Ter uma picape estacionada à porta de casa não é novidade para mim, especialmente se ela tiver o logo Fiat. Desde as Fiorino dos anos 80 às Strada, surgidas em 1998, que vários destes utilitários com caçamba derivados do Uno e do Palio me serviram. Os motores? Muitos; dos 1,3, 1,5 e 1,6 litro das Fiorino aos tantos da Strada, de 1,6 litro e, sucessivamente, 1,3, 1,4 e até 1,8 litro.
Motores variados, configurações de carroceria idem, mas um ponto conecta todas elas: a competência. E não preciso eu — mesmo com este vasto currículo de picapeiro Fiat —, vir dizer isso: é o mercado que diz. As pequenas picapes “by Fiat” são as líderes de vendas do segmento há muito.
Agora, olhando pela janela de casa, vejo esta nova Strada protagonista deste 31º Teste de 30 Dias do AE. É a versão topo, Volcano CD, em um vermelho de dar inveja às Ferrari, cujo preço lambe assustadores 90 mil reais, o que a faz empatar com as versões de entrada da mais parruda Fiat Toro.
Não vou gastar meu verbo descrevendo minuciosamente esta nova Strada: meu colega Gerson Borini já “descascou” uma Strada Volcano CD para o Auto Entusiastas em um teste “NO USO”, que você pode ler clicando aqui. Curiosidade: esta Strada em frente de casa é a mesma que Gerson testou em agosto passado, só que agora está cerca de 10 mil km mais rodada, tendo sido entregue a mim com pouco menos que 16 mil km no hodômetro.
Fui buscar esta nova Strada numa concessionária da zona oeste de SP, de bicicleta. Uma pedalada de cerca 7 km sob um sol africano e, na chegada, a primeira ação (que justifica ter uma picape) foi arremessar a bicicleta na caçamba sem muita cerimônia, oportunidade para notar que a porta traseira não desaba de uma vez, pois sua ação é contida por uma barra de torção. Aliás, esta evolução chega junto com o reforço da própria porta, agora capaz de suportar maior peso.
Abrir a capota marítima foi fácil, assim como deslocar suas travessas, cujo encaixe é simples e prático. A impressão geral é que há capricho construtivo nesses componentes, apesar de achar que a maçaneta da porta traseira poderia ser mais robusta. Falando nela, ponto a favor é o fato de a porta traseira poder ser travada via comando remoto da chave canivete. Nem a cara Hilux GR-S II de um 30 Dias recente tinha este útil dispositivo.
O giro em volta desta nova Strada, antes mesmo de assumir o volante, me induz a pensar que seu tamanho cresceu, talvez por trazer elementos de design herdados da Toro. É bonita? Melhor dizer “chamativa”, com a grade, o proeminente spoiler e os faróis ocupando o centro das atenções. A traseira é alta, sem grande charme, mas um ponto forte do design é o arco de proteção (“Santo Antônio”) estilizado, de onde partem as travessas que se prolongam sobre o teto. Caixas de rodas emolduradas pelo clássico plástico preto e proteção no mesmo material na parte inferior das portas deram à esta nova Strada uma aparência robusta, mas menos “empetecada” do que a versão Adventure que sucedeu.
Uma vez a bordo, me encrenco com algo que considero inadequado: o teto com forração preta. Para quê? Em um carro com cabine pequena como a da Strada, a sensação causada pelo teto preto é, para mim, claustrofóbica. Ah, suja menos… Gente, teto para sujar leva anos! A ideia era dar um ar de esportividade? Vá lá. Mas eu particularmente preferia um teto claro.
Sentado ao volante, descubro que o dito cujo só se move em altura, e por isso a posição de dirigir será de compromisso: ou a pedaleira fica mais distante do que gosto, ou o volante mais perto. O encosto dos bancos tem laterais bem proeminentes, o volante tem pegada boa e é cheio de botõezinhos destinados ao (ótimo) computador de bordo e à central multimídia, que domina o centro do painel, e é ladeada pelas saídas de ar centrais. Porta-objetos? Vários, no tosnsole e entre bancos. Nas portas, bom espaço para tralhas. Cabe uma garrafa? Das pequenas.
Espeto a primeira e dou a largada ao teste, lembrando que o último carro testado no 30 Dias, o VW Nivus, sofreria no para e anda desse dia quentíssimo para refrescar a cabine com seu sistema de ar condicionado “curto”. Na Strada, o sistema manda bem, e a cabine pequena logo fica a temperatura agradável. Detalhe: o carro estava parado sob o sol na concessionária antes da retirada, que aconteceu por volta do meio-dia.
