A marca Audi passou a ser conhecida no Brasil a partir de 1994, quando nosso tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna, optou, aconselhado por seu companheiro de equipe Gerhard Berger, que a melhor marca para ser importada para o nosso mercado era a Audi, uma fabricante alemã ligada à tecnologia automobilística e a construção de carros que se destacavam por utilizar, construtivamente, soluções mecânicas que a diferenciavam de suas concorrentes da Alemanha BMW e Mercedes-Benz.
S2 e S4
Em que pese a morte de Senna 1º de maio de 1994, um mês depois da constituição da Senna Import, a marca Audi prosperou no Brasil e, já em 1995, liderava as vendas do segmento de importados de luxo. A Senna Import, inicialmente trouxe para cá os Audi 80, 100, S2 (versão esportiva do 80), e S4 (versão esportiva do 100). Só para registro, o Audi 100 era dotado de um motor V-6 de 2,8 litros que desenvolvia 174 cv, enquanto o 80 trazia outro V-6, mas de 2,6 litros e 150 cv. Ambos poderiam vir equipados com câmbio manual de cinco marchas ou automático de quatro. Sempre com o conjunto motor-transmissão disposto longitudinalmente, esses carros tinham como principal característica a tração dianteira, e não traseira como a dos concorrentes citados.
Mas, bons mesmo eram os esportivos. Estamos falando do S2 e S4, que partilhavam praticamente a mesma mecânica: motor de cinco cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro (20 válvulas), e duplo comando no cabeçote. Com 2,2 litros de cilindrada e supercarregados por um turbocompressor com intercooler, ele tinha uma pressão de turbo carregamento de pouco mais de 1 bar. Com essa configuração, esse motor gerava 230 cv com uma curiosidade: um overboost proporcionava uma sobrepressão de carregamento de 0.2 bar por cerca de 15 segundos, entregando um acréscimo de potência de 28 cv que chegava a 258 cv, fato que oferecia ultrapassagens com menores espaços e arrancadas sempre que o motorista pisasse rápido a fundo no acelerador.
Em desempenho, o S4 fazia de 0 a 100 km/h em cerca de 7 segundos, enquanto o S2, mais leve, completava a mesma prova em cerca de 6,2 segundos. Outro grande diferenciador desses carros era a tração integral com diferencial central, além da possibilidade de bloqueio do diferencial traseiro para os pisos de baixa aderência. Com essas características peculiares, a Audi já tinha obtido muitas vitórias nos ralis dos anos 80, no caso com o emblemático Audi quattro.
Tanto o S2 quanto o S4 começaram a ser importados em fevereiro de 1994, e continuaram até 1995, quando foram descontinuados pela Audi na Europa. Carros raríssimos e exclusivos já na época (para o Brasil, foram trazidas 37 unidades do Audi S2 e 30 do Audi S4, custando cerca de US$ 82 mil e US$ 92 mil, respectivamente), esses carros hoje são considerados verdadeiras preciosidades, que têm preços bem altos até no exterior, sempre acima dos 100 mil dólares atuais.
RS 2 Avant
A cereja do bolo ficou mesmo para a queridinha da Audi dos anos 90: a famosa e disputada RS 2 Avant (foto de abertura), a perua do Audi 80 que ganhou tudo o que S2 e S4 já tinham, mais com carinho especial dado por ninguém menos que a Porsche. Como já havia um acordo de cooperação entre as marcas, a Audi entregou aos engenheiros da Porsche uma 80 Avant com mecânica da linha S para que a Porsche pudesse preparar e criar uma versão ainda mais brilhante e potente que justificasse a sigla RS (Rennen Sport, esporte de competição em alemão).
A Porsche mexeu em tudo: estética, rodas, suspensões, freios, sistema de tração e, principalmente, no motor de cinco cilindros. Nele, a potência passou dos 230 cv originais da Audi para 315 cv nos mesmos 2.2 litros de cilindrada original. Tudo foi refeito: coletores de admissão e escapamento, turbocompressor, intercooler, comandos de válvulas, e por aí vai. O câmbio manual de 6 marchas teve suas relações revistas, assim como a relação dos diferenciais. Um carro praticamente novo que ganhou o nome Porsche na tampa de válvulas e nas pinças de freio, e em outros lugares mais escondidos.
No desempenho, a RS 2 Avant não brincava em serviço: o 0 a 100 km/h era feito em 5,2 segundos, chegando a 262 km/h de velocidade máxima, limitada eletronicamente. Um fato que chamava a atenção de quem guiava essa perua era sua notável falta de potência nas baixas e médias rotações. Com uma cilindrada não tão grande , tração integral e alta potência específica (143 cv/l), além dos comandos de válvulas de grande duração e turbocompressor grande, realmente o rendimento não era dos melhores quando a velocidade e o regime de rotações eram baixos.
Em contrapartida, quando tudo isso “acendia”, a impressão era a de que um novo motor havia sido criado sob o capô. Uma verdadeira fera despertava naquela RS 2 Avant. Tão rara quantos os sedãs da linha S, a RS 2 Avant é figura rara por aqui e no exterior: no Brasil foram vendidas 62 unidades, de um total de cerca de 2.800 carros fabricados mundialmente. Aqui, essas maravilhas são vendidas entre R$ 400 mil e R$ 800 mil, dependendo do estado de conservação, originalidade ou do passado de cada carro (quem foram seus donos, se já sofreram algum tipo de acidente, se já foram tunadas, etc.).
TT
O Salão do Automóvel de São Paulo de 1998 marcou a chegada do esportivo 2+2 TT. Com uma carroceria baixa e aerodinâmica, ele era derivado do Audi A3 (e também do VW Golf IV). O motor 1,8 de quatro cilindros turbo trazia como novidade o cabeçote com duplo comando de válvulas, cinco delas por cilindro, sendo três de admissão e duas de escapamento, nos melhores moldes dos motores de competição.
Essa construção permitia a esse pequeno e compacto motor desenvolver boa potência específica em razão do turbocarregamento. Com essa configuração, bastante evoluída e audaciosa para a época, o Audi TT era oferecido na versão de entrada com 180 cv, câmbio manual de cinco marchas e tração dianteira.
Na configuração mais desenvolvida, esse mesmo motor recebia um turbocompressor de maior capacidade, intercooler maior (que resfriava ainda mais o ar da admissão), além de uma nova configuração de todo o sistema de alimentação. Com todo esse aparato, o mesmo motor1,8 passava a entregar 225 cv, e agora trabalhava em conjunto com um câmbio manual de 6 marchas. A tração quattro, característica marcante da marca Audi, vinha nessa versão topo de linha TT.
Na época de seu lançamento, o TT foi uma sensação, e logo conquistou a atenção dos aficionados por desempenho, sem contar nas formas inusitadas de sua carroceria. Ele praticamente fechou os anos 90 dos esportivos da Audi, e o fez com competência. É produzido até hoje em carrocerias cupê e conversível. A versão topo RS tem motor 5-cilindros transversal de 2.480 cm³, 400 cv e 48,9 m·kgf.
Nas próximas edições desta minha coluna falarei das outras marcas internacionais e seus representantes esportivos vendidos no Brasil na década de 1990.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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