Nesta matéria homenageio e reverencio Alex Periscinoto, falecido há poucos dias aos 95 anos em consequência de complicações resultantes do covid-19. Grande publicitário, artista plástico, conferencista, jurado de Cannes, entre outras atribuições, ele foi, sobretudo, uma grande figura humana e meus contatos com ele eram sempre gratificantes.
Meu encontro com o Alex foi no lançamento do primeiro trabalho realizado pelo museu Memória da Propaganda, da série “A História da Publicidade do Automóvel no Brasil”, trabalho esse dedicado à publicidade do Fusca. O evento foi realizado no Clube Paulistano, em São Paulo, no final da década de 80, para o qual fui convidado pela sra. Áurea Helena Silveira, criadora do museu, com quem eu tinha contato.
O material foi apresentado na forma de uma fita cassete VHS e o apresentador deste trabalho foi o Alex Periscinoto. Ninguém melhor do que ele para esta ocasião, já que foi ele, pela agência de publicidade Almap (Alcântara Machado Publicidade), quem lançou as bases e depois realizou a propaganda da Volkswagen entre 1960 e 1998 de forma brilhante.
Na fita são apresentadas várias propagandas que foram comentadas pelo Alex Periscinoto com muita propriedade, já que ele conhecia a história da criação de todas elas. É um trabalho muito interessante para quem se interessa tanto por propaganda quanto pelos veículos Volkswagen, com ênfase no Fusca.
O vídeo (08:20) abaixo é um recorte deste trabalho e dá uma amostra do que foi feito, uma pequena antologia da propaganda Volkswagen no Brasil:
Durante o evento tive oportunidade de conversar longamente com o Alex, trocando ideias sobre vários assuntos. Foi um contato muito bacana e que deixou a porta aberta para um contato posterior. Na época eu dirigia o Sedan Clube do Brasil e ele disse que “já me conhecia” das minhas atividades com o clube.
Já o segundo contato foi um bom tempo depois, em meados de 2011. Eu estava preparando uma palestra sobre a propaganda Volkswagen feita pela DDB – Doyle Dane Bernbach, agência de publicidade de Nova York e que teria uma parte sobre a propaganda brasileira que era muito parecida com a americana.
Do que eu tinha lido sobre o assunto tinha sobrado uma dúvida sobre como o Alex Periscinoto acabou seguindo o estilo da DDB no Brasil. Para ter uma informação correta eu pedi uma reunião com o Alex Periscinoto. Naquele tempo ele já havia saído da Almap, onde era sócio, e estava em sua nova empresa a Sales, Periscinoto, Guerreiro & Associados.
Durante esta reunião ele esclareceu como as coisas tinham acontecido, como descreverei abaixo. Aproveitei a ocasião e o presenteei com meu primeiro livro, “EU AMO FUSCA – A história brasileira do carro mais popular do mundo”. Comentei sobre o assunto tratado a partir da página 65 do livro quando eu discorri sobre a, a meu ver, infeliz propaganda de aviso da saída de linha do Fusca em 1986 com a frase: “Às vezes o avanço tecnológico de uma empresa não está no que ela faz. (imagem apagada do VW Fusca) Mas no que deixa de fazer.”; a conversa sobre este assunto ficou por ali mesmo:
Alex Periscinoto e a propaganda VW no Brasil
Em 1958 Alex Periscinoto era gerente no Mappin e procurava novas maneiras de divulgar a empresa pertencente a um grupo holandês, o mesmo que hoje em dia possui a C&A.
Numa dada oportunidade ele viu em uma publicação americana a propaganda da loja Ohrbach que o deixou impressionado a tal ponto de entrar em contato com esta empresa e pedir para fazer uma visita. A Ohrbach concordou e o Alex foi a Nova York. Chegando lá ele foi levado pela Ohrbach a conhecer a DDB Doyle Dane Bernbach que era a agência de propaganda dela..
