Em 2003 ganhei um livro muito grande e especial, o famoso Guinness Book. Nele uma lista com fotos e informações dos mais variados recordes. Caso procure na edição mais atual qual é a moto de produção em série com motor de maior cilindrada do mundo a reposta é o modelo desta avaliação: Triumph Rocket 3 de exatos 2.458 cm³. Claro que existem motos de pequena série, principalmente americanas, que tem motores V8 maiores.
Conheci esta Triumph em detalhes e rodei muito com o modelo que nasceu para quebrar recordes. Seja no centro da cidade em largas avenidas ou nas rodovias, ela chama muita atenção. É comum carros passarem devagar só para a ver de perto ou mesmo aparecerem no semáforo muitas perguntas. O grande motor de três cilindros em linha longitudinal se destaca, assim como o acabamento em aço escovado reluzente, alumínio e diversos detalhes em alusão à marca. Vou também responder as principais dúvidas dos leitores enviadas para o Instagram no AE.
Atualizada
Em sua última geração, a Rocket 3 recebeu melhorias em praticamente todos os componentes. O motor passou de 2.294 cm³ para 2.458 cm³, enquanto o conjunto todo perdeu 40 kg de peso — principalmente graças ao novo chassi de alumínio — pesando “apenas’ 291 kg. Além mais leve e potente, ficou mais atual. Os freios ABS foram otimizados, assim como o controle de tração, traz quatro modos de pilotagem, chave de presença, assistente de partida em rampa e embreagem com acionamento hidráulico.
Colocar esta moto em uma categoria não é simples. Muitos a definem com uma drag bike ou muscle bike. Seu visual consegue misturar tanto linhas clássicas, como os faróis duplos e circulares, com elementos atuais como o painel de TFT a lanterna traseira em LED. Se a geração anterior o visual era de uma moto custom, agora lembra mais uma moto de arrancada. Parece que os engenheiros partiram do motor e criaram toda a motocicleta em volta dele. São 3 cilindros em linha gerando 167 cv de potência máxima a 6.000 rpm com transmissão final por cardã. Porém o que impressiona de verdade é o torque: 22,5 m·kgf a 4.000 rpm.
Pura aceleração
No restante da ficha técnica praticamente todos os números são superlativos. O pneu dianteiro tem 150 mm de seção transversal (tamanho de muitos pneus traseiros) e o tanque abriga 18 litros de gasolina. O peso a seco é de 291 kg e a distância entre eixos ultrapassa 1.600 mm. Porém tudo feito com o propósito de acelerar muito rapidamente em linha reta. Outro recorde obtido pela Rocket 3 é na aceleração de 0 a 60 milhas por hora (0 a 96,5 km/h, padrão nos EUA e Inglaterra) em apenas 2,73 segundos. Não há motivos para duvidar desta marca.
Aqui cabe uma explicação sobre aceleração em motocicletas. Sempre quando pensamos em motos rápidas logo vem em mente uma esportiva carenada. Porém esses modelos têm a distância entre eixos reduzida para mais maneabilidade e precisão em curvas fechadas, de pequeno raio, além de pneus traseiros de 200 mm de seção transversal. Com o aumento de potência nas esportivas ultrapassando a barreira dos 200 cv as marchas inicias precisaram ser alongadas — do contrário seria impossível manter a roda dianteira no chão. Assim, a Rocket se faz valer da maior distância entre eixos e do pneu com 240 mm de seção transversal na traseira para acelerar como poucas motos e pouquíssimos carros conseguem — a primeira marcha corta em 107 km/h.
