Caro leitor ou leitora,
E com enorme prazer que anuncio a chegada de mais um autoentusiasta ao AE: Renato Bellote, que a rigor dispensa apresentação. Seu canal de vídeo Garagem do Bellote é mais do que conhecido no meio jornalístico-automobilístico e na rede mundial de computadores, além de ser um amigo nosso há um bom tempo e a quem admiramos pelo trabalho sério e competente. Ele estará com você e conosco toda semana.
Bem-vindo ao AE, Renato!
Bob Sharp – editor-chefe
Paulo Keller – editor-geral
SAUDAÇÕES INICIAIS A BORDO DE UM DE TOMASO PANTERA
Antes de mais nada, saudações a todos! Chego como mais um autoentusiasta, daqueles que tinham uma coleção de carrinhos de ferro, autorama e até mesmo um volante para acompanhar o movimento dos pais atrás do banco do motorista desde pequeno. Carro sempre foi minha paixão.
Nessa primeira matéria vou falar do carro que mais me impressionou em 13 anos de jornalismo automobilístico. Ao todo tive a oportunidade de guiar exatos 861 automóveis nesse tempo todo, meticulosamente catalogados por marca modelo e versão. E ele conseguiu estar na primeira posição do ranking pessoal, mesmo com a matéria gravada há sete anos.
O De Tomaso Pantera foi uma criação que mesclou Argentina e Itália. Sim meus amigos, antes do Horácio Pagani um outro conterrâneo já havia feito muito sucesso em terras europeias durante as décadas de 60, 70 e 80. Isso sem falar do grande Juan Manuel Fangio, que pode ser tema de outro texto. A marca teve tanto êxito que chegou a adquirir outras fabricantes tradicionais da Itália, como a Moto Guzzi.
O Pantera chegou ao mercado em 1971. Trazia o desenho excepcional de Tom Tjaarda do estúdio Ghia. E sob o capô algo tipicamente norte-americano. O motor Ford de 351 polegadas cúbicas (5,7 litros) caiu como uma luva no projeto, visto que conseguia mesclar pura arte com força bruta.
Ele substituiu o Mangusta e era considerado até mesmo um carro mais sociável, digamos assim. Isso porque trazia comodidades apreciadas pelos futuros proprietários, tais como vidros elétricos e cinzeiro. No Brasil rodam, salvo engano, apenas sete exemplares. Mundialmente o modelo vendeu mais de 6 mil unidades.
Elvis Presley teve um deles. Sabemos do apreço do rei do rock por Cadillacs, mas a verdade é que ele tinha bom gosto. Uma passagem curiosa sobre esse exemplar ocorreu em uma manhã fria na Graceland, sua mansão em Memphis, no Tennessee. A história diz que, sem conseguir dar a partida voltou até a casa e pegou uma arma, dando dois disparos certeiros no capô. Se o carro funcionou depois disso não se sabe, mas a passagem é verídica e o Pantera foi leiloado anos mais tarde.
Mas vamos falar do personagem da minha primeira matéria. Nos anos ’90 foram realizados diversos eventos de Quilômetro Lançado e Velocidade Máxima na pista de pouso e decolagem, de 3.000 metros, do aeroporto de São José dos Campos, SP. Eles traziam mais segurança e a homologação oficial da CBA, que validava todos os recordes obtidos. Este De Tomaso participou de vários.
O exemplar teve também amplo alívio de peso. As portas, capô e porta-malas são de alumínio. Além disso os vidros laterais foram trocados por policarbonato. Uma outra mudança envolveu um tanque de combustível de menor capacidade que foi transferido para a parte da frente.
O motor de 351 polegadas cúbicas cresceu de tamanho na época. Ele recebeu um kit stroker (curso do pistão aumentado elevando a cilindrada) e passou a deslocar 408 polegadas cúbicas (6,6 litros). A potência estimada é de 550 cv. Tudo isso logo atrás do motorista com um escapamento que traz a proteção térmica e mais parece uma cobra pronta para dar o bote.
A experiência começa quando me sento ao volante. É uma expressão comum no meio, mas não é exagero dizer que ele “veste o motorista”. Os pedais são um pouco deslocados para a direita. Curiosamente o Pantera é um carro para pessoas de estatura média, pelo menos se for passageiro. O motorista ainda consegue se ajustar com alguma opção de acerto.
Giro a chave. As bombas elétricas se fazem presentes. Som familiar. O silêncio é seguido imediatamente por algo ensurdecedor. O coração bate mais forte. O felino está mais vivo do que nunca e se faz presente. Imagino que dê para ouvir esse ronco na garagem do prédio logo em frente.
Como vimos este não é um De Tomaso Pantera comum por conta da preparação mecânica. O V-8 stroker tem comando bravo, da Ford Racing, o que fica claro através da marcha-lenta embaralhada. Uma acelerada de leve para limpar o conjunto e a carroceria sente a vibração. Tenho instrumentos à minha frente para monitorar a usina de força, além das várias chaves para acionamento de bomba elétrica, bomba de óleo, etc.
Tudo devidamente ligado. Hora de sair. A grelha é sempre algo fantástico e mostra o DNA italiano, algo compartilhado também por outras marcas da terra da bota. O comando bravo exige uma aceleração rápida. O felino não gosta de andar devagar, parece visivelmente contrariado e segue aos trancos.
Chegamos a um local mais livre e com asfalto liso. E isso não é fácil com o piso lunar da cidade de São Paulo. Pé embaixo e a reação é de launch control, no melhor estilo anos 70. Quem já acelerou um V-8 bravo sabe bem do que estou falando. O ronco invade o habitáculo e impede qualquer tipo de conversa. Só linguagem de sinais e mímica. Não dá para escutar nada.
Mãos firmes — e suadas no volante — para manter a trajetória retilínea e a velocidade sobe rápido. Ele engole o asfalto com voracidade e a primeira marcha também. A força G impede o movimento do corpo para frente e uma sensação de vida percorre o corpo. Provavelmente o sangue circula mais rápido, já que o coração parece saltar pela boca. Um sorriso de satisfação e um palavrão mental fecham a experiência.
Estamos na cidade e só dá para chegar até a terceira marcha. Quando foi recordista em 1996 ele obteve uma média de 250,6 km/h, com velocidade máxima de 290 km/h, recorde devidamente registrado através de uma plaqueta no painel. Isso é que é ver o mundo passando rápido.
Outra questão interessante sobre esse carro é justamente o tanque de combustível. Há alguns parágrafos falei sobre a mudança para um de menor capacidade. E ele tem uma autonomia bastante baixa, visto que o carro é sedento de gasolina premium. O consumo deve estar na casa dos metros por litro.
Dessa forma encerro a primeira participação no AE. Novamente agradeço o convite dos editores e seguimos em frente. Será uma ótima oportunidade para destrinchar as matérias em vídeo para um público que é tão autoentusiasta quanto este que vos escreve. Até a próxima semana!
GDB