Já que estamos em pleno inverno no nosso hemisfério, e esse está bem rigoroso, é bom falar um pouco dos efeitos do frio no automóvel.
“Tanquinho” – A maioria dos carros flex ainda conta com o famigerado tanquinho de gasolina para o sistema de partida a frio, para injetá-la no coletor de admissão quando o tanque está abastecido com álcool e a temperatura estiver abaixo de 18 °C. Nessas condições, o motor não pega, pois o álcool não se vaporiza e chega ao seu interior praticamente em estado líquido. Então, a central eletrônica de gerenciamento do motor percebe a situação e de antemão comanda a injeção de gasolina. Alguns carros mais modernos eliminaram este sistema obsoleto e resolvem o problema com aquecimento do álcool ou com a elevada pressão de injeção, da ordem de 250 bar, quando esta é do tipo direta.
Mas, nem sempre o sistema de partida a frio funciona e às vezes faz o motorista virar o arranque até esgotar a bateria. Neste caso, verificar:
- A gasolina pode estar velha, com mais de um ano. Hoje, com a enorme redução de enxofre da gasolina ocorrida a partir de janeiro de 2014 — de 800 para 50 partes por milhão — a gasolina mantém suas propriedades até um ano. Por isso, tenha certeza de que ela não está vencida. Em caso de dúvida, troque-a. Mas se você julgar um ano ser um tempo excessivo, coloque gasolina nova, afinal o custo da troca é irrisório.
- A bombinha injetora que fica junto do tanquinho pode ter travado. Ou algum problema na central eletrônica.
Alguns carros flex, como os da Honda, contavam com uma estratégia de ao se dar a partida, independente da temperatura ambiente, sempre injetar um pouco de gasolina para que ela seja consumida em vez de ficar esquecida no tanquinho e envelhecer.
Gasolina – Se você sempre abastece com álcool, pelejou com o sistema de partida a frio e continua tendo problemas para fazer o motor do seu flex pegar, vai aqui uma dica definitiva: nessa época de temperaturas mais baixas, coloque 20% de gasolina no volume de álcool que pretender abastecer. Por exemplo, se forem 20 litros, 16 litros de álcool e 4 litros de gasolina. Essa mistura é mais que suficiente para o motor pegar mesmo sem auxílio do sistema de partida a frio. Vale também para os carros mais antigos só a álcool.
Ar-condicionado – O sistema de ar-condicionado é como o próprio automóvel: quando fica inativo durante muito tempo, os problemas aparecem.
O compressor parado, por exemplo, fica sem lubrificação e pode se oxidar. O equipamento tem mangueiras e dutos que se ressecam no caso de ficarem inativos. E apresentam vazamentos mais tarde.
A dica então é, mesmo no frio, ligar o ar-condicionado cada 15 dias durante uns 5 minutos para evitar problemas no futuro.
Bateria – Inverno não é época só de festas juninas, mas também das lojas de baterias. Por que “escolhem” o tempo mais frio para entregar os pontos?
- Elas produzem eletricidade a partir de uma reação química que fica prejudicada com as temperaturas mais baixas;
- O combustível tem maior dificuldade de se vaporizar no frio. O álcool, então, continua em estado líquido abaixo de 18 °C. Por isso os carros flex abastecidos com ele precisam de um artifício para o motor pegar pela manhã;
- O óleo fica mais viscoso e os componentes móveis do motor têm maior dificuldade de se movimentar, o que exige mais energia da bateria.
Cabe ao motorista, no inverno, evitar o uso exagerado de equipamentos elétricos. Em carro que não os desligam no momento de acionar o arranque, ele mesmo deve se lembrar de desativá-los. Especial cuidado para não deixar nenhuma lâmpada ou aparelho ligado durante a noite.
Embaçou? É comum o embaçamento dos vidros, pois o frio obriga os passageiros a fechá-los para se protegerem. Com os vidros frios, a umidade do ar se condensa neles, embaçando-os.
Jamais passar a mão para desembaçar, pois a gordura da pele acaba piorando a situação a médio prazo. Correto é ligar o ar quente voltado para o para-brisa, reduzindo o embaçamento pela evaporação. O ar-condicionado é um grande aliado do desembaçamento, pois ao retirar a umidade do ar os vidros desembaçam em segundos.
Mas a melhor solução ainda são os dispositivos antiembaçantes disponíveis no mercado. Um deles é uma flanela que, umedecida e passada no vidro, evita o embaçamento durante horas.
“Esquentar” – Muito motorista acha que, por estar frio pela manhã, deve então esquentar o motor por alguns minutos para que ele atinja mais rapidamente a temperatura ideal de funcionamento. É jogar dinheiro no lixo. Basta rodar normalmente assim que motor for ligado. Nada vai estragar.
Viscosidade – O manual do motorista de alguns automóveis sugere o uso do óleo de motor com duas viscosidades. Por exemplo, 5W30 ou 10W40. Neste caso, é sempre mais interessante usar o mais “fino” (menor viscosidade), pois oferece menor resistência ao movimento dos componentes internos do motor (pistões, bielas e virabrequim, por exemplo). Facilita o início do funcionamento do motor nas manhãs mais frias (o “W” na classificação SAE vem de “Winter”, ou inverno). E ainda reduz o consumo de combustível.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Mais Boris? autopapo.com.br