Domar uma máquina como essa seria tarefa para poucos pilotos se não tivéssemos a ajuda da eletrônica. No grande painel digital é possível selecionar quatro modos de pilotagem: Road (estrada), Rain (chuva), Sport (esportivo) e Rider — este último totalmente personalizável. Com eles é possível alterar a variação na entrega de potência, atuação do ABS e também do controle de tração. Como não poderia ser diferente, os freios são de primeira linha para parar o conjunto com segurança. Se preferir assista abaixo ao vídeo gravado em Piracicaba, SP:
Na cidade
Rodando no trânsito urbano, a Rocket se mostrou tranquila, desde que se antecipe todas as trocas de marchas. mantendo sempre o motor em baixas rotações. O guidão largo (com fiação embutida) e o grande tanque lembram a todo momento que estamos numa moto de grandes proporções. Andando neste ritmo ela lembra um carro com motor V-8, americano sempre com força de sobra em todos os regimes de rotação. Qualquer acelerada mais forte já ultrapassa qualquer limite de velocidade urbana, e o próximo quarteirão acaba muito rapidamente. O motor aquece um pouco em trânsito travado, porém muito menos do que o esperado para seu porte. Os espelhos nas pontas do guidão podem tornar mais difícil passar em locais mais apertados, em compensação sua visibilidade é muito boa.
O banco do piloto é muito confortável e baixo (733 mm do solo), facilitando controlar a moto em baixas velocidades. Para estacionar é preciso um cuidado especial principalmente por ser uma moto longa. Em ruas mais apertadas é preciso colocar a moto em diagonal para a roda dianteira não atrapalhar a passagem dos carros. As suspensões são duras e se sentem realmente mais a vontade apenas em asfalto bom. Como a roda traseira fica mais distante do piloto que o usual, quem acaba sentindo mais os impactos é o garupa. Um item muito bem pensado são as pedaleiras do passageiro. Para não atrapalhar o visual da moto elas são escamoteáveis, ficam completamente escondidas — no momento do uso se abrem em dois estágios. Outro destaque é a trava de guidão — totalmente elétrica e acionada por um botão no punho direito.
Na estrada
Quando finalmente temos uma estrada bem asfaltada, a Rocket se sente mais em casa. Independente da marcha engatada ela sempre responde com muita força enquanto o motor gira liso. A posição de pilotagem e a ausência de proteção aerodinâmica fazem todo o vento vir direto para o piloto. A velocidade máxima é limitada eletronicamente a 221 km/h porém o motor claramente tem potência para ir além. Se o momento for de passeio ela também se sai muito bem também, inclusive com um prático controle automático de velocidade de cruzeiro.
Nas curvas a moto se mantém no trilho com facilidade exigindo apenas uma força extra do piloto no guidão principalmente por conta das dimensões dos pneus. As pedaleiras ajustáveis raspam no chão para lembrar que já deitamos o suficiente — bem mais do que se imagina para uma motocicleta deste porte. Em aceleração plena o controle de tração é um verdadeiro anjo da guarda. Mesmo em asfalto bom e com a moto em linha reta se você acelerar muito bruscamente o controle pisca avisando que está salvando seu pneu de patinar.
Quantos quilômetros faz por litro?
A primeira pergunta que sempre me faziam na rua era a mesma: qual é a cilindrada desta moto? Logo após descobrirem que estavam diante de uma 2.500-cm³ todos só queriam saber do consumo. Em todos esses anos avaliando motos posso dizer com tranquilidade que nunca pilotei uma moto com tanta variação como a Rocket 3 — muito disso, é claro, devido ao tamanho do motor. Acompanhando pelo computador de bordo em tempo real os números impressionam.
Com o controle de cruzeiro acionado em sexta marcha na estrada e respeitando os limites legais não foi difícil conseguir médias acima de 15 km/l até 25 km/l na melhor marca. Porém acelerando esportivamente sem qualquer tipo de preocupação com o consumo baixamos para a marca de 8,0 km/l. São 17 km/ de diferença no mesmo dia na mesma estrada apenas alterando o nível de juízo do piloto. Até mesmo o painel avisa que a moto entrou na reserva ainda com dois estágios disponíveis no marcador para que o piloto saiba quanto ainda pode rodar.
