A caixa econômica imobiliária da linda cidade medieval de Schwäbisch Hall, no noroeste do estado de Baden Württenberg, decidiu, na década de ’50, fazer propaganda de seus empréstimos imobiliários usando para isso Kombis Pick-Up.
A tal caixa econômica que encomendou, na década de cinquenta, 15 Kombis de propaganda de investimento imobiliário, foi a Bausparkasse Schwäbisch Hall – BSH (caixa econômica imobiliária de Schwäbish Hall), nome que vai aparecer nas Kombis Pick-Up alvo deste artigo. E a única coisa que tinha sobrado daquelas 15 Kombis Pick-Up foi esta foto:
Nos anos 50 e 60, os representantes de vendas do BSH percorreram a Alemanha nestas Kombis. Sob uma cúpula de acrílico estavam, como em um diorama, casas-modelo que deveriam despertar o desejo de construir e viver em sua própria casa — financiada por eles. Estas Kombis acabaram sendo chamadas, na época, de – Ataúde da Branca de Neve – porque sua forma e cúpula de vidro faziam lembrar o lugar de pretenso descanso eterno do conhecido personagem do famoso conto de fadas, que os sete anões julgaram ter falecido.
Para o maior arrefecimento do motor foram feitas ranhuras de ventilação verticais nos cantos traseiros, em vez das horizontais, como era o normal nas Kombis Pick-Up. Este item veio a ser importante na segunda parte desta matéria, como veremos.
A ressureição de uma Kombi – Ataúde da Branca de Neve
O BSH queria exatamente essa Kombi para seu octogésimo aniversário. Assim, Stephan Meyer, proprietário da oficina mecânica “Meyer Autodienst”, foi encarregado da réplica. Quase cinco meses foram programados para isso, um prazo que parecia ser irreal.
Stephan Meyer relembra: “Eu só tinha essa foto para orientação, a única foto em close do veículo já há muito desaparecido.” Por horas ele ficou apenas olhando a foto. Era de se espantar. Construir um carro sem a indicação de medidas? Na verdade, uma empreitada que parecia ser impossível.
Não o era para Meyer, é claro. Depois de ter encontrado uma Kombi Pick-Up do mesmo ano, ele teve que desmontá-la até o chassi, deixando tudo na chapa. Com a ajuda de modelos e estudando as proporções, Meyer finalmente encontrou as formas e dimensões básicas do carro e da cúpula de acrílico. Somente então a reconstrução propriamente dita pôde começar. Muito impressionante, considerando que Meyer e seus colegas tiveram que construir eles mesmos muitas peças.
Tendo a Pick-Up foi possível fazer os estudos de proporção com base em chapelonas dimensionais conformadas segundo as formas da Pick-Up. Duas delas, de cor branca, podem ser vistas na foto abaixo:
Assim, foi possível construir uma cúpula de acrílico, que o povo chamou de – Ataúde da Branca de Neve – à semelhança do modelo original, que podemos ver na foto abaixo:
Os cantos da carroceria foram conformados manualmente com a inclusão das aberturas verticais para a entrada do ar de arrefecimento do motor, como mostram as fotos abaixo:
Os trabalhos na Kombi foram radicais, tudo foi refeito, uma restauração integral, como mostram os exemplos abaixo:
O minucioso trabalho de restauração da Pick-Up e sua transformação em Kombi Schwäbisch Hall — seu “nome oficial”. Mais alguma fotos deste trabalho:
Ainda falta falar da meticulosa construção das casinhas que formam o diorama que foi instalado na caçamba da Pick-Up e que, na verdade, é a razão de ser deste veículo de propaganda. Tudo teve que ser feito manualmente, recriando o que havia nas Kombis Pick-Up originais da década de cinquenta. A construção foi peça por peça:
O cuidado com as casinhas não foi só na sua construção, elas até receberam uma iluminação interna:
Com isso, o projeto foi concluído. Funilaria pronta, domo de acrílico adaptado com as guias no lugar, mecânica refeita, pintura no padrão do BSH, casinhas e plaquetas com letreiros no lugar. A missão impossível foi concluída no tempo desejado.
Na foto de abertura a Kombi – Ataúde da Branca de Neve – está na cidade de Schwäbisch Hall tendo ao fundo algumas de suas edificações características. Esta Kombi também participa de eventos, como o de Bad Camberg de 2019, como mostram as fotos abaixo:
Na foto abaixo, Stephan Meyer é cumprimentado por um diretor do BSH; a satisfação com o trabalho apresentado foi tão grande que foi feita a encomenda de uma segunda Kombi idêntica:
O achado dos “Bavarian-Pickers”
Há muitos anos, Tino Ertel e Thomas Turnwald, donos da Bavarian-Pickers (Catadores-Bávaros), são loucos por velhas Kombis no verdadeiro sentido da palavra e também por Kombis que estão abandonadas em algum lugar na floresta ou no campo. Em 2017, eles receberam a informação de que uma Kombi Pick-Up Schwäbisch Hall estaria enterrada em uma floresta na Alta Baviera.
