Tudo começou por acaso. Tenho uma amiga dos tempos de juventude, a Iris Schneider, morávamos no mesmo bairro em São Paulo. O contato se perdeu com o tempo, mas graças às redes sociais o contato foi refeito, ela agora mora na Alemanha.
Recentemente ela enviou uma foto de alguns anos atrás com meus agora já falecidos pais. Naquele tempo ela trabalhava na Lufthansa e os atendeu em uma de suas viagens.
Logo depois a Iris, sabedora de longa data do meu trabalho em prol dos Volkswagens clássicos, comentou sobre uma linda Kombi que ela tinha visto numa estada em Foz do Iguaçu, Paraná, e me enviou uma foto onde se via uma Kombi debaixo de um toldo em frente à fachada do Hotel das Cataratas, que hoje pertence à cadeia Belmond.
Foi o suficiente para que eu me interessasse por esta Kombi e decidisse ir atrás da história dela.
Iniciando o trabalho de detetive a distância
A primeira coisa foi falar com o setor de assessoria de imprensa do Grupo Belmond, que fica no Rio de Janeiro. Depois foi feito contato direto com o Hotel das Cataratas, para tanto meu amigo de Foz do Iguaçu, o Vardenir Franzote, ajudou e arranjou o telefone da recepção do hotel. Aí eu falei em dias diferentes com os simpáticos Marco Antônio e com o Ricardo, ambos da recepção do hotel.
Mas foi em um terceiro dia que através da Daniela, do setor de comunicação do hotel, eu recebi a sugestão de contactar diretamente a Andrea Emmerling, gerente-geral do hotel, e aí coisa realmente andou.
A Andrea diligentemente atendeu ao meu pedido de informações e fotos, o que permitiu a elaboração desta matéria.
Ela comentou: “Como essa foi nossa primeira pergunta especificamente sobre a Kombi, eu tive que tentar desenterrar todas as informações. Apesar de ser alemã, devo admitir que carros não são meu forte. Graças a Deus tive a ideia de contactar o Tiago Moraes Sarmento que foi o gerente-geral que comprou a Kombi há cerca de três anos. Foi a melhor ideia, pois ele foi capaz de fornecer uma abundância de informações e histórias que tenho certeza de que você achará úteis para seu artigo.”
Entrando na matéria em si
Vou seguir um questionário que eu tinha elaborado para obter as informações para esta matéria:
Que ano é a Kombi? Trata-se de uma Kombi ano 1971 que foi reformada em 2017, quando virou uma atração no Hotel das Cataratas.
Quem teve a ideia desta Kombi? Foi o Tiago Moraes Sarmento, gerente-geral do Belmond Hotel das Cataratas de agosto de 2016 a julho de 2017; mas ele, contactado pela Andrea, fez questão de dar o seu depoimento sobre isto, como segue:
“É uma história que vem desde criança. Aprendi a guiar carro num Fusca, aos meus 12 anos, em Porto, Portugal, com o meu treinador de rúgbi, Jaime Rocha, que voltando dos treinos me deixava guiar o seu carro. Lembro-me como se fosse ontem, era um Fusca 1960 azul clarinho. Como eu era muito pequenino quase não chegava com as minhas pernas aos pedais! Fiquei desde logo maravilhado com o Fusca, a sua personalidade e caráter. Essa paixão por “fusca e afins” estendeu-se rapidamente às Kombis. Já aos 28 anos (2008), quando me mudei para a Cidade do México, o meu fascínio continuava. Assim que cheguei queria muito comprar uma Kombi para andar na Cidade do México, e poder fazer viagens pelo México afora. Rapidamente entendi que a praticidade do meu desejo não tinha muito sentido e então voltei à ideia do Fusca. Comprei um Fusca 1974 amarelo (produzido no México), com 90% de originalidade e com matrícula de Carro Clássico.
Três anos mais tarde mudei-me para a China e infelizmente tive de vender o Fusca, que já estava 95% com peças de origem. Foi o carro mais bonito que tive até hoje. Meu fascínio pelos Clássicos VW continuava. Depois da China, mudamo-nos para Miami, depois Porto Rico e finalmente nos mudamos para o Brasil em 2016, para gerir o Belmond Hotel das Cataratas. Sabendo que o Brasil foi dos grandes produtores de Fuscas e Kombis, rapidamente encontrei o melhor especialista de restauração de Kombis do Brasil. A ideia era que esta Kombi desse caráter ao Hotel das Cataratas. Que essa viagem ao passado que um turista faz quando vai visitar as Cataratas, uma Maravilha da Natureza, seja coadjuvada com elementos que lembram a simplicidade do mundo e da vida e do trabalho do ser humano. Nada melhor que ter uma Kombi ao lado do Hotel das Cataratas, quando uma pessoa olha para o hotel desde as cataratas.”
