Em agosto a FCA conseguiu atingir patamares de vendas equivalentes às do mesmo mês do ano passado com suas duas marcas, Fiat licenciou 31.365 unidades (vs. 31.333) e Jeep 10.465 (vs. 10.061), esta última até foi 4% superior. A Mitsubishi esteve somente 2% abaixo e a BMW, marca premium, emplacou 16% acima, uma exceção. As vendas totais de automóveis e comerciais leves estiveram a 75% do que foram em agosto de ‘19, o que indica a recuperação segue seu curso, com algumas marcas enfrentando reveses maiores que as outras neste rumo à normalidade, em especial as francesas e japonesas.
A recuperação segue ritmo diferente num Brasil tão diferente, sempre na comparação de mesmo mês com ’19, enquanto a região nordeste apresentou vendas 11% abaixo, a sudeste esteve 29% menor e é ela que detém históricos +50% dos licenciamentos totais no país. O motor do país pede fôlego. Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, apresentou os resultados da indústria em agosto no último dia 4, em reunião com a imprensa econômica e cadernos especializados e destacou que a despeito de estarmos melhores que em julho, há um longo caminho pela frente até chegarmos aos números pré-pandemia. Diferentemente do que faz todos os anos, teremos nova revisão de perspectivas e projeções para o último trimestre a ser apresentada no próximo encontro mensal.
Os emplacamentos totais foram de 183.395 unidades, sendo 173.822 de veículos leves, 8.076 caminhões e 1.497 ônibus. Os licenciamentos diários de veículos leves, parâmetro tradicional aqui, atingiu 8.277 unidades nos 21 dias úteis do mês, um avanço de 16% sobre julho e é equivalente a agosto de ’16, ano em que o brasileiro defenestrou Dilma da cadeira presidencial. Desde então, a indústria vinha avançando a passos lentos e constantes e deixara definitivamente para trás o desastre “dilmo-econômico”, sem incentivos e sem mágica. Cheguei a sugerir que talvez fosse a hora de pensar em novos incentivos, mas o “day-after” de quando estes acabam se fez sentir nas vendas em vários países europeus. Agosto do outro lado do Atlântico foi um mês desastroso para muitos.
Também venho batendo na tecla das vendas PcD, não pelo seu fim, mas por mudanças que gerem resultados. Não podemos negar que 22-23% das vendas de automóveis sem recolher impostos não seja uma distorção. O país não tem tantos deficientes físicos assim e tampouco nem todos que usufruem desse benefício tributário têm tolhidas as suas receitas devido a seus problemas físicos. Esse era o princípio básico e fundamental da concessão de zero IPI e ICMS para aquisição de veículos com câmbio automático. Aí vieram os puxadinhos na interpretação da lei e com eles a indústria dos certificados PcD para compra de veículos 0-km.
Numericamente e a grosso modo, se você tem ¼ de suas vendas não recolhendo tributos de 30% (~ICMS e IPI somados), significa uma renúncia tributária total de cerca de 7,5%. Oras, não precisa ser gênio da lâmpada para concluir que se houvesse 7,5% menos impostos para todos veículos 0-km (e PcD para somente os deficientes que têm cerceados seus ganhos e/ou acesso a progressão profissional por sua limitação física, lembrando que esta é mais uma jabuticaba), as vendas em nosso mercado seriam muito maiores, assim como o recolhimento total de tributos. Os governos iriam certamente faturar mais em números absolutos. O que falta e quem falta para trabalhar nesta conta e com as pessoas certas?
Lembremos que antes de 2014, ano que o patamar de vendas totais no Brasil encostava nos 4 milhões, havia redução no IPI para todos veículos e PcD eram uma fração de hoje. Fácil concluir, difícil chegar a novas fórmulas que nos deem mais equanimidade combinada com mercado maior e mais recolhimento de tributos para federação e estados. Aparentemente deixou-se a distorção crescer, gerou-se um mercado exclusivo PcD e a simples remoção deste de forma súbita iria gerar um impacto negativo desastroso na indústria. Algo como Dilma fez, um dèjà-vu. Novamente, desnecessário.
Alguém se lembra o que aconteceu em janeiro de 2015? Dilma removera a última porção dos benefícios de IPI em 31 de dezembro de 2014, último dia de seu primeiro termo e o mercado de automóveis iniciou imediatamente uma súbita trajetória ladeira abaixo, muito maior que 3 ou 4% removidos sugeririam, considerando a elasticidade de demanda desse tipo de bem de consumo. Nem aí eles aprenderam que não só os números em si, mas a confiança do consumidor é ditada por diversos fatores. Talvez o lado bom disso foi o início da derrocada petista. Não queremos de volta. As mudanças anunciadas para janeiro próximo, com novas limitações para concessão do benefício serão leve refresco. A ausência de política industrial transcende governos e parece não a teremos tão cedo. Na base de cada um por si e Deus por todos é que seguiremos no crescimento pífio por longo tempo.
Depois do baque do segundo trimestre, as vendas a frotistas (locadoras + PcD) estão voltando aos poucos; em nova comparação de agostos, vendas diretas estiveram 26,4% menores e as vendas no varejo, 28,2% mais baixas, ao que nos parece serem patamares equivalentes. No acumulado de oito meses, como podemos ver na tabela acima, nota-se a queda de vendas a frotistas impactou mais fortemente a Chevrolet (-55%) e a Renault (-51%), duas marcas que tinham forte apelo a eles. Talvez isso explique em parte o porquê da marca americana estar figurando em 3º lugar, depois de anos sucessivos na liderança.
No gráfico acima pode-se notar que as vendas diretas já voltaram a seu patamar habitual e tendem a crescer.
RANKING DO MÊS E DOS PRIMEIROS OITO MESES
A VW seguiu na liderança pelo segundo mês consecutivo, com 34.120 emplacamentos, seguida de perto pela Fiat, com 31.365 e Chevrolet pouco mais atrás, com 28.792. A surpresa do mês foi a Renault em 9º, depois da Honda e a Ford em 7º, depois da Jeep. Tempos estranhos e que também não devem se repetir. Enquanto a Fiat avançou 27% sobre julho, atingindo mesmo nível de vendas de agosto de ’19, a VW avançou poucos 8,4% e Chevrolet 2,7%.
Nos primeiros oito meses a Chevrolet detém a liderança, com 191.283 veículos vendidos, seguida pela VW, com 189.810 e Fiat, com 165.230. A marca sino-brasileira Caoa-Chery já figura em 11º lugar.
Nos automóveis, o Onix retomou a liderança, com 10.609 licenciamentos, seguido por HB20, com 8.489, Gol em 3º com 7.912. Quatro suves na lista dos 10 mais vendidos, T-Cross, Tracker, Compass e Renegade.
Strada nova fez-se aparecer, liderou os comerciais leves com mais folga que antes, foram 8.690 unidades vendidas, seguida pela Toro, Saveiro, Hilux. A marca italiana conquistou 50% do segmento de picapes com somente esses dois modelos. A Strada foi o 3º veículo mais vendido no país em agosto.
Este mês tem o lançamento do novo 208 (foto de abertura), já testado pela equipe do AE.
Até o próximo!
MAS