Hoje eu começo a matéria com uma pergunta: você já andou em um buggy? Esse tipo de veículo despojado e totalmente divertido nasceu nos Estados Unidos, na ensolarada Califórnia, ainda na década de 60. Seu criador foi Bruce Meyers, falecido recentemente, que aproveitou o clima e o estilo de vida para pensar em algo cheio de estilo.
Em termos estruturais era um veículo leve e com mecânica barata e de simples manutenção. Nesse sentido os motores arrefecidos a ar da Volkswagen, com disposição boxer logo se mostraram perfeitos para o projeto, visto que tinham a manutenção barata, já citada, e também um centro de gravidade mais baixo.
O sucesso foi imediato. Vale lembrar que na metade da década de 60 o Fusca, chamado por lá de Beetle, fazia sucesso entre os mais jovens, assim como a Kombi, chamada de Volkswagen Van. Os surfistas da Califórnia gostavam de ambos por conta da praticidade e também estilo despojado, totalmente diferentes dos carros americanos convencionais
Não demorou muito tempo para que a ideia também chegasse ao Brasil. Afinal, por aqui já tínhamos um clima de sol, calor e um estilo de vida bastante próprio, especialmente em cidades litorâneas como o Rio de Janeiro, naquela época “Cidade Maravilhosa” e sem os problemas de insegurança que temos hoje.
A Kadron, uma tradicional empresa paulistana de acessórios automobilísticos, patenteou o primeiro projeto de buggy do Brasil. O Tropi foi desenhado pelo genial Anísio Campos e trazia um estilo ligeiramente diferente do tradicional porém esbanjando criatividade. Uma de suas características mais atraentes era o jogo de faróis dianteiros, escondidos dentro do design da dianteira e não saltados como a maior parte deles.
Um detalhe muito interessante sobre esse modelo dizia respeito à fibra de vidro. O trabalho todo da carroceria era feito pela Puma Veículos, da criação ao tratamento todo do material. Com esse processo ele trazia bastante qualidade com aval de uma das empresas com mais experiência nesse tipo de material no país.
Tecnicamente o chassi utilizado era o mesmo do Fusca porém encurtado em 25 cm. Por essa razão, com o entre-eixos curto ele se tornava um brinquedo divertido de acelerar. Outra coisa relevante em todo veículo desse tipo é justamente o baixo peso, ou seja, a relação entre o peso e potência é sensacional.
O exemplar da matéria tem uma história bastante curiosa. Ele está com o mesmo proprietário há três décadas. Essa paixão toda se resume em muito cuidado e muito esmero em cada passeio de fim de semana. Vale salientar também o estilo original e o volante F1, dos irmãos Fittipaldi, moda durante as décadas de 60 e 70.
Externamente as rodas originais foram substituídas por outras do modelo Fuchs, bastante conhecidas nas customizações de VW arrefecidos a ar e também de série no icônico Porsche 911. Tem não foram esquecidas as medidas diferentes dos pneus, justamente para conferir um estilo próprio de um modelo pede.
O Tropi saía de fábrica com um motor de 1.285 cm³ (1300) de cilindrada. Neste exemplar ele foi retirado e deu lugar a um motor de Brasília, com 1.585 cm³ (1600)) de cilindrada, o que aumentou ainda mais a diversão ao volante e também as rápidas reações ocasionadas pelo baixo peso.
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Aliás, é sobre diversão que eu falarei a partir de agora. Andar em um buggy, respondendo à questão do primeiro parágrafo, é uma das experiências mais interessantes para qualquer entusiasta de automóveis. Como já foi citado eles são leves, têm motores bem acertados e o entre-eixos curtíssimo.
Esse trinômio de fatores faz com que qualquer voltinha a bordo de um deles seja repleta de adrenalina. Ao contrário do que vemos hoje em dia, com airbags e também quesitos de segurança, sem dúvida essenciais para o trânsito atual, os buggys são despojados e transmitem uma sensação bastante singular de liberdade.
A falta de portas, vidros e teto faz com que as sensações de guiar com ronco do motor no ouvido sejam ainda mais realçadas. Basicamente são máquinas cujo principal comprometimento é a diversão, palavra que já citei algumas vezes nesse texto.
Sobre o ronco, para nós que apreciamos bastante, o som do motor com o giro subindo é seguido de alguns “pipocos” no escapamento, como um retrocesso. Essa questão acaba sendo bastante estimulante para uma tocada mais rápida. Mas acredito que a sensação de velocidade é realçada por esses fatores já citados. Mesmo a 60 km/h você consegue se divertir.
A Kadron se destacou mais tarde na produção de acessórios automobilísticos, sendo um dos mais lembrados o escape icônico do Gol GT e que se despediu na década de 90. De qualquer forma fica o meu conselho para todo autoentusiasta após ler este texto: dirija um buggy!
GDB
Nota do editor-chefe: O AE usa o termo aportuguesado ‘bugue’ em vez do original, dos EUA, buggy, que foi mantida por se tratar de matéria de colunista.