Mudanças sempre provocam uma nova arrumação dos móveis da casa. Não importa se você se instala em um novo endereço ou se alguém passa a ocupar o lugar de alguém que deixou de compartir seu cotidiano, sempre será preciso descobrir os hábitos e costumes dos recém-chegados para que tudo flua da melhor maneira. Na Fórmula 1 (foto de abertura) esse processo é marcado, principalmente, pela alternância de pilotos, administradores e técnico, situação que dá colorido especial à temporada deste ano, cujos três dias de testes começam a partir de sexta-feira no circuito do Bahrein, local da primeira etapa, dia 28. Se os carros foram mantidos substancialmente os mesmos de 2020, quatro pilotos mudaram de equipe, um retornou à ativa e três jamais disputaram um GP. Em outras palavras, 40% de um grid de 20 vagas. As novidades se estendem até diretores de equipe e ao serviço de apoio rápido durante as provas: este ano Aston Martin e Mercedes fornecerão os veículos que servirão como Safety Car e Medical Car.
Campeões mudam
Detentores de seis títulos mundiais, Sebastian Vettel e Fernando Alonso vestirão macacões com novas cores em 2021: o alemão trocou o vermelho da Ferrari pelo verde da Aston Martin Racing, nova denominação da Racing Point, onde é peça importante no processo de recuperar a marca inglesa e consolidar seu novo posicionamento de mercado como marca de esportivos premium. O processo é complexo e envolve até mesmo a participação acionária de Vettel (campeão em 2010/11/12/13) na fábrica de automóveis, uma forma de incentivá-lo a lutar por vitórias e títulos após um período desgastante em Maranello. Lance Stroll, filho do presidente da Aston Martin para a F-1 e para a fábrica de automóveis, será seu companheiro.
Após um malsucedido revival com a McLaren, Fernando Alonso retorna à F-1 na casa onde conquistou seus dois títulos (2005/6), a Renault, este ano rebatizada como Alpine F1 Team, mudança semelhante à que envolve a nova Aston Martin. O novo A110S básico custa € 58.000 (cerca de R$ 393.000), preço na Europa, menos da metade das £ 120.900 (R$ 958.000) do Vantage, modelo de entrada da marca. A marca francesa foca no segmento de entrada dos esportivos de luxo enquanto a inglesa quer competir com a Ferrari. Ambas querem atingir seus objetivos explorando a imagem de tecnologia e desempenho emanadas da F-1.
Se os já veteranos Vettel e Alonso corresponderem às expectativas neles depositadas, tal resultado terá um impacto importante em outro mercado, o de pilotos. Há algum tempo a promoção de recém-saídos de fórmulas menores se tornou o modelo de ascensão à categoria; se ambos se destacarem, o item “horas de voo” será valorizado nas negociações de contrato. Se acontecer o contrário, porém, a idade média do grid baixará ainda mais que a média atual de 27,5 anos, número obtido considerando as carreiras de Fernando Alonso, (40 anos no dia 7 de julho) e do decano Kimi Räikkönen (42 anos no dia 7 de outubro). Sem eles, a juventude do estreante Yuki Tsunoda ajuda a baixar em um ano esse índice para 26,5 anos. O japonês nascido em Sagamihara no dia 11 de julho de 2000 é o primeiro piloto dos anos 2000 a disputar a categoria.
Outros estreantes na categoria são o alemão Mick Schumacher (22/3/1999) e o russo Nikita Mazepin (2/3/1999), ambos na equipe Haas, que este ano terá seus carros pintados nas cores da Rússia (detalhes em azul e vermelho sobre fundo branco). Tanto quanto o fato de serem neófitos na F-1, o contraste entre os estilos de pilotagem e a forma como encaram o esporte são pontos que demandam atenção para aferir a evolução de ambos durante o ano.
No canto oposto desse ringue demarcado por idade, o australiano Daniel Ricciardo faz sua segunda mudança de equipe em três temporadas: passou da Red Bull para a Renault em 2019 e este ano estreia na McLaren. Não bastasse isso seu nome foi cogitado para uma vaga na Ferrari, equipe com a qual as negociações foram interrompidas por detalhes não revelados. Ricciardo caminha para se tornar um piloto hábil, dedicado e competente que deixará sua marca na categoria, provavelmente sem conseguir um título mundial.
