Dentre os vários sistemas avançados de auxílio ao motorista (Adas, a sigla em inglês) dos carros atuais que o AE tem testado, um deles é figura constante, o monitor de ponto cego (foto de abertura). Trata-se de uma luzinha ou ícone que se acende no espelho quando um veículo se aproxima numa das faixas adjacentes.
Acho curioso e ao mesmo tempo engraçado, pois os espelhos convexos atuais, sem exceção, permitem ver as faixas ao lado sem nenhuma limitação. Ou seja, é um auxílio totalmente dispensável em minha opinião pelo simples fato de não existir mais ponto cego.
Só que para os espelhos convexos cumprirem sua função e essencial estarem ajustados corretamente, o que nem todos sabem fazer.
No “Auto Esporte” de domingo, que por acaso pequei o final ao aguardar o GP Emilia Romagna de F-1, vi o apresentador e piloto do programa, César Urnhani, ensinar errado como ajustar os espelhos.
O correto é deixar visível parte da lateral do nosso carro — que ele condenou por prejudicar o campo de visão dos espelhos — esquecendo-se que ver a lateral do próprio carro (uma “lasca” da carroceria) é o que proporciona segurança, pois é a referência do carro que estamos dirigindo em relação aos demais nas duas faixas adjacentes.
Claro, ele enalteceu a utilidade do monitor de ponto cego que, como eu disse, não existe mais.
O ponto cego
Só há ponto cego quando o campo de visão dos espelhos não cobrem as faixas adjacentes. Quando os espelhos do lado esquerdo eram planos — daí muitos ainda os chamarem de “espelhinhos” — isso realmente era um problema. No Velho Continente isso foi resolvido com a adoção de espelhos convexos, cuja propriedade é ampliar o campo de visão, embora reduzam a percepção de tamanho e distância do que está ao lado e atrás.
Isso depende do raio de curvatura do espelho. A norma de segurança americana FMVSS 111 estabelece que o raio de curvatura do espelho não pode ser menor que 889 mm, nem maior que 1.651 mm. Quanto menor o raio, maior a distorção. Lembro-me de quando fui conhecer o Ka no campo provas da Ford em Tatuí, bem antes do lançamento, os espelhos tinham raio de 1 m, e estranhei, era muita “lente”. Mas lá mesmo eu soube que para o Brasil o raio seria maior, coisa de 2,5 m.
Curiosidade: nos EUA o espelho direito só é obrigatório quando o interno não prover visibilidade satisfatória da faixa adjacente da faixa da direita.
Outra curiosidade: alguns Nissan Maxima chegaram aqui por volta de 2000 com ambos os espelhos planos, obviamente erro de especificação da versão destinada ao Brasil. Dirigi um numa avaliação, foi como se não tivesse espelho direito…
É devido a esse efeito-lente de redução que até hoje nos carros para mercado americano a mesma FMVSS 111 obriga a haver no espelho direito (o esquerdo continua plano lá) o aviso Objects in mirror are closer than they appear (Os objetos no espelho estão mais próximos do que parecem estar). Já nos carros europeus esse aviso felizmente não existe.
O admirado espelho convexo
Sempre achei de máxima importância e melhor retrovisão possível. Quando entrei para a Fiat em 1978 e passei a usar um 147, ocorreu-me de pedir a Betim um espelho esquerdo convexo de 147 de exportação. Em poucos dias me chegou um. Que diferença, que segurança no trânsito!
Com a reabertura das importação de automóveis em 1990, os que chegavam da Europa tinham os dois espelhos convexos. Como era bom e seguro dirigi-los.
Quando eu tinha um Kadett SL/E ’92, de espelho esquerdo plano, por pouco não causei um acidente por deficiência de campo de visão. Tive então a ideia de procurar uma firma aqui do bairro (Moema), a MD27, que trabalhava com vidros e espelhos, que se prontificou a cortar um espelho convexo direito de S10 para montá-lo na carcaça esquerda do Kadett. Ficou perfeito.
Alguns anos depois, já trabalhando na GM e usando Omega, consegui na engenharia um espelho convexo lado esquerdo de Opel Omega, magnífico. Era uma “tela de TV”, tamanho o campo visual, exatamente igual ao da toto acima.
Fiz o mesmo, desta vez diretamente com o fornecedor Metagal, quando comprei um Celta para minha filha e no ano seguinte para o Celta aqui de casa. Ambos passaram a ter espelho esquerdo convexo!
Felizmente, não sei precisar quando exatamente, talvez a partir de 2010, o espelho esquerdo de todos os carros fabricados no Brasil passou a ser convexo, assim estando até hoje. E melhor, sem o ridículo e patrulheiro aviso de que os objetos no espelho estão mais próximos do que parecem estar.
BS