Para essa curiosa comparação, escolhi dois suves “hi-tech”,de um lado o híbrido Volvo XC90 R-Design, e do outro, o Audi e-tron Sportback totalmente elétrico. Não vou considerar o que um carro tem de melhor que o outro, ou o que cada uma dessas marcas oferece aos seus compradores, mas me ater ao sistema de propulsão de cada um. O Volvo tem um motor de combustão interna, turbocarregado, que trabalha em associação a um motor elétrico e a um câmbio automático epicíclico de oito marchas. Já o Audi tem dois motores elétricos, um em cada eixo, alimentados por uma bateria posicionada no assoalho por questão de seu tamanho, e em consequência o centro de gravidade do veículo é mais baixo, proporcionando maior estabilidade e superior comportamento em curvas
É preciso deixar claro que não dirigi os suves por conta de minha falta total de visão, com o leitor e a leitora sabem, para isso valendo-me do meu filho Lucca. Mas mesmo sem poder enxergar minha percepção sensorial é alta, de modo que mesmo no banco do passageiro eu consigo sentir bastante o veículo como um todo
Na minha opinião, os carros híbridos são uma espécie de ponte entre os convencionais com motor a combustão, e os totalmente elétricos. Explico! Passamos o século 20 e o início desse século 21 com a esmagadora maioria de veículos equipados com motor a combustão. Postos de serviço e reabastecimento, e toda a infraestrutura de reparação que temos hoje no mundo, foram desenvolvidas para esses carros. Agora estamos num ponto de mudança, em que as exigências de governos em termos de emissão de poluentes — falam poluentes, no plural, mas é um só, o dióxido de carbono (CO2) —, silêncio (discutível, carros hoje são extremamente silenciosos), consumo de petróleo (como estivesse acabando…),, e por aí vai, estão apontando para carros movidos a energia elétrica que, convenhamos, não constituem nenhuma novidade.
No início do século passado, os veículos elétricos disputavam o mercado com os de motor a combustão. Mas a liberdade do reabastecimento, o alcance, e até mesmo o empenho das petroleiras em vender seu produto, disponibilizando o combustível em todas as partes, fizeram com que o motor de combustão ganhasse a batalha pela preferência do consumidor. Mas os tempos mudaram, há um pensamento generalizado de que o automóvel como conhecemos hoje é uma ameaça à vida e o carro elétrico, a salvação.
Por isso, a indústria automobilística volta — novamente — seus olhares para a propulsão elétrica, devido ao natural receio de ficar para trás em vista do sucesso de uma outra marca de carro elétrico, combinado com o banimento de motores a combustão insuflado principalmente pela União Europeia e que vem sendo “macaqueado”por outros países. O híbrido, como já dito, é uma fase intermediária desse processo de mudança que já se iniciou e, pelo visto, não volta atrás. Acredito que no futuro a propulsão dos carros, caminhões e ônibus será mesmo elétrica. Mas enquanto a tecnologia não consegue adequar baterias que possam ser recarregadas tão rapidamente quanto encher um tanque de combustível, ou mesmo que não tenhamos uma rede eletrificada de postos de serviço que possam carregar tranquila e suficientemente os futuros veículos elétricos, os híbridos, como o Volvo citado, ganham força. Tudo começou, é bom salientar, com o híbrido Toyota Prius em 1997, portanto há 24 anos..
O que são os híbridos? Eles são dotados de motor de combustão interna, que, além de auxiliar na propulsão do veículo,, também oferecem a energia mecânica para acionar um motor-gerador que recarrega uma bateria que alimenta um motor elétrico.. Com esse conjunto, os carros híbridos acabam oferecendo um baixo consumo de combustível fóssil (ou álcool, caso do Corolla Híbrido), e são bons nessa fase de transição entre combustão e eletricidade.Como consomem menos combustível do que um carro de motor a combustão, especialmente no uso urbano, suas emissões do “venenoso” gás (CO2, o mesmo que exalamos dos nossos pulmões) que vai mudar o clima do planeta é obviamente menor.
