O Volvo XC60 Recharge, automóvel deste 32º teste de 30 Dias do Autoentusiastas, é para lá de especial. O mais tecnologicamente avançado, caro e potente entre todos que passaram pelas minhas mãos desde a estreia desta editoria, em abril de 2015.
Trata-se de um PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle, ou veículo elétrico híbrido de plugar), um carro de dois motores, um a combustão interna e outro elétrico, com baterias que podem ser alimentadas seja pela regeneração de energia — ao desacelerar ou frear ou desacelerar —, ou conectando-as a uma tomada de energia elétrica apropriada, em estações de recarga que se acham cá e lá nas grandes cidades, ou em casa mesmo através de um cabo que vem com o carro, desde que a tomada esteja dentro do padrão especificado e supere os 16 A de amperagem, tanto em 110 quanto em 220 volts.
Híbridos não são novidade no 30 Dias do AE. Já tivemos o Toyota Prius (agosto de 2017) e o Toyota Corolla (março de 2020), mas nenhum deles era PHEV, nenhum deles suve, nenhum com 407 cv de potência, nenhum deles custando nem perto de 370 mil reais.
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas
Quantos podem pagar esta quantia por um carro no Brasil? Bem, de acordo com os dados de mercado da Fenabrave, 430 Volvo XC60 foram emplacados em julho de 2021, o que colocou o modelo no 50º lugar do ranking brasileiro de emplacamentos daquele mês. Um julho no qual a marca sueca (que há dez anos tem dono chinês, a Geely) ocupou a 18ª posição nos emplacamentos, com um total de 633 veículos, à frente da concorrente direta Land Rover, com 294. No acumulado do ano, 1.957 Volvo XC60 chegaram as ruas, o que permite dizer que o modelo é líder de seu segmento.
Volvo é uma marca que preza a segurança. Em seu carnê de realizações está a introdução e, 1959 de nada mais, nada menos, que o hoje onipresente cinto de segurança de três pontos. Além disso, desde o ano passado, limitou eletronicamente a velocidade máxima de todos seus carros a 180 km/h. Todavia, este XC60 ora em teste é capaz de chegar da imobilidade a 100 km/h em pouco mais de 5 segundos, marca que apenas poucos esportivos e pouquíssimos suves são capazes de igualar ou superar.
Enfim, é marca de nicho para clientes bons de bolso, sensíveis ao apelo ambiental, atentos a segurança, alta tecnologia e também desempenho, que não medem despesa para ter na garagem um veículo de vanguarda, mas com design mais “low profile”, menos chamativo do que o de um Audi, BMW, Mercedes-Benz ou dos Land/Range Rover. E mais: a Volvo no Brasil vende apenas suves híbridos ou elétricos puros.
Campeão no crash test, ou teste de impacto, carro do ano na Europa tempos atrás, o XC60 tem uma configuração técnica peculiar, com sua bateria situada no túnel central e monobloco com aços de diversas especificações, visando eficiência estrutural e segurança. Nas suspensões, triângulos duplos superpostos com molas helicoidais na dianteira, e atrás uma suspensão multibraço com uma mola de lâmina transversal de compósito de fibra de vidro — remete a três gerações de Corvette e lembra os Fiat 147 e Uno, mas de feixe de molas metálicas e geometria de suspensão McPherson.
Quanto à motorização, os 407 cv de potência derivam da ação conjunta do motor 4 cilindros em linha com turbocarregador e supercarregador, de 320 cv, e mais os 87 cv do motor elétrico. Quanto ao torque máximo, são 65,3 m·kgf, tudo isso despejado através de um câmbio automático epicíclico de oito marchas Geartronic (Aisin AW) em uma tração AWD inusitada: na tração dianteira atua o motor a combustão, enquanto na traseira é o motor elétrico que movimenta as rodas.
Na bela cor metálica Fusion Red, o Volvo XC60 que nos foi cedido é o de entrada da família, que no site da marca é cotado a exatos R$ 364.950. Tem bancos de couro preto, um teto solar gigantesco, um bom porta-malas de 468 litros e toda a eletrônica embarcada que você pode imaginar, que no decorrer da avaliação irei detalhando, uma vez que este é o tipo do veículo que exige algum tempo para que seus inúmeros equipamentos e recursos sejam compreendidos e desfrutados convenientemente.
