A matéria de Celso Franco de ontem versando sobre a necessidade de proteger os motociclistas me levou à inevitável reflexão. Motivo, eu ser motociclista, embora não tenha mais motocicleta. Enquanto tive, usava-a diariamente (quando não chovia) para o trabalho. Por exemplo, eu trabalhava no começo da rua Augusta e almoçava em casa (Moema) rigorosamente dentro do intervalo de uma hora. De carro seria impossível.
Vejo a motocicleta como um veículo de extrema utilidade. Talvez por ter começado minha vida motorizada bem cedo, lá pelos 11~12 anos com bicicletas a motor. Sem medo de estar errando ou exagerando, isso me deu noção de trânsito mesmo que a habilitação ainda estivesse longe. Aliás, era preciso ter carteira para bicicleta já naquela época, 1953/1954, mas andava-se normalmente. Não éramos ‘caçados” pela polícia. A orientação do meu pai contribuiu, é claro, para essa noção de posicionamento e postura no trânsito.
Depois das bicicletas motorizadas foi a vez dos scooters Lambretta e Vespa, febre dos anos 1950. Só em 1960, assim que cheguei aos 18 anos, em novembro, me habilitei para automóveis e motos. Motocicleta, nada até esse momento, mas em 1962 um amigo me deixou andar na sua BMW R60 de 500 cm³ e dirigi-la foi um ato natural e automático (até então, só scooter). Foi minha entrada no mundo real das duas rodas. Esse amigo fez uma viagem de um mês ao exterior e deixou a BMW comigo.
Tudo o que eu aprendera de trânsito tornou a experiência sem nenhum tipo problema. Aliás, um tio muito querido, Paulo Amaral, que havia sido do corpo de motociclistas da Polícia Especial — criada no Estado Novo, em 1937. como força de segurança do ditador Getúlio Vargas, famosa pelo peculiar uniforme cáqui e quepe vermelho — me deu um conselho que guardei e uso até hoje: ficar atento às rodas dianteiras dos veículos, pois antes que mudem de direção as rodas iniciam o esterçamento.
A invasão japonesa dos anos 1970 já havia começado e comprei minha primeira motocicleta, uma Yamaha DS7, bicilíndrica, 250 cm³. Um ano depois foi a vez da Yamaha RD350, uma motocicleta fantástica. Como andava! Mas adquiri uma desagradável e crônica dor lombar. O ortopedista perguntou se eu andava de moto, disse-lhe que sim, ele perguntou qual. Quando ele soube qual era, disse-me para comprar uma moto maior, mais pesada, pois a RD350 era muito leve e os impactos na coluna devido às irregularidades do piso (mesa de bilhar comparado com o atual de São Paulo) era a causa da dores. Troquei-a por uma Honda 500 Four e, bingo, dor lombar nunca mais.
Nesse meio tempo mudança na vida profissional e pessoal ocasionaram minha vinda para São Paulo em 1978, vendi-a antes de me mudar, e não demorou para eu comprar minha última motocicleta, uma CB 450 de um amigo do prédio, pouco rodada, excelente moto. Bicilíndrica e com árvore contrarrotativa de balanceamento, que motor suave! Em março de 1984 fui admitido na Volkswagen, e com a chegada do segundo filho em dezembro, a Honda era cada vez menos utilizada, e acabei vendendo-a para um mecânico amigo.
Todos esses anos montado em duas rodas foram tranquilos e seguros — só um tombo com a RD350 ao parar num sinal e havia óleo diesel na pista, mas bem devagar e sem me machucar ou ocasionar danos na Yamaha.
Por isso, ao ler a matéria do Celso Franco — para editá-la, ele manda o texto em Word — estranhei muito seu clamor por proteção ao motociclista, já que nunca, esses anos todos, me senti ou me vi “desprotegido”.
Por isso, aqui vão alguns conselhos para andar de moto, baseados em experiência e bom senso:
• Manter a moto em estado perfeito é fundamental. Como avião, ou está perfeito e pode voar ou não está perfeito e não pode voar. Esse “estado perfeito” inclui pneus (estado) e sua pressão de enchimento.
• Não ir muito mais rápido que a corrente de tráfego. Velocidade relativa de até 20 km/h mais proporciona margem de manobra como frear e/ou desviar.
• Para desviar rápido o guidão deve ver pressionado para o lado oposto ao do desvio pretendido — desviar para direita, pressão no guidão para a esquerda. Parece contraditório, mas ao fazer isso a moto se inclina imediatamente para o lado que deve.
• Tenha certeza de ver e, principalmente, ser visto, embora hoje com a praga — ilegal — dos vidros escurecidos nos automóveis, os ditos da condução (para-brisa e laterais dianteiros), ser visto está cada vez mais difícil. É pilotar na defensiva o tempo todo.
• Siga fielmente todas as regras de trânsito e saiba que no Brasil sinal verde significa apenas que você pode passar, não é garantia de que não haverá tráfego na transversal. Lembre-se que só há um significado para a placa de parada obrigatória, a “Pare”: parar.
• Esteja preparado para frear e parar em todo cruzamento nas 24 horas do dia, com ou sem sinal luminoso, piso seco ou piso molhado (como no tópico acima, vale para automóvel também).
• Ao arrancar quando o sinal mudar para verde, tenha certeza de que o tráfego na transversal parou totalmente, há quem aproveite o último instante do amarelo e acabe avançando o sinal.
• Se a moto não tiver sistema de freio combinado (pedal de freio aciona os dois freios), habitue-se a frear mais com o freio dianteiro.
• Ao precisar frear forte, esqueça o câmbio — os freios são muito mais potentes do que o motor.
• Evite andar de moto se estiver cansado ou se ingerir bebida alcoólica, mesmo que pouco.
• Evite divagar sobre coisas da vida, problemas, etc., enquanto estiver pilotando. “Limpe” a cabeça, concentre-se na condução da moto.
• Fique totalmente atento ao movimento de pedestres. Atropelar um certamente terá consequências funestas para ele e para você.
• Mantenha total controle do que se passa à sua retaguarda pelos espelhos.
• Evite a todo custo ultrapassar pela direita.
• Total cautela com piso molhado.
• Em hipótese alguma trafegue entre dois veículos pesados.
• Não altere o escapamento da moto. Barulho aumenta a fadiga.
• Não ande de moto havendo neblina, visibilidade é essencial.
• Atenção máxima aos dejetos viários que chamam de lombada, especialmente levando passageiro: numa lombada transposta mais rapidamente ele/ela pode ser arremessado (a) para fora da moto.
• Na estrada, resista à tentação de andar muito rápido nas curvas se você não puder vê-a toda, pois poderá haver algum problema nela e não será possível parar a moto.
BS