Nos escritórios da DDB, ao entrar numa sala, ele viu duas pessoas preparando a campanha para a VW, eram o Julian Koenig e o Helmut Krone, um de redação e outro de criação — que trabalhavam em dupla num sistema revolucionário criado pelo Bernbach — e que depois foi implantado por Alex Periscinoto no Brasil. Na parede um esboço feito em papel vegetal, no estilo “saia e blusa”, na parte superior uma ilustração e embaixo um título com texto. Isto foi algo que impressionou o Alex profundamente, algo que ele ainda não tinha visto e era simplesmente brilhante.
Algum tempo depois, em 1960, ele recebeu um convite de trabalho do publicitário Caio de Alcântara Machado, fundador da Almap em 1954. Alex Periscinoto perguntou qual era o objeto da campanha e Caio respondeu: o Fusca. O Alex Periscinoto não podia acreditar no que estava ouvindo, pois ele tinha testemunhado os primeiros passos da propaganda VW feita pela DDB nos EUA e ainda estava sob o forte impacto do que tinha visto.
Alex Periscinoto’ se baseou no esquema “saia e blusa” e preparou uma campanha que foi aprovada pelo então diretor de publicidade da VW do Brasil, John Corduan, iniciando uma trajetória de mais de 30 anos de Propaganda VW desenvolvida no Brasil dentro do esquema inicialmente criado pela DDB.
Com isso, no Brasil a propaganda da Volkswagen não foi feita por uma filial da DDB como no resto do mundo, mas pela Almap, porém seguindo a mesma filosofia, incluindo a propaganda Volkswagen brasileira na filosofia global adotada pela Volkswagen para suas propagandas.
O último contato
Desta vez foi Alex Periscinoto que me chamou para um papo e eu já tinha a noção sobre o que seria. Sim, depois de muita conversa sobre vários assuntos chegamos ao foco da reunião — a propaganda sobre a saída de linha do Fusca em 1986.
Como eu já previa isto. levei meu notebook com material de como tinham sido as despedidas do Fusca em várias partes do mundo, que usei como base na conversa para esclarecer o meu ponto de vista. Apresentei a matéria que originalmente foi publicada no Portal MAXICAR ; e que depois de alguns anos foi republicada na minha coluna AE, MACH’S GUT, GROßER! (VALEU, GRANDE) .
Ressaltei como havia sido a despedida na Alemanha e depois no México, neste ponto eu rodei o vídeo abaixo:
No que o Alex Periscinoto concordou que estas despedidas foram muito bem feitas, mas ele disse que na época, em 1985, a vontade da Volkswagen do Brasil era fazer uma propaganda como aquela que acabou saindo. Mas ele concordou que poderia ter sido feito algo melhor.
Mais para o final do encontro eu acabei ligando a minha câmera e filmei um pouco, disto resultou o vídeo (03:27) abaixo que fica como um registro desta pessoa tão especial que foi o Alex:
Epílogo
Ele escreveu uma autobiografia com o título de “Mais vale o que se aprende que o que te ensinam” (Editora BestSeller), que pode ser encontrado na Estante Virtual (loja da internet de livros usados), para quem quiser conhecê-lo um pouco melhor.
Dentre o material disponível na internet sobre o Alex Periscinoto destaco o depoimento dele ao jornalista Paulo Macedo, originalmente publicado no site PROPMARK no dia 24 de junho de 2013. A republicação deste depoimento faz parte de uma homenagem pelo aniversário de 95 anos do Alex Periscinoto publicada em 9 de abril de 2020. Neste depoimento ele fala de dois pontos altos de sua vida, a saber, a ida à Nova York em 1958 e o trabalho que disto decorreu, e de sua participação como jurado nos Festivais Internacionais de Propaganda em Cannes, na França. É uma leitura interessante.
Assim termina esta singela homenagem. Eu gostaria de reiterar a minha alegria de tê-lo conhecido, e de ter tido a chance dos contatos com ele. Para mim, fica a saudade de uma pessoa brilhante, humilde e muito querida.
Descanse em paz, meu amigo.
AG
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