Panaceia: qualquer coisa na qual se acredita que possa remediar vários ou todos os males. Quando toda a indústria e a comunidade científica se referem à energia elétrica como uma panaceia, a solução única dos alegados e pretensos males causados pelo automóvel, algumas vozes mais clarividentes apontam outras soluções para salvar os motores a combustão de serem demonizados. Graças a Deus ainda restam essas pessoas na Terra…
A utilização das energias renováveis para a produção de hidrogênio verde é uma grande contribuição para a neutralidade carbônica dos combustíveis sintéticos. Segundos vários especialistas e algumas marcas, como a Bentley e a Porsche, esta é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada. A marca do Reino Unido vai se juntar à marca de Stuttgart para as pesquisas. A Mazda também desenvolve seus testes com esse combustível.
Os combustíveis sintéticos podem ser o caminho para a continuidade da existência dos motores a combustão, devido à sua neutralidade carbônica. Esse assunto foi tratado aqui no AE em duas ocasiões, a primeira e a segunda .
O desenvolvimento dos combustíveis sintéticos poderá manter em circulação todos os carros que usam motores a combustão, inclusive os do ciclo Diesel. Mas como isso será viabilizado? A ciência que está por detrás destes combustíveis é muito simples. Trata-se de utilizar o recurso natural mais abundante no planeta, o hidrogênio, de uma maneira bem mais sustentável do que extrair o petróleo dos poços.
Além disso, todo o processo pode ser neutro do ponto de vista carbônico, usando se possível a energia renovável como a solar fotovoltaica ou a eólica. A energia solar fotovoltaica é obtida através da conversão direta da luz em eletricidade por meio do efeito fotovoltaico.
O método visa misturar os átomos de hidrogênio obtido pelo processo citado, com o dióxido de carbono (CO2) capturado, para criar um combustível chamado e-metanol. Posteriormente converte-se o e-metanol em e-gasolina, e-diesel ou e-querosene para aviões. A Climeworks (foto de abertura) é uma empresa suíça especializada em tecnologia de captura de ar com CO2.
Os e-fuels constituem-se assim numa fonte de combustível com uma redução muito significativa de emissões. Há quem ache que o impacto ambiental desta solução é menor que o impacto da atual produção de baterias, no que diz respeito à extração das matérias-primas necessárias para a sua construção. Sem falar no seu futuro descarte…
Os combustíveis sintéticos são uma forma inteligente de descarbonizar o planeta. Utilizam hidrogênio e CO2, que pode ser capturado para esse fim. Por ser um combustível artificial, não tem subprodutos, como acontece com a refinação do petróleo para obter gasolina e diesel. Sendo assim, é bastante mais limpo, podendo chegar a uma redução de CO2 da ordem dos 85 por cento.
O envolvimento da Porsche e ao que tudo indica, da Bentley, está num dos projetos mais ambiciosos. É na Siemens Haru Oni, cuja fábrica de e-fuel no Chile tem tido investidores de peso, como a Porsche, que investiu na sua construção e desenvolvimento € 20 milhões.
A Siemens Energy está desenvolvendo e implementando a primeira usina integrada e comercial em grande escala do mundo para a produção de combustível ecológico e neutro para o clima. É o projeto Haru Oni (projeto piloto HIF), que está aproveitando os ventos fortes e constantes em Magalhães, região mais ao sul do Chile.
Segundo a marca alemã, este é um caminho que não deve ser descuidado, graças ao seu potencial. O Porsche 911 GT3 Cup é um dos automóveis de competição que utiliza gasolina sintética, como um banco de ensaio para outras aplicações. A sua utilização não necessita de grandes adaptações nos atuais motores a combustão, mesmo os mais antigos.
Segundo as estimativas, a produção anual de 550 milhões de litros de e-fuel será o suficiente para manter mais de um milhão de automóveis com motores a combustão circulando durante um ano. No momento em que a mobilidade sustentável parece restrita à tirania obsessiva pelo automóvel elétrico, esta não deixa de ser uma ideia reconfortante e alentadora.
AB