Primeira impressão dinâmica vem do câmbio, cuja 1ª marcha é curtíssima, algo justificável por ser a Strada Volcano CD um carro capaz de carregar mais de meia tonelada, 650 kg mais exatamente e, principalmente, por ser seu motor o valente — mas relativamente pouco potente — Firefly 1,3 litro, com pouco mais de 100 cv e torque máximo na casa dos 14 m·kgf. Pouco? Veremos no decorrer da avaliação, mas certamente a Strada não tem força transbordante.
Nesta primeira semana o uso da Strada foi totalmente urbano: nos primeiros dias percursos truncados, mas no final a rotina mudou, e rodei muito por vias expressas, sem trânsito, o que certamente ajudou a obter marca de 8,2 km/l de consumo médio, bem razoável — considerando que o combustível no tanque era o álcool. Porém, é necessário destacar que nos dias de para e anda o computador de bordo mostrava míseros 5,4 km/l.
Destaques? O bom ajuste de suspensões, que deixou esta Strada mais para carro do que picape, o comportamento da direção com assistência elétrica e o câmbio de engates macios. Andando sempre sem carga (à parte no dia da bicicleta) e sozinho, conclui que usar a 2ª marcha para sair da imobilidade é o ideal.
O que seguirá nas próximas semanas? O de sempre: viagens, troca do combustível e caçamba cheia, ou quase isso. Como de hábito, tentarei dar o uso mais plural possível à nova Strada que, vejam vocês, em janeiro de 2021 foi o 2º carro mais vendido do Brasil, atrás apenas do Chevrolet Onix, o que comprova que a nova versão da picape Fiat Strada continua como as anteriores, no gosto do povo.
RA
Fiat Strada Volcano CDFirefly 1,3 GSE flex
Dias: 7
Quilometragem total: 362 km
Distância na cidade: 320 km (88%)
Distância na estrada: 42 km (12%)
Consumo médio: 8,0 km/l
Melhor média (álcool): 10,8 km/l
Pior média (gasolina): 5,4 km/l
Média horária: 24,0 km/h
Tempo ao volante: 15h06 minutos
FICHA TÉCNICA NOVA STRADA VOLCANO CABINE DUPLA 2021 | |
MOTOR | |
Designação | 1.3 GSE Flex |
Descrição | 4-cil. em linha, dianteiro,transversal, bloco e cabeçote de alumínio, comando no cabeçote, corrente, variador de fase, duas válvulas por cilindro, injeção no duto, coletor de escapamento integrado ao cabeçote, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70,0 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 101/6.000 // 109/6.250 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 13,7/14,2/3.500 |
Corte de rotação (rpm) | 6.400 |
Rotação de marcha-lenta (rpm) | 750 |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Bateria, tensão (V) | 12 |
Bateria, capacidade (A·h) | 50 |
Alternador, corrente (A) | 110 |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Monodisco a seco, comando hidráulico |
Diâmetro do disco (mm) | 190 |
Tipo | Transeixo com câmbio manual de 5 marchas mais ré, comando a cabo, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,429; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,600 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido tipo ômega, mola parabólica longitudinal por lado e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3 |
Relação de direção (:1) | n.d. |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/228 |
Controle | ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
Duplo circuito hidráulico, disposição | n.d. |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6Jx16, offset 40 |
Pneus | 205/55R16 ATR |
Estepe | Aço, 4Jx16, offset 15, pneu T125/80R16, sob a caçamba |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, picape cabine-dupla, 4 portas, subchassi dianteiro |
CAÇAMBA | |
Capacidade (L) | 844 |
Superfície (m²) | 1,310 |
Largura máxima/entre as caixas de roda (mm) | 1.310/1,059 |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 55 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.179 |
Carga útil | 650 |
Peso rebocável (sem freio) | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.460 |
Largura sem/com espelhos | 1732 / 1.967 |
Altura | 1.595 |
Distância entre eixos | 2.737 |
Bitola dianteira/traseira | 1.457/1.480 |
Distância mínima do solo | 194 |
ÂNGULOS (º) | |
Entrada/rampa/saída | 23,4/28,6/22 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 12,7/11,5 |
Retomada 80-120 km/h em 5ª (s) | 21/18,4 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 163/166,5 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,9/8,3 |
Estrada (km/l, G/A | 13,5/9,5 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 31,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.800 |
Rotação à vel.máxima em 5ª (rpm) | 5.300 |
Alcance nas marchas a 6.400 rpm (km/h) | 1ª 38; 2ª 66; 3ª 112; 4ª 156; 5ª 166 |