Findo o embalo de dezembro, janeiro é normalmente um mês em que as vendas de automóveis entram numa quase ressaca das festas de fim de ano. A prática dos fabricantes de empurrar faturamentos goela abaixo na rede o mais possível e assim fechar seus balanços com sorrisos contábeis não foi diferente esta vez, mesmo em tempos de pandemia do Covid, então começamos janeiro de forma parecida com outros janeiros.
Porém era para ter sido melhor. A busca pelo retorno à normalidade da indústria global de autoveículos, que sofreu similarmente a nossa de aqui com longos lockdowns, fez com que começassem a faltar matérias prima diversas e essa carência puxou os preços para cima. Em dezembro começavam a faltar disponibilidade de vários modelos nas lojas e em janeiro a situação não mudou.
Para piorar vimos a crise dos microchips que paralisaram a produção em fábricas espalhadas pelo mundo durante janeiro e este fevereiro e ainda não sabemos se haverá impactos por estas terras.
Ao todo tivemos 171.146 veículos licenciados, sendo 162.587 leves, 7.538 caminhões e 1.021 ônibus. No parâmetro que mais usamos aqui para compreender o mercado, foram 8.129 licenciamentos/dia de automóveis e comerciais leves, ou 7,6% inferior a janeiro do ano passado. O mercado como um todo esteve 11,5% abaixo de janeiro de 2020, automóveis -15,4% e veículos leves -11,7%. Bom lembrar que na recuperação em meio ao Covid ainda longe de controlar, comparando os resultados de um mês com o mesmo mês pré-pandemia, estamos batendo nesse número de 7 a 8% abaixo há um tempo, sem sair dele. Para tal, teriam os fabricantes de vencer gargalos produtivos primeiro, só para termos uma ideia, estamos com dois dias de estoques nas concessionárias e 15 nas lojas, quando o normal por aqui é quase três vezes isso.
Na apresentação mensal à imprensa especializada e cadernos econômicos, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes dedicou bom tempo a… defender-se do governo! Não por menos, um comentário infeliz do mandatário mor, por conta da decisão da Ford de encerrar as suas atividades produtivas no Brasil, de que cobraria de volta as renúncias fiscais exigiu horas de trabalho em justificar-se. O problema é que o comentário do presidente não foi só infeliz como também carregado de ignorância. Não é verdade que a indústria automobilística goza de subsídios federais. Tanto a Anfavea como cada grande fabricante têm gente que faz affairs em Brasília, como sempre se fez, então não sei o que deu nesta equipe econômica para atacar o setor produtivo de maior relevância de forma gratuita. O trabalho que essa apresentação deu não foi em vão, está bastante autoexplicativo e qualquer um pode compreender os fatos sem distorce-los.
Como estudioso da indústria eu diria que um automóvel que paga 44% de seu valor em tributos, se e quando por um período determinado passa a pagar 30% (por exemplo), absolutamente esses 10 pontos de redução não podem ser entendidos como subsídio. Mais ainda, basta puxarmos alguns períodos onde houve redução de tributos, a resposta do mercado foi invariavelmente multiplicar as vendas, ou seja, em termos absolutos o governo federal arrecadou mais. E volto a dizer que essa deveria ser a persistência da Anfavea para conseguir convencer o governo a estimular a indústria. Todos ganhariam. Automóveis têm demanda elástica, menos tributos mais vendas.
Voltando ao mercado, em janeiro tradicionalmente as vendas diretas dão uma arrefecida, nota-se no gráfico acima que as esse modal, tanto os automóveis como comerciais leves estiveram abaixo da média dos últimos meses. Menos ênfase nas locadoras havia sido uma mudança decidida há um tempo e ela assim permaneceu. Faltam carros nas locadoras também.
Nas vendas por região, as regiões sudeste e centro-oeste tiveram quedas respectivamente de 8,5% e 5,2%, inferiores portanto a média de todas regiões, -11,7%.
Nas vendas diretas, Fiat e Jeep foram as únicas que cresceram em janeiro.
RANKING DO MÊS
Num mercado que se retraiu 11,7% em janeiro, a Fiat cresceu 19% e tomou a ponta, com 30.891 unidades. Chevrolet figurou em 2º, 26.614 e a VW em 3º, 26.577, bastante próxima. Hyundai em 4º e Jeep num surpreendente 5º lugar. Como esperado, a Ford despencou em vendas, uma vez o anúncio do encerramento de suas operações produtivas deu-se no dia 11 e imediatamente cessou várias operações de faturamento e ainda fez estornar outras. Com somente a Ranger e o Territory para vender, estima-se a Ford figure por um tempo entre os 11º e 13º lugares, até que comecem a vir os modelos Bronco Sport e Bronco do México.
Onix em 1º, porém com forte retração de seu costumeiro volume, 10.567 (jan’20 foi 17.463), HB20 em 2º, Onix Plus em 3º, a Chevrolet novamente teve seus três novos modelos dentre os 10 mais vendidos.
Nos comerciais leves Fiat segue nadando de braçada, Strada em 1º, 9.232 unidades e crescimento de 70% sobre as vendas de janeiro de 2020, Toro em 2º, Hilux em 3º, seguida por S10, Saveiro, Ranger. A marca italiana domina 50% do segmento de picapes com seus dois modelos.
Ainda não foi possível vislumbrar qual fabricante tomou o maior naco deixado pela Ford, creio que nos próximos dois meses já será possível identificar com maior clareza.
Até mês que vem!
MAS