Acho que ninguém gosta de ar sujo ou, dito de outra maneira, todos apreciam um ar limpo. Tive três experiências marcantes, uma com ar sujo, duas com ar limpo.
Em meados dos anos 1970 as Volkswagen organizou um seminário de sete dias, em Nova Friburgo, cidade serrana do estado do Rio de Janeiro, para titulares de concessionárias, com participação voluntária e às expensas de cada um. O seminário realizou-se no Hotel Sans Souci, situado em meio a farta arborização. Naturalmente,, lá me hospedei, com minha esposa, apreciando o ar puro de montanha. Não cheguei nem perto do meu Passat L 1974 durante todos aqueles dias. não saímos do hotel.
No domingo de manhã iniciamos o retorno ao Rio, onde morávamos. Mal entramos na corrente de tráfego, mesmo bem menos volumosa comparando com hoje, começamos a sentimos a sentir um odor estranho, forte e penetrante, relativamente novidade,, que logo atinei ser proveniente dos escapamentos dos carros. É claro que eu o conhecia, mas nunca o havia sentido de maneira tão intensa. A explicação, o contraste entre passar sete dias respirando ar puro e em seguida entrar no tráfego com outros veículos. Nunca me esqueci daquela experiência de sentir tamanha diferença no ar que respiramos.
As outras situações que me marcaram, uma foi estar trafegando no corredor norte-sul de São Paulo, formado pelas avenidas 23 de Maio, Rubem Berta e Moreira Guimarães, já morando aqui, e notar que um ônibus da Viação Santa Cruz, usados na ligação entre os aeroportos Guarulhos e Congonhas, não emitir nenhuma fumaça pelo escapamento, nem mesmo nas subidas, em que mais potência é exigida. Aquilo me deixou tão admirado que escrevi para a empresa felicitando-a.
A outra teve dois sabores, Foi viajando do Rio a São Lourenco, MG, já no trecho que sai da Via Dutra, em Engenheiro Passos, para pegar a estrada para São Lourenço. Alcancei um ônibus rodoviário (não me lembro da empresa, só sei que era um Scania) e, mesma coisa, nenhuma fumaça pelo escapamento. Como sempre faço, havia a “missão” de ultrapassá-lo, mas vi que o ônibus não estava tão lento naquela estrada de muitas curvas e pouca retas.
Eu estava com meu Passat LS 4-portas 1500 com carburador duplo 32/35 e escapamento de TS, mimetizando um TS alemão da época. que andava muito. Uma tentativa, duas, e vi que não seria fácil. Enquanto preparava o “bote final” comecei a notar que a tocada do motorista era excepcional. Freava com total suavidade antes de cada curva — nada de cabeceadas — e as fazia em velocidade que pouco devia para um automóvel como o Passat, denotando estar senhor da situação. Resolvi não ultrapassá-lo só para ficar admirando aquela maestria ao volante de um ônibus numa estrada como aquela.
Tive certeza de que o motorista entendeu o cenário e passou andar mais rápido, como se estivesse espremendo tempo numa prova de classificação, mas sem esquecer da finesse de pilotar — sim, pilotar e não dirigir o grande ônibus. Já nos trecho final da estrada, quase chegando a São Lourenço vi ele “tirar o pé”, reduzir bem a velocidade, imagino que tivesse sido para não chegar muito adiantado, e o ultrapassei, Dei dois toque de buzina e dei um esfuziante sinal de positivo, que ele respondeu com duas breves buzinadas também e dois relampejos de faróis.
Até hoje me arrependo de não tê-lo acompanhado até o ponto de desembarque para conhecer o “colega” e cumprimentá-lo.
Voltando ao tema central, ar limpo, ele tem relação com o que escrevi na coluna de 12 de outubro sobre álcool demais na gasolina brasileira. A partir do momento em que a gasolina passou a E22 em 1997 — o que dirá E25 em 2004 e E27,5 em 2015 — , a mistura ar-combustível de todos os motores previstos para E5 a E12 ficou pobre, com perda de potência e engasgos nas retomadas. Passou a ser normal cada um tratar de enriquecer a mistura a seu jeito, sem rigor técnico que isso exige, e daí veio em muitos casos o excesso de combustível na mistura — crime impune dos vários governos contra o meio ambiente.
Não sou só eu quem diz isso. A própria Anfavea reconheceu publicamente o problema da E27,5 para os motores mais antigos e recomendou — acredite se quiser — que seus proprietários abastecessem com gasolina premium (E25) por esta conter menos álcool.
BS