O Volvo XC90 R-Design (foto de abertura) está entre esses bons veículos de transição. Tem um motor turbo 2-litros a gasolina que produz bons 320 cv e trabalha em conjunto com um motor elétrico mais modesto, de 87 cv, que, na contrapartida, exige menos baterias e pesa menos. Combinadas as potências, essa dupla de combustão e eletricidade entrega bons 390 cv na potência final, e, por isso, movem com boa desenvoltura esse grandalhão da Volvo, que custa perto dos 500 mil reais.
Suas marcas na prova do 0 a 100 km/h são de 5,7 segundos, atingindo uma velocidade máxima de aproximadamente 220 km/h. Nada mau para um carro quase 2.400 kg e tamanho (pouco menos de 5 metros de comprimento, por 2 metros de largura). Um legítimo híbrido, que apesar dos índices de consumo bastante atraentes, exige a manutenção típica do motor a combustão, do câmbio automático de 8 marchas, e também do motor elétrico, que eventualmente pode precisar de um reparo, embora este seja mais simples.
Já o Audii e-tron, diferentemente do Volvo, é movido exclusivamente a energia elétrica. Tudo nele muda em relação ao XC90, inclusive o abastecimento, que deve ser feito em uma tomada elétrica, seja residencial (com tempo de recarga mais longo), ou em postos de recarga veicular, que ficam espalhados pelos grandes centros urbanos, ou alguns pontos específicos em estradas e rodovias. No caso do e-tron, esses postos de recarga permitem carregar até 80% da bateria em cerca de 30 minutos. Mas a bateria do Volvo também pode ser carregada por fonte externa.
Não são os cinco minutinhos que você leva para abastecer um carro com gasolina, álcool ou diesel, mas já é uma grande vantagem quando comparadas as recargas que exigem de 10 a 12 horas na tomada durante a noite, para que o carro possa ser usado no dia seguinte.
Isso porque o motorista de carro elétrico não pode dispensar um planejamento de onde pretende ir, onde existem tomadas e postos de reabastecimento, quais as distâncias a serem percorridas, e por aí vai. Como nos aviões, o proprietário precisa se preparar, afinal não se pode abastecer um elétrico em qualquer lugar. Novos tempos.
O e-tron possui dois motores elétricos, cada um ligado a um eixo. Na dianteira, um de 183 cv, e na traseira outro mais potente, com 225 cv, resultando em 408 cv no total. Falando de torque, os motores totalizam cerca de 68 m·kgf, inteiramente disponíveis a partir de 0 rpm. Não preciso dizer que o menor toque no pedal do acelerador permite a esse Audi uma arrancada que impressiona. É uma característica dos motores elétricos.
Ainda falando do e-tron, ele tem uma aerodinâmica muito bem trabalhada para um suve, mostrando um coeficiente aerodinâmico (Cx) de baixíssimo 0,25. Com esse Cx de destaque, ele consegue marcas de consumo e desempenho excelentes: 446 km de alcance, 0 a 100 km/h em 5,7 segundos e velocidade final limitada em 200 km/h.
Mas tudo tem seu preço, e no caso desse e-tron Sportback, o modelo supera a casa dos R$ 550 mil na versão de entrada. Outros fatos que impressionam, como o peso da bateria, mais de 700 kg, e o sistema de arrefecimento da bateria, que tem mais de 22 litros de líquido, que pode circular até mesmo se o carro estiver estacionado desligado ao sol e a temperatura das baterias superarem as marcas consideradas ideais. É no mínimo curioso que, mesmo não tendo um motor de combustão interna, o e-tron possua radiador e bomba d’água.
Barulho ao rodar? Praticamente nenhum, com exceção do contato dos pneus com o solo, e do trabalho das suspensões pneumáticas. Para alguns, essas podem ser características bem positivas, e para outros podem ser bem sem graça. Gostando ou não, é um carro que, nem de longe, lembra os antigos e bons motores movidos a combustível líquido, que roncavam e traziam emoções. Esses, infelizmente, estão sendo demonizados por estranhos governos. Serão esses os novos tempos que queremos para o nosso lar Terra?
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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