Situação semelhante à do mexicano Sérgio Pérez: rápido, com grande sensibilidade no acerto de carros e altamente profissional em seus compromissos com patrocinadores, “Checo” foi tido como grande promessa ao obter três pódios em sua segunda temporada na categoria (Sauber, 2012), mas não correspondeu ao se mudar para a McLaren em 2013, quando o time inglês começava um declínio que se estenderia por anos. Aguerrido, por vezes demais da conta, Pérez esteve ameaçado de ficar fora da temporada, mas acabou levando a melhor sobre Alex Albon. Seus resultados este ano servirão para esclarecer se o carro da Red Bull só funciona nas mãos de Max Verstappen.
Entre as novas faces que trabalham na administração e gerência cabe ressaltar as posições de Joest Capito e Davide Brivio. O alemão ganhou notoriedade na consolidação do projeto Porsche Cup dos anos 1990 e, mais recentemente, na campanha vitoriosa da VW no Mundial de Rali. Após uma fugaz passagem pela McLaren às vésperas do desligamento de Ron Dennis da direção do time de Woking, ele agora tem nova oportunidade brilhar na F-1 ao comandar o renascimento da Williams.
Depois de levar a Suzuki a conquistar o Campeonato Mundial de Moto GP, o italiano Davide Brivio foi o nome escolhido para substituir Cyril Abiteboul, nome que foi desligado da Renault/Alpine após anos de dedicação. Ainda que fosse algo esperado por muitos, a ruptura anunciada inesperadamente causou surpresa: toda a carreira profissional de Abiteboul se deu na casa francesa. A principal qualidade de Brivio, segundo quem o conhece do motociclismo, é sua habilidade em explorar as habilidades de uma equipe e trabalhar com a diversidade. Nos seus tempos de Yamaha e Suzuki ele dosou corretamente a calma nipônica com a paixão italiana e a fúria hispânica, sem dúvida um coquetel onde um erro de cálculo, por mínimo que fosse, poria tudo a perder. Outra qualidade de Brivio é ter obtido títulos e vitórias sempre trabalhando com orçamentos mais contidos do que seus rivais diretos, algo que certamente pesou na sua contratação.
Aston e Mercedes seguem os F-1
Modelos da Aston Martin e da Mercedes-AMG serão usados alternadamente como Safety Car e Medical Car nas 23 etapas do Campeonato Mundial de F-1 deste ano. Os alemães mantiveram, respectivamente, os modelos C 63 S Estate e GT-R, ambos com motor 4,0 V-8 de 585 cv A pintura prateada dos dois carros foi substituída por outra de cor vermelha, que se destaca mais no vídeo e nas pistas. Já os carros ingleses seguem o padrão da marca: o modelo DBX (suve que será empregado como Medical Car) e o cupê modelo Vantage (Safety Car) são pintados em na cor “Aston Martin Racing Green 2021” e detalhes em verde limão. Ambos estão equipados com motorização similar.
Calendário alterado
Tal qual aconteceu com a prova de abertura, o recrudescimento da pandemia do covid-19 também impactou no cancelamento da segunda etapa da temporada paulista de automobilismo. Desta vez as consequências foram ainda mais amplas pois atingiram a segunda rodada da Copa São Paulo Light de Kart e a primeira prova das categorias Copa Shell HB20 e GT Sprint Race previstas para o próximo fim de semana no autódromo do Velo Città; as duas corridas devem iniciar o calendário dia 11 de abril, em Curitiba, junto com a Copa Truck.
Na semana passada a categoria dos pesados avaliou mudanças que diminuíram a potência dos motores visando aumentar sua durabilidade. Promotores da Porsche Cup, cuja primeira rodada de 2021 está prevista para o dia 20 de março, em Interlagos, e a da Stock Car no fim de semana seguinte, no Velopark (RS), monitoram a situação e estudam alternativas para o caso de cancelamento ou alteração do local das provas.
WG
A coluna “Conversa de pista” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.