Muito bem atendido pelo colaborador da Volvo que me entregou o XC60, saio de uma garagem no subsolo para a rua, em uma tarde de sexta-feira paulistana ensolarada e fria, rumo ao meu mês de Volvo. Noto de cara o silêncio típico de um carro que se move usando apenas eletricidade. Dotado de quatro modos de condução, sempre com tração integral (AWD) — Pure, Hybrid, Individual, Power e Off Road —, assim que o carro é ligado, Hybrid é o “default”, a pré-seleção normal a não ser que o condutor atue no comando dos Drive Modes situado no console central e escolha outro modo.
Em Hybrid o XC60 sai da inércia sempre usando o motor elétrico, mas se o pé afundar demais no acelerador, seja por pressa ou por outra razão, o motor a combustão interna entra em ação. E conforme o Drive Mode escolhido, o quadro de instrumentos muda: em Hybrid não há conta-giros, mas sim uma escala circular que mostra a energia consumida, e se ela é elétrica ou térmica. Mostra também se está ocorrendo regeneração ou não.
O carro me foi entregue com 100% da alcance da bateria disponível, o que significa cerca de 38 km de alcance que, claro, irá variar de acordo com tipo de uso, topografia e outros fatores que comprometam o consumo de energia, como uso de ar-condicionado ou rodar em locais com muitos aclives, por exemplo.
“Suave na nave” é uma expressão da moda, boa para definir o primeiro percurso urbano com o XC60, que roda confortável sobre o desgraçado piso paulistano. Veio com rodas de 19 polegadas e pneus de perfil 55, as de série, havendo como opcional as rodas aro 22 (por 42 mil reais…) com pneus de perfil 35, que tornariam o XC60 certamente mais áspero em termos de rodagem. Um opcional que desaconselho tanto pelo preço como principalmente piso que temos, dada a maior fragilidade dos pneus de perfil 35.
A direção me pareceu algo pesada, mas correta para um carro deste porte (1.658 mm de altura, 1.999 mm de largura e 4.688 mm de comprimento, massa de 2.080 kg). Visibilidade, conforto, boa ergonomia, equipamentos, luxos e o acabamento esmerado? Todos presentes, o que é coerente com o preço do XC60, equivalente ao de um apartamentinho até que bem razoável.
A programação para este 30 Dias no “andar de cima” da produção automobilística mundial? A de sempre: pegar estrada, muita, e submetê-lo a uso variado, mas antes estudar muito suas configurações possíveis para desfrutar à fundo esta verdadeira joia da coroa sueca, um suve considerado dos mais seguros e bem-avaliados da produção mundial.
Mal entro em casa, meus planos mudam (manda quem pode, obedece quem tem juízo…): em vez de fim de semana caseiro, sou convocado para fazer uma viagem ao litoral norte de São Paulo. Em vez de estudar o XC60 sentado no sofá, vou pegar a estrada e aprender fazendo quilômetros. E assim mergulhei na marginal do Tietê, no congestionamento típico das sextas-feiras paulistanas, que, depois de uma hora, nos libertou para a rodovia propriamente dita.
O Volvo? Ah! Que beleza “sofrer” no congestionamento dentro dele. Deu tempo para me inteirar sobre alguns comandos, e ler algo do manual do proprietário que é acessível na grande tela central do painel. Premissa: tudo muito intuitivo, não sofri para mudar de estação do rádio, achei facilmente os controles de áudio, conectei meu iPhone para espelhar o Spotify e o Waze, apesar do XC60 ser dotado de um navegador caprichado e ter modem dotado de chip que “conversa” com a rede, proporcionando acesso à internet.
Nas cercanias do espelho retrovisor central, um botão chama a atenção, o do Volvo On Call, que se apertado me conectaria à central de assistência aos usuários dos Volvo 24h/24h, providenciando desde informações banais às de caráter mais importante. Ao lado deste botão On Call outro botão, um SOS vermelho, que premido acionaria um socorro emergencial de urgência. Desnecessário dizer que neste Teste de 30 Dias espero não ter que utilizá-lo…
O relato sobre minhas impressões do Volvo XC60 nesta imprevista viagem ao litoral você lerá na semana que vem, mas a título de antecipação ofereço a tabelinha de marcha aí embaixo, com consumo, quilometragem percorrida e outros dados, e aviso que o comportamento do suve sino-sueco fabricado na Bélgica (e dá-lhe globalização!) me surpreendeu de maneira para lá de importante. Positivamente ou negativamente? Leia na semana que vem. Até lá!