Há quanto tempo ela está a serviço dos hóspedes? Desde outubro de 2017 esta Kombi encanta os hóspedes e os visitantes das cataratas do lado brasileiro, já que durante esta visita se passa em frente ao Hotel das Cataratas e se pode ver a Kombi estacionada estrategicamente na frente do hotel.
Quem definiu as cores da pintura no estilo “saia e blusa” da Kombi — branco e rosa (parecido com a cor externa do hotel)? O projeto envolveu o Tiago, então gerente-geral, a empresa que fez a reforma da Kombi e a arquiteta Flavia (da Froma Arquitetura). E o Tiago deixou o seu depoimento sobre esta questão também, dando sua opinião pessoal sobre a empresa de onde ele comprou a Kombi:
“Sabendo que o Brasil foi dos grandes produtores de Fuscas e Kombis, rapidamente encontrei o melhor especialista de restauração de Kombis do Brasil, chamado Alexandre Rizzo. Procurei na internet e vi um vídeo do Rizzo e sua família, apresentando o que faziam. O brilho nos olhos dele e a paixão que ele tinha pelo que fazia me fez logo marcar uma viagem até ele. E foi assim, viajei a São Paulo para conhecê-lo e lhe pedi para restaurar uma Kombi. No seu armazém de Kombis, escolhi pessoalmente a Kombi que iria ter uma nova vida, e em seis meses trabalhamos juntos na restauração de origem da Kombinha de Cataratas. Escolhi a cor rosa para o exterior da Kombi por ser a cor do Hotel das Cataratas.
Para os interiores, escolhi uma cor rosa mais escuro, que terá sido a cor original do Hotel das Cataratas em 1958. Todos os edifícios públicos eram rosa nessa altura. Descobrimos a cor original desses anos ao raspar as paredes exteriores do hotel, tinham muitas camadas de pintura até chegar à original.”
Quem dirige a Kombi, é um encarregado por ela, ou qualquer um dirige? Ela é utilizada somente em ocasiões muito especiais e o coordenador de Manutenção e Conservação do Hotel das Cataratas é quem a dirige.
Ela é alugada aos hóspedes ou é um serviço gratuito? É um serviço gratuito oferecido em casos especiais.
Para onde ela vai? Fica dentro do Parque ou vai para fora também? A que serviços ela é destinada? Esta Kombi realiza atividades dentro do parque e ocasionalmente vai até o aeroporto (que não fica longe do hotel), porém a mesma é mais utilizada para atividades dentro da área do hotel, que é uma área muito grande que faz parte do Parque Nacional do Iguaçu — que é uma reserva ecológica.
Existe algum relato sobre algum causo interessante envolvendo a Kombi? Um hóspede gostou muito da Kombi rosa e pediu para vendê-la para ele, independentemente do valor, ele estaria disposto a levá-la para a sua casa na Austrália.
Algo mais sobre a Kombi de Foz do Iguaçu? A nossa Kombi faz parte da nossa decoração de Natal e Páscoa e tem um “outfit” festivo por estas duas ocasiões. A Kombi de Foz do Iguaçu tem umas irmãs no Belmond Cap Juluca onde Tiago Moraes Sarmento trabalha atualmente como gerente-geral.
Kombis brasileiras no magnífico resort Belmond Cap Juluca no mar do Caribe
O Tiago pretende, dentro das especificidades de cada um dos hotéis da Rede Belmond (Cataratas de Foz do Iguaçu, Copacabana Palace, Cap Juluca, etc.) ampliar a colocação de Kombis “corujinha” no estilo Samba Bus à disposição dos hóspedes. Em relação ao resort na ilha de Anguilla no Caribe o Tiago disse:
“Depois de ver o sucesso da Kombi em Foz de Iguaçu, voltamos ao Caribe para restaurar e reabrir o resort Belmond Cap Juluca, que está numa ilha paradisíaca chamada Anguilla. Aqui comprei quatro Kombis* para o transporte de clientes no resort. Todas têm quebra-cocos (bagageiros de teto) e uma delas tem os bancos de trás virados para o centro criando uma salinha. Os hóspedes adoram e novamente as Kombis elevam a alma dum local nostálgico, anotando que o luxo está nas coisas simples e bonitas, assim como nas memórias.” Aliás, por falar em luxo, este resort na ilha de Anguilla tem uma diária média de aproximadamente US$ 4.000…
Pois é, o Tiago gosta tanto de Kombi que uma das Kombis de Cap Juluca aparece na galeria de fotos da página do Hotel na internet! Confira:
(*) – Estas quatro Kombis que estão no Caribe, como a do Hotel das Cataratas, foram convertidas para Samba Bus pela empresa “Rizzo Kombi” de Caieiras, SP, que também apoia o Tiago na manutenção de suas Kombis caribenhas com o envio de peças. As Kombis do Caribe são equipadas com ar-condicionado.
