Dentro de poucos anos a venda de veículos será apenas uma entre várias fontes de receita de um fabricante. Essa estratégia já está no radar de quase todas as marcas, mas algumas estão com os planos mais adiantados do que outras.
Estamos falando de novos negócios com potencial de ganhos milionários. Em alguns casos, bilionários. Parece exagero? Pois saiba que na semana passada a GM divulgou aos investidores seu planejamento estratégico para a próxima década, no qual assumiu que seus veículos conectados e novos negócios vão gerar mais de US$ 80 bilhões por ano em 2030.
Vamos conhecer alguns dos empreendimentos que vão se popularizar em breve entre as principais marcas de veículos e não se surpreenda por não encontrar na lista a modalidade de carro por assinatura, afinal ela já é realidade no Brasil, onde quase uma dezena de marcas oferece essa modalidade.
1) Direção autônoma
Os fabricante gostam de dizer que o futuro é elétrico e autônomo. De fato, o desenvolvimento das duas tecnologias anda de mãos dadas. Mas isso não acontece somente para dar aos automóveis vendidos pelos fabricantes a habilidade de serem guiados sem a ajuda do motorista.
Quem dominar o conhecimento da condução autônoma poderá iniciar um novo negócio, talvez até mais lucrativo do que o simples comércio de veículos. Por isso as grandes companhias estão correndo atrás desse sonho.
A GM já disse que pretende faturar US$ 50 bilhões anuais em 2030 com sua empresa Cruise. Começará oferecendo a partir de 2023 um novo recurso para seus carros (poderá vir de fábrica ou ser adquirido após a compra) que vai permitir ao motorista tirar as mãos do volante em 95% das condições de uso em cidade ou estrada — deve, assim, superar o tão aclamado Autopilot, da Tesla.
O próximo passo é entregar em menos de 10 anos até 1 milhão de unidades do veículo Origin, que vai transportar passageiros pelas cidades sem usar motorista. Dessa forma, o custo da viagem cairia dos atuais US$ 5 por milha em carros de aplicativo para US$ 1,50.
Mas não é só a GM que está nessa. A Ford planeja colocar 1.000 carros autônomos para rodar em várias cidades americanas nos próximos cinco anos em parceria com a Argo AI, a mesma startup que também vai ajudar a Volkswagen a construir seu negócio de autônomos.
Esse é um segmento que envolve investimentos tão gigantescos, riscos tão grandes e uma expertise tão complexa que até empresas que atuam em transporte de passageiros ou compartilhamento de carros estão caindo fora. No fim do ano passado, a Uber vendeu sua divisão interna de direção autônoma para a startup Aurora, que já fechou parcerias com Toyota e Hyundai. Em abril, foi a vez da Lyft, que repassou o mesmo departamento para uma subsidiária da Toyota por US$ 500 milhões.
2) Softwares e personalizações do veículo
Se o seu computador precisa da última versão do Windows ou se você busca um aplicativo que transforma seu celular numa câmera fotográfica profissional, basta baixar via internet o programa diretamente da nuvem. Hoje já é possível fazer o mesmo com alguns softwares específicos para veículos.
Não vai demorar muito para esse mercado se tornar uma mina de dinheiro. A Volkswagen inaugurou em setembro seu serviço de atualização a distância para os elétricos ID.3 e ID.4 — modelos que devem ser lançados no Brasil nos próximos anos — e que mais tarde será estendido aos novos modelos da marca.
Além de permitir corrigir automaticamente problemas no carro ou baixar novas versões dos sistemas eletrônicos que gerenciam o veículo, a inovação abre caminho para serviços que serão pagos à parte ou até mesmo em forma assinatura recorrente. Será possível desbloquear recursos pré-instalados e solicitar recursos adicionais, de aquecimento dos bancos a sistemas de navegação.
A marca alemã não esconde que espera que esse serviço se torne um negócio altamente lucrativo dentro de alguns anos, inspirado no trabalho pioneiro da Tesla, que há anos disponibiliza nos seus veículos itens como aumento da autonomia da bateria ou um pacote avançado do Autopilot, um opcional que já custou US$ 8 mil para ser baixado.
Recentemente, a GM divulgou que vai estrear em 2023 sua plataforma de software veicular chamada Ultifi, que atenderá tanto automóveis a combustão quanto elétricos. A empresa já deixou claro que o Ultifi faz parte de uma estratégia “para aumentar a receita além das vendas de veículos”, já que o motorista poderá assinar serviços de streaming, baixar personalizações do veículo — que poderão ser transferidas de um carro para o outro, como fazemos hoje quando trocamos de celular – e até comprar aplicativos de terceiros, que deixarão uma porcentagem dessa venda no bolso da GM.
3) Seguro sob medida
Quem já embarcou nessa área é a GM com a OnStar Insurance, que promete revolucionar esse setor com um formato inovador. O nome vem de outra divisão da GM, que oferece serviços de comodidade e segurança em seus veículos desde 1996.
A nova seguradora vai possibilitar ao proprietário comprar o seguro diretamente do fabricante por valores mais baixos, desde que ele dirija com segurança. O segredo estaria num sistema que analisa a distância o comportamento do motorista para elaborar uma apólice personalizada. Quanto mais prudente ele for ao volante, menor o custo para o cliente.
É verdade que a GM não é o primeiro fabricante a criar um seguro próprio, afinal a Tesla já fazia isso antes, mas ele é do tipo convencional, disponível só no estado da Califórnia e apenas para seus próprios veículos. A OnStar Insurance vai mais longe, pois oferece seu seguro a veículos de qualquer marca, inclusive caminhões.
4) Postos de recarga
Na medida em que mais carros elétricos chegam às ruas, mais pontos de recarga são necessários, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. Uma parte dessa infraestrutura está sendo criada pelos governos locais, enquanto a outra está a cargo da iniciativa privada. É aí que entram os fabricantes, que já perceberam que esse pode se tornar um novo negócio.
A Tesla é a mais adiantada nessa área. Ela é dona da Supercharger, uma rede que foi criada em 2012 e hoje conta com mais de 25 mil carregadores em mais de 2,7 mil estações próprias espalhadas pelo mundo. No momento, todas são exclusivas para os automóveis da marca, mas isso está para mudar.
A fabricante americana já confirmou que a partir do ano que vem abrirá sua rede a modelos de outras marcas. Com isso, ela ganhará duas vezes: cobrando dos motoristas pela recarga e taxando as outras marcas, que terão de pagar pela permissão de uso.
A Volkswagen também atua nessa área, mas escolheu um modelo um pouco diferente. Como compensação pelo escândalo do Dieselgate, a companhia montou em 2017 a subsidiária Electrify America. É uma rede com cerca de 600 estações e 2,6 mil pontos de recarga que formam uma rota rodoviária que atravessa o país de Leste a Oeste e, ao contrário da Tesla Supercharger, é aberta a veículos de qualquer marca.
ZC