A situação hoje seria menos desesperadora do que num passado não muito distante, pois a corrida tecnológica em busca de alternativas para o combustível de origem fóssil nunca esteve tão acelerada.
Entraram em cena novos combustíveis. Os principais são o biocombustível, gás natural, hidrogênio e energia elétrica. Aliás, dois deles — eletricidade e álcool — estão voltando ao palco, pois foram usados no século 19, antes mesmo da gasolina.
Combustão “limpa”
Biocombustível – Alternativa para se evitar a queima do carbono presente no petróleo (que está muito longe de acabar, contrariando previsões catastróficas) é substituir seus derivados pelos de origem vegetal. Utilizados em motores convencionais ou adaptados para queimá-los.
O Brasil é o maior especialista do mundo para o uso do álcool em motores a combustão, no lugar da gasolina.
O diesel dos nossos motores já recebe uma mistura de biodiesel (hoje em 10%) e já se desenvolve o “Diesel Verde” (ou HVO, sigla em inglês para óleo diesel vegetal hidrotratado) que pode ser usado direto no motor (100%).
Hidrogênio – Foi utilizado experimentalmente em substituição à gasolina, entre outros pela BMW no série 7 em 2005) e pela Mazda num RX-8 com motor rotativo Wankel (2004. E voltou recentemente como combustível em novos projetos:
– Akyo Toyoda, presidente da Toyota, foi piloto este ano ao volante de um Corolla com H2 (hidrogênio) no tanque. Os engenheiros da marca afirmaram ter obtido torque 15% maior que a gasolina.
– A empresa belga de tecnologia Punch desenvolve em sua filial italiana (Turim) uma picape Nissan com motor a diesel, porém preparado para queimar H2.
Híbridos, há mais de 100 anos
Tecnologia muito em evidência hoje, foi apresentada inicialmente por Ferdinand Porsche em 1901. Isso mesmo: 1900, há 120 anos! É ele mesmo, o austríaco fundador da fábrica dos famosos esportivos alemães que leva seu sobrenome.
O híbrido Semper Vivus, de Ferdinand Porsche, de 1901, tinha motor a gasolina acionando um gerador para alimentar motores elétricos dentro das rodas. Quase um século depois (1997), o projeto foi reativado e quem tomou a dianteira foi a Toyota com o Prius, que já vendeu 3,7 milhões de unidades pelo mundo. Os dois motores, elétrico e combustão, tracionam o carro.
Na parede – A novidade seguinte foi o híbrido “plug-in”. Além de a bateria se recarregar nas reduções de marcha ou ao frear, ela se recupera também na tomada. Tem, portanto, maior capacidade e confere alcance superior, podendo rodar até 50 quilômetros. Em geral suficiente para o carro rodar somente elétrico no dia a dia. Se o motor a combustão for alimentado com álcool, a solução passa a independer do petróleo.
“De Leve” – Surgiu também o híbrido “de leve”, ou “mild hybrid”. O motor elétrico não traciona diretamente o carro, mas é recarregado nas frenagens e substitui motor de arranque e alternador. E ainda “auxilia” o motor a combustão nos momentos de maior exigência de potência.
Locomotiva – Outra ideia inteligente e que pode (no Brasil) se tornar independente do petróleo, partiu da engenharia da Nissan: um híbrido que tem um pequeno motor a combustão acoplado a um gerador. Este aciona o motor que traciona o carro. Sistema copiado das locomotivas diesel-elétricas: são igualmente movimentadas por motores elétricos que recebem energia de geradores acoplados a um enorme motor diesel…
Elétrica, a mais eficiente
Bateria – A dificuldade desta opção vingar mais rapidamente não é do motor, mas da bateria. Desde o final do século 19, quando surgiram os primeiros automóveis elétricos, alcance já era problema.
Ele voltou, mas o alcance, ponto e tempo de recarga continuam problemáticos. Entretanto, tem uma notável e insuperável eficiência de cerca de 95% contra 40%, no máximo, do motor a combustão. E, enquanto este tem centenas de componentes, o elétrico tem uma única peça móvel e não requer manutenção.
Célula a combustível– Mas o automóvel pode se movimentar eletricamente dispensando a bateria: é o sistema da célula (ou pilha) a combustível (fuel cell) que gera sua própria energia elétrica. Uma reação química da célula alimentada por hidrogênio, com o oxigênio do ar, produz a energia elétrica. Tão limpo que sai apenas água pelo escapamento. E, apesar de elétrico, sem limite de alcance. enquanto houver hidrogênio no reservatório, de reabastecimento rápido.
Outro desenvolvimento para se tracionar o veículo eletricamente é a mesma célula a combustível, porém com álcool em vez de H2 no tanque. Exige um equipamento adicional no próprio carro (ou no posto): um reformador que extrai hidrogênio do álcool. Já está em desenvolvimento no Brasil numa parceria entre a Nissan e a Universidade de Campinas (Unicamp). Sistema que seria ideal para o Brasil, onde já existem postos de álcool em todo o país.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor
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