RA
(Atualizada em 11/08/21 às 21h45, correção de informação sobre saídas de ar climatizado na foto do banco traseiro)
Volvo XC60 Recharge T8 Momentum
Dias: 7
Quilometragem total: 487 km
Distância na cidade: 54 km (50%)
Distância na estrada: 433 km (50%)
Média: 51 km/h
Tempo ao volante: 9h27min
Consumo médio: 11,4 km/l
Melhor consumo: 13,3 km/l
Pior consumo: 10,3 km/l
FICHA TÉCNICA VOLVO XC60 RECHAGE T8 MOMENTUM | |
MOTOR A COMBUSTÃO | |
Designação | B4204T48 |
Tipo | 4 cilindros em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, correia dentada, variador de fase na admissão e escapamento, injeção direta, 4 válvulas por cilindro, turbocarregador e supercarregador, interresfriador, gasolina 95/98 RON |
Cilindrada (cm³) | 1.969 |
Diâmetro (mm) | 82 |
Curso (mm) | 93,2 |
Taxa de compressão (:1) | 10,3 |
Potência máxima (cv/rpm) | 320 / 5.700 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 40,8/2.200~5.400 |
MOTOR DE PARTIDA/GERADOR | |
Localização | Entre o motor e o transeixo |
Potência (cv) | 45 |
Torque (m·kgf) | 16 |
MOTOR ELÉTRICO DE TRAÇÃO | |
Tipo | Síncrono de ímã permanente, |
Localização | Eixo traseiro |
Potência máxima (cv) | 87 |
Torque máximo (m·kgf) | 24,5 |
TORQUE E POTÊNCIA COMBINADOS | |
Potência total combinada (cv) | 407 |
Torque total combinado (m·kgf) | 65,3 |
BATERIA DE TRAÇÃO | |
Tipo/localização | Íons de lítio / central no túnel do veículo |
Tensão (V) | 400 |
Capacidade (kW·h) | 11,6 |
Potência máxima de carga, AC (kW) | 3,6 |
TRANSMISSÃO | |
Designação | AW TG81SD |
Tipo | Transeixo dianteiro com câmbio automático epicíclico de 8 marchas, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 5,250; 2ª 3,029; 3ª 1,950; 4ª 1,457; 5ª 1,221; 6ª 1,000; 7ª 0,809; 8ª 0,673; Ré 4,015 |
Relação de diferencial (:1) | 3,329 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, triângulos superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Independente, multibraço, mola transversal de lâmina única de compósito de fibra de vidro, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de giro (m) | 11,4 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/345 |
Traseiros(Ø mm) | Disco/320 |
Controle | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 7,5J x 19 |
Pneus | 235/55R19H |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.688 |
Largura sem/com espelhos | 1.999/2117 |
Altura | 1.658 |
Distância entre eixos | 2.865 |
Bitola dianteira/traseira | 1.653/1.657 |
Distância mínima do solo (mm) | 216 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 2.080 |
Carga útil (kg) | 580 |
Carga máxima no teto (kg) | 100 |
Peso máximo rebocável (kg) | 2.100 |
Tanque de combustível (L) | 71 |
Porta-malas (L) | 483 a 1.410 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,32 |
Área frontal (calculada, m²) | 2,65 |
Área frontal corrigida (m²) | 0.84 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 5,4 |
Velocidade máxima (km/h) | 180 (limitada) |
ÂNGULOS | |
Entrada/saída/rampa (º) | 23,1 / 35,5 / 20,8 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL WLTP | |
Médio (km/l) | 30,3 |
ALCANCE | |
Em modo elétrico (km) | 45 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 8ª (km/h) | 61 |
Rotação a 120 km/h em 8ª (rpm) | 1.970 |
Rotação à vel. máxima em 8ª (rpm) | 2.950 |