O título da notícia veiculada semana passada não tinha o “sem ESC”. Eu o acrescentei para enfatizar que centenas de acidentes de trânsito no Brasil poderiam ter sido evitados pelos equipamentos de segurança.
ESC são as iniciais (em inglês) de Controle Eletrônico de Estabilidade. Dizem os especialistas ser o segundo mais importante dispositivo de segurança veicular depois do cinto.
Brasileiro não se preocupa com estes equipamentos, pois “acidente só acontece com os outros”. Uma vez, quando explicava o ESC para um motorista, ouvi: “Para mim é jogar dinheiro no lixo, pois só precisam dele os que saem acelerando como loucos no asfalto”…
Manobra brusca
A notícia: “Uma mulher de 25 anos morreu depois de perder o controle da picape que dirigia e capotar na rodovia MT-170 a cerca de 900 quilômetros de Cuiabá”. Era Quésia Berger Amaral, morava em Rondônia, tinha duas filhas e dirigia uma Fiat Strada. No asfalto, um cachorro morto indicava que ela tentou se desviar dele ainda vivo ou já estirado na pista.
Existe um teste que simula exatamente essa situação, o “Teste do Alce”. Assim chamado depois que reprovou, em 1997, o Mercedes Classe A testado pela revista sueca Teknikens Värld (Mundo Técnico), país nórdico onde é comum alces atravessando a rodovia (foto de abertura). Cones na pista obrigam o motorista a se desviar para a faixa da esquerda e voltar rapidamente para a direita a uma velocidade de 68 km/h. A Mercedes, depois do teste, fez um recall do Classe A (o mesmo também fabricado em Juiz de Fora) para equipá-lo com o ESC.
Um parêntese; ESC e seu significado são marcas registradas da Bosch. Quando o sistema é de outro fornecedor recebe o nome genérico Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP, a sigla em inglês).
O “Teste do Alce” prova que o equipamento não é necessário apenas em curvas mas também em linha reta e em velocidade moderada. Se surge um animal, buraco ou outro automóvel, o motorista é obrigado a virar bruscamente o volante em sequência para os dois lados. Sem o ESC, a probabilidade de um acidente é elevada.
Segurança, só no imaginário
Infelizmente, todas as evidências indicam que segurança veicular só existe no imaginário do brasileiro. Prova disso é que a Bosch, fabricante de equipamentos eletrônicos de segurança em todo o mundo, fez uma pesquisa no Brasil entre proprietários de veículos. A maioria disse se preocupar com eles ao adquirir um carro. Mas, segundo a Bosch, a preocupação não vai além do momento da pesquisa, pois fez uma outra em concessionárias. Para ouvir dos vendedores e gerentes ser fato raro alguém se preocupar com equipamentos de segurança ao adquirir um novo ou usado.
A obrigatoriedade do ESC no Brasil seria em 2022, mas foi adiada para 2024 pois os fabricantes alegaram atrasos — pela pandemia — no desenvolvimento dos projetos.
Ele já é obrigatório há tempos em outros países. Aqui, existe na maioria dos modelos maiores e mais sofisticados e em alguns compactos. Mas nem todos os suves o oferecem como equipamento padrão, apesar de serem, por seu peso e altura, os mais sujeitos a derrapar ou capotar numa manobra brusca.
“Santo remédio?”
Afinal, como funciona o ESC?
Ele percebe, através de sensores, a tendência do carro a sair de traseira ou capotar em duas situações:
1 – nas curvas mais fechadas da estrada, em velocidades elevadas;
2 – nas manobras bruscas do motorista para se safar de um obstáculo na pista, mesmo em velocidades moderadas.
O sistema eletrônico evita então o acidente, aplicando estrategicamente o freio em determinadas rodas.
Não se pode afirmar que o ESC seja um “santo remédio” pois é impossível ignorar as leis da física. Se o motorista for irresponsável e exceder exageradamente a velocidade adequada para a curva ou na manobra brusca, equipamento algum será capaz de evitar o acidente.
Aliás, o perigo é que alguns pensam que estes dispositivos são milagrosos e que tornam o carro à prova de qualquer estupidez ao volante. Ledo engano….
É possível afirmar que a Quésia não teria deixado duas filhas órfãs se sua picape estivesse equipada com o ESC?
Claro que não, mas as chances seriam enormes, a julgar pelas pesquisas e estatísticas dos principais institutos de segurança do mundo. Todas sinalizam que a grande maioria de acidentes fatais como este teriam sido evitados com a interferência dos sistemas eletrônicos.
Mas não são necessários no Brasil, onde “acidente só acontece com os outros”….
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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