Anguilla é um território britânico ultramarino nas Caraíbas com 102 km² e 13.204 habitantes, que compreende a ilha de Anguilla e algumas ilhotas próximas, e que tem fronteira marítima, no canal de Anguilla, com a ilha de São Martinho (dividida em uma parte holandesa, Sint Maarten, e uma parte francesa, Saint-Martin). A oeste, tem como vizinhas mais próximas as Ilhas Virgens Britânicas. A capital de Anguilla é The Valley.
Anguilla tornou-se um paraíso fiscal popular, não tendo ganhos de capital, patrimônio, lucro ou outras formas de tributação direta de pessoas físicas ou jurídicas. Em abril de 2011, diante de um déficit crescente, a ilha introduziu uma “taxa de estabilização provisória” de 3%, a primeira forma de imposto de renda de Anguilla.
Antes da chegada dos europeus, a ilha chamava-se Malliouhana, que significa “serpente do mar em forma de arco”. Era habitada pelos povos indígenas Arahuaco, que se dedicavam à produção de milho, algodão, batata doce e pesca. Foi descoberta em 1493 por Cristóvão Colombo, e seu nome “Anguilla” é provavelmente devido à sua forma alongada.
O terreno é em geral, rochoso e de pouca elevação. Não há rios, só algumas pequenas lagoas na ilha de Anguilla. O clima é tropical com uma temperatura média de 27 °C. O período mais quente é de julho a outubro e o mais frio, de dezembro a fevereiro. A precipitação média anual é de 900 mm, os meses mais chuvosos são setembro e outubro e os mais secos são fevereiro e março. A ilha recebe duas tempestades tropicais por ano e furacões que vêm de repente, que ocorrem entre julho e novembro. A ilha de Anguilla possui o Aeroporto Anguilla-Clayton J. Lloyd.
Com o auxílio do Google Maps eu explorei alguns detalhes da localização de Anguilla, que apresento na forma de alguns mapas:
O Tiago estava atarefadíssimo, pois o resort iria ser reinaugurado, após uma reforma, no dia 01/11/2020 (ontem), mesmo assim ele encontrou um tempo para tirar uma foto dele lá em Anguilla com uma de suas quatro Kombis, agora caribenhas:
Com isto acho que está bem esclarecido onde as quatro Kombis “corujnhas” brasileiras foram parar. As cores destas Kombis estão de acordo com a linda cor turquesa do mar do local.
Terminamos mais uma matéria e desta vez vocês acompanharam como as informações foram sendo obtidas até que se tivesse o conteúdo para apresentar aqui na coluna.
Eu gostaria de agradecer à Iris Schneider pela dica da Kombi do Hotel das Cataratas. Depois o agradecimento vai ao pessoal mencionado do Hotel das Cataratas em Foz do Iguaçu, em especial à Andrea Emmerling. Um agradecimento e parabéns pela introdução das Kombis no hotel de Foz do Iguaçu e no resort do Caribe ao Tiago Moraes Sarmento. Em suma, foi um trabalho em conjunto. Não só troquei e-mails com a Andrea e o Tiago, como tive a oportunidade de falar com eles por telefone, o que deu um colorido muito especial à matéria em si.
Como aficionado das “Velhas Senhoras” eu fiquei muito contente em ter escrito esta matéria e em ter podido divulgar a existências destes mascotes em locais de alto luxo onde elas brilham entre seus hóspedes.
AG
Nesta matéria temos fotos enviadas pela Iris Schneider. A Andrea Emmerling enviou fotos em alta resolução da Kombi do Hotel das Cataratas (foi contratado um fotógrafo para fazer estas fotos – o que demonstra o respeito dela para com este trabalho). O Tiago Morais Sarmento enviou as fotos de Kombis do Resort do Caribe, bem como a foto dele com seu Vocho amarelo. Foram feitos prints do Google Maps e pesquisadas fotos na Wikipédia, onde foram pesquisadas informações para este texto.
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