícia de Nova York está no meio de um programa “verde” e adquire uma série de carros elétricos, super pequenos (modelos Smart), para fazer o policiamento da cidade. Eles são política e ecologicamente corretos. Aí, por um trote entre os personagens, um dos Reagan, o policial de rua Jamie, acaba com um dos carros “verdes” para fazer a ronda pela cidade durante a qual é ultrapassado por uma bicicleta quando de repente, é chamado para atender uma briga de rua. Lá vai ele com a parceira. A cena não poderia ser mais cômica. O carro dos policiais, claro, mal anda pelas ruas de Manhattan, para desespero do certinho Jamie Reagan. Ri às gargalhadas.
Ri muito, mas depois fiquei um pouco indignada. Primeiro gargalhei porque a cena é deveras cômica. O microcarro, numa emergência, tentando correr pelas ruas da cidade, e depois fiquei pensando como seria se em vez de uma briga fosse uma situação mais premente. O que diriam os fanáticos que costumam não se colocar no lugar dos outros quando defendem algumas idéias sem pensar suas consequências? A tal empatia, que chamam, mas que falta nessas horas. Carro que emite menos poluentes, OK, mas para que a polícia faça patrulhamento? Também não sei como fazem no caso de uma prisão, já que as rondas são em duplas…
Se um particular quer comprar um carro desses, que não alcança uma velocidade máxima necessária para que se chegue rapidamente ao local de um crime ou de um acidente, para passear, não vejo problemas, mas é óbvio que isso é totalmente ridículo para esse fim. Esses veículos servem para coleta de lixo em parques, onde são bastante utilizados e não há pressa, por exemplo. Obviamente, é uma questão de modelo, pois há outros mais rápidos, mas que a cena é engraçada, isso é.
Pessoalmente não tenho nada contra carros elétricos. Nem contra os Smarts. Aliás, como verdadeira autoentusiasta, gosto de todo tipo de carro — obviamente de uns mais do que de outros. Mas é lógico que há carros mais adequados para determinados usos do que outros. Por mais que goste de motores V-8 não consigo imaginar um carro com um desses sob o capô andando por um campo de golfe. Nem seria necessário.
Eu sempre digo que carro não é apenas razão, tem emoção também, mas deve haver alguma lógica, como no exemplo acima. Podemos escolher modelo, cor, potência de motor, mas definitivamente alguns parâmetros devem ser seguidos por óbvios.
É claro que tem carros elétricos que ultrapassam os 400 km/h. Assisto a Fórmula E, mas esses não são os modelos pequenos, econômicos e que se querem vender como ecologicamente corretos e que, aparentemente, foram os comprados pela polícia de Nova York no seriado.
Aliás, o seriado é um show de conhecimentos de um monte de coisas. A família Reagan inteira sabe pescar, conhece a Bíblia, história, legislação, boxe (OK, só os homens, mas todos lutam bem) e, minha parte favorita, carros e motos. O caçula Jamie herdou o Chevrolet Chevelle Malibu SS 1971 azul de estimação e está há anos cuidando e re construindo o veículo.
Todos os homens reconhecem carros e motos, incluindo modelos e anos apenas batendo o olho. Dá gosto. Tem um capítulo em que Jamie descobre que um pugilista que se recusa a participar de uma luta poderia subir ao ringue porque ele desce de uma moto que não poderia pilotar se realmente estivesse com a perna machucada. Ele na hora afirma que ela é marca tal, modelo tal, ano tal e o veículo exige sei lá o quê do piloto e se ele estivesse com a perna machucada não poderia pilotar a moto. OK, acredito. É assim o tempo todo. Isso sem falar nas perseguições.
Algumas são um pouco aflitivas, pois os personagens não tem nenhuma dó de jogar o carro em cima dos bandidos para evitar que fujam 3 aliás, a taxa de sucesso deles é bem alta. Todos dirigem hípermegabem, inclusive a maioria das vezes carros de câmbio manual — certamente mais adequados aos tipos de perseguição vistas no seriado.
Outro capítulo delicioso de ver é um em que um sujeito vende o famoso Mustang original do filme Bullit. Não vou contar os detalhes porque tem umas reviravoltas, mas a cena final a família toda dá uma “carteirada” e as três gerações dão um jeito de ir até a garagem onde está o veículo e tiram uma foto juntos (foto de abertura).
A cara de felicidade deles, é indescritível. Parecem adolescentes ao lado dos ídolos de uma banda de rock. Lindo de ver. Sem mencionar os comentários que fazem ao longo do capítulo sobre os detalhes do carro, a mecânica, o filme… e durante o almoço dominical a discussão é em torno da melhor perseguição de carro em filme de todos os tempos. Os quatro policiais são unânimes que é Bullitt, claro.
Mudando de assunto: O prefeito de Araçoiaba da Serra, SP, baixou o Decreto nº 2.125 de 1 de junho de 2020 visando combate à contaminação pelo coronavírus, mediante “desconfinamento”, cujo Art. 5º diz: “A fim de organizar o fluxo de pessoas em circulação na região central da cidade, as pessoas deverão utilizar a calçada com numeração de imóveis em número par para subir a via pública, e a calçada com numeração ímpar para descer a via pública, utilizando-se como referência o sentido de circulação do trânsito na rua”
Parágrafo único: “A movimentação de pessoas na pista de caminhada existente ao redor do Lago Central da cidade deverá ocorrer em sentido horário, evitando-se o fluxo cruzado entre as pessoas.”
Araçoiaba só tem aglomeração uma vez por ano, na festa do peão boiadeiro…Mais uma para o “Acredite…se quiser” do Jack Palance, que o Bob sempre diz.
NG