Mesmo envolvida em uma profunda crise financeira e com sua imagem pública comprometida, a eleição para o próximo presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) desperta interesse de dois grupos: a situação busca a continuidade na figura do maranhense Giovani Guerra e a oposição quer a renovação proposta pelo paranaense Milton Sperafico. O atual presidente é Waldner Bernardo, pernambucano mais conhecido como “Dadai” e que deu continuidade a duas gestões desastrosas do conterrâneo Cleyton Pinteiro; “Dadai” assumiu o cargo em 2017 em uma disputa na qual teve 10 votos contra sete de Sperafico. Duas federações que apoiavam o paranaense foram impedidas de votar e uma terceira se absteve.
Até a eleição de Cleyton Pinteiro o processo eleitoral garantia um voto por cada campeonato promovido por cada federação de automobilismo (FAU), as chamadas “Faus” no jargão do esporte. Se tal cenário concentrava força nos estados mais atuantes e tinha efeito contrário naqueles de menor atividade, por outro lado refletia a realidade do esporte.Em uma manobra de bastidores, presidentes descontentes com a atuação do paulista Paulo Scaglione trabalharam para equalizar os votos; uma única chapa foi inscrita e o pernambucano foi aclamado por unanimidade.
A partir de então o número de campeonatos brasileiros definhou significativamente e descobriu-se depois um contrato de prestação de serviços firmado com a cunhada de Pinteiro. Na gestão de “Dadai” o kart ganhou proeminência e foi instituído o pagamento de pró-labore ao presidente e outros cargos até então não remunerados. A sede da entidade, com vista para a Marina da Glória, no Rio de Janeiro, está comprometida com dívidas e processos.
Milton Sperafico oficializou esta manhã sua candidatura à presidência da CBA após um longo período de reflexão e reuniões com vários presidentes das 23 FAUs reconhecidas: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. A polarização entre situação e oposição ganhou força este ano em função da crise que várias federações enfrentaram com a proibição de competições, quadro que afetou as finanças e fluxo de caixa de todas elas.
Tanto Giovani Guerra quanto Milton Sperafico declararam que suas gestões focarão no kart, modalidade onde tem início o processo de renovação de pilotos. O paranaense tem em seu currículo o conhecimento adquirido pela participação destacada de quase 15 representantes de sua família em várias categorias do esporte: ele mesmo competiu com sucesso em provas de F-3 e F-Ford. Empresário bem-sucedido no ramo de agronegócios, ele empunha a bandeira de apoiar o automobilismo regional para dar continuidade no processo de incentivar mais praticantes do esporte e fomentar o desenvolvimento de categorias que geram empregos e tecnologia.
Não é a primeira vez que o nome de Guerra é mencionado como sucessor de “Dadai”: nas ocasiões anteriores ele sempre se posicionou veementemente contra essa possibilidade. Dentista por profissão e entusiasta do kart, ele reside em Imperatriz Leopoldina e aparece no site da CBA como presidente da Federação Maranhense de Automobilismo.
Em um grupo de rede social que reúne pilotos e profissionais do automobilismo, o ex-piloto Paulo Gomes, que ocupou o cargo de diretor de planejamento e marketing da CBA nas duas gestões de Cleyton Pinteiro, anunciou hoje seu apoio à chapa de Giovani Guerra “onde estou para me candidatar como vice-presidente”. Embora Guerra se proponha a fazer um trabalho de renovação, declarações como a do ex-piloto sugere a continuidade do trabalho de Pinteiro, que atualmente é primeiro vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Automobilismo na gestão comandada pelo argentino Carlos Garcia Remohí.
WG