Um pouco céticos, os dois foram até a Alta Baviera. Na verdade, chegando ao local indicado os dois puderam ver claramente que havia uma Kombi enterrada lá, e de cabeça para baixo. Ela tinha sido enterrada lá há 55 anos, como se constatou depois.
Eles reconheceram a Kombi por sua parte inferior distinta, as duas longarinas longitudinais e as escoras transversais nas quais o piso de caçamba e a cabine estavam soldados. Em 1962, devido a um descuido do motorista na época — ele não havia acionado o freio de mão corretamente — a Kombi Pick-Up 1957 começou a se mover e acabou capotando. A cabine foi tão amassada que não valia mais a pena consertá-la. Então a Kombi Pick-Up foi canibalizada no local e enterrada de cabeça para baixo em uma depressão na floresta próxima. Ela descansou lá até 2017 — por 55 anos completos!
Mas era mesmo uma das lendárias Kombis Pick-Up Schwäbisch Hall dos anos 50 e 60? Como a Kombi estava presa de cabeça para baixo no chão da floresta, foi relativamente fácil encontrar os cantos arredondados na parte de trás e depois de uma breve escavação ficou claro: sim, era uma Kombi Pick-Up Schwäbisch Hall — as aberturas de entrada de ar para o arrefecimento do motor são verticais, e isso era uma marca registrada destes veículos.
Estabeleceu-se uma tensão entre os envolvidos. Quem é o dono da floresta em que a Kombi estava enterrada? Seria permitido desenterrar a Kombi? O que sobrou dela? Afinal, só dava para ver as longarinas longitudinais e as escoras transversais, bem como a montagem do eixo traseiro. Até mesmo o câmbio e o eixo dianteiro foram removidos anteriormente, então aparentemente se tratava apenas da carroceria. Depois que a propriedade foi esclarecida e a licença de resgate, emitida, o trabalho de retirá-la dali começou.
Levaria três dias até que a carcaça desta Kombi pudesse finalmente ser retirada de seu supostamente “último” local de descanso. É de se observar que todas as áreas ocas da estrutura da picape foram totalmente preenchidas de terra durante os 55 anos de estar enterrada, terra esta que teve que ser retirada com cuidado. E quem conhece a Kombi Pick-Up sabe que o compartimento fechado sob a caçamba é bem grande e ele estava totalmente cheio de terra, o que deu um trabalhão devido ao peso
No fim das contas, o impressionante estado de preservação da carcaça era inacreditavelmente bom, levando em consideração os 55 anos que ficou enterrada de cabeça para baixo no solo úmido da floresta. Mas pôde-se conferir, em muitos lugares, a cor original e a marca registrada de Schwäbisch Hall ainda podiam ser reconhecidas perfeitamente
Na exposição “Retro Classics Bavaria”, em 8 de dezembro de 2017, o que restou da Kombi Schwäbisch Hall original foi apresentada ao público pela primeira vez, juntamente com sua réplica. Tino Ertel e Thomas Turnwald ainda não sabem se esta será restaurada — tende a não ser — porque do jeito que ela está agora é realmente algo muito especial!
Para ilustrar o difícil trabalho de resgate da carcaça da Kombi Schwäbisch Hall, assista ao vídeo (03:14) de registro dos trabalhos:
Para encerrar esta matéria apresento a foto que mostra que a natureza sempre batalha por seu espaço:
Miniaturas da Kombi Schwäbisch Hall
Muitos fabricantes de miniaturas lançaram miniaturas deste simpático veículo, como foi o caso da Schuco:
Eventualmente a própria BSH lançou uma campanha na qual vendeu uma quantidade limitada de miniaturas da Kombi “Ataúde da Branca de Neve” e quem as comprasse ganhava uma “raposinha mascote do banco”:
E para quem for à Alemanha a passeio ou a trabalho, aconselho incluir uma visita à cidade de Schwäbish Hall que é muito linda e para dar uma visão de como seria seu passeio por lá, aí vai um vídeo (12:39) especial:
AG
Este trabalho demandou uma grande pesquisa nos sites: https://www.meyer-oldtimer.de , https://imgr1.eurotransport.de/, https://www.bavarian-pickers.com/, https://www.schwaebisch-hall.de , https://www.thesamba.com , https://ofdc.forumactif.org/ , Wikipédia, e outros. É uma matéria diferente com muitas fotos e ainda ficou um outro tanto de fora, uma homenagem às queridas Velhas Senhoras…
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