Painel tecnológico
Depois de muita estrada pelo interior do estado restava apenas devolver a moto para a Triumph em São Paulo. Porém, havia um pequeno problema. Na ida de carro, apenas segui o GPS no painel e cheguei com tranquilidade apesar do trânsito paulistano. Para a viagem de volta, iria de moto e nada pior que seguir um carro, principalmente nos engarrafamentos. Foi o momento ideal de testar a conectividade da moto.
Depois de parear o celular com o painel via Bluetooth e baixando um aplicativo gratuito próprio da marca é possível usar várias funcionalidades. Entre elas é possível atender ou rejeitar chamadas de celular, receber SMS e controlar o volume e troca de músicas que estão sendo tocadas no celular — dá até para controlar a câmera Go Pro. Bastou colocar o endereço no aplicativo do celular que o nome das ruas aparecem no painel, com setas e indicação de distância decrescente. Tudo muito simples e intuitivo sem distrair em demasia o piloto — cheguei no meu destino facilmente.
Conclusão
Ao final do teste ficou claro que com o tempo e quilômetros rodados a convivência com a Rocket 3 ficou mais tranquila. Acostuma-se com o peso e o grandes dimensões e em pouco tempo a moto parece encolher. Só não é possível acostumar com a “patada” do motor em aceleração plena, a cada vez que esticava as marchas até o limite era uma injeção de adrenalina. No último dia passei até a pilotar mais devagar curtindo mais o passeio, algo que ela faz muito bem também. Apesar de ter muita potência para liberar no punho direito não quer dizer que vamos usar essa força o tempo todo. Mas só de saber que ele está ali para o momento que precisarmos é uma sensação muito boa. O preço sugerido de R$ 110.990,00 indica que é uma moto para poucos e a única cor disponível é vermelha — Korosi Red.
Realmente não e qualquer pessoa que pode ter uma recordista do Guinness.
Seguem abaixo galeria de fotos e ficha técnica.
LR
FICHA TÉCNICA TRIUMPH ROCKET 3 | |
MOTOR | |
Descrição | 3 cilindros longitudinal, DOHC, 4 tempos, arrefecimento alíquido, injeção eletrônica, gasolina |
Cilindrada (cm³) | 2.458 |
Diâmetro e curso (mm) | 110,2 x 85,9 |
Taxa de compressão (:1) | 10,8 |
Potência (cv/rpm) | 167 / 6.000 |
Torque (m·kgf/rpm) | 22,5 m·kgf / 4.000 |
Corte de rotação (rpm) | 6.500 |
TRANSMISSÃO | 6 marchas com transmissão final por cardã |
Relações das marchas (:1) | n.d |
Relação primária (:1) | n.d |
Relação secundária (:1) | n.d |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão (V) | n.d |
Capacidade da bateria (A·h) | n.d |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Garfo telescópico invertido e ajustável Showa de 47 mm com 120 mm de curso |
Traseira | Amortecedor com reservatório de gás externo totalmente ajustável e 107 mm de curso |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco duplo tipo margarida radial, 4 pistões / 320 mm |
Traseiros (Ø mm) | Disco único tipo margarida 4 pistões/ 300 mm |
Controle | ABS em ambas as rodas com atuação em curvas, controle de tração e 4 modos de pilotagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, aro 17 dianteira e 16 na traseira |
Pneus | Dianteiro 150/80R17 V e traseiro 240/50R16 V |
CONSTRUÇÃO | Quadro de alumínio com motor como parte estrutural |
Ângulo do garfo (º) | 27,9 |
Avanço (mm) | 134,9 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | n.d |
Largura | 889 |
Altura | 1.065 (sem espelhos) |
Distância entre eixos | 1.677 |
Altura do banco ao solo | 773 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso seco (kg) | 291 |
Carga útil (kg) | n.d |
Tanque de combustível (L) | 18 |