Durante muitos anos o grande desafio enfrentado pela sociedade foi a redução das emissões do dióxido de carbono, o CO2, gás produzido pela combustão de combustíveis fósseis como gasolina ou diesel — e até álcool, ao contrário do que se pensa. Só que o carbono do CO2 é sequestrado do ar durante o crescimento das plantas, como a cana-de-açúcar.
O CO2 é um gás que causa o efeito estufa, em que ao se aprisionar na troposfera da atmosfera terrestre — em média a 12 mil metros de altitude — tem o efeito de uma estufa e com isso impede que o calor da Terra se dissipe no espaço, cuja consequência é a elevação paulatina da temperatura do planeta e as mudanças climáticas dela decorrentes.
Queimadas, desmatamento e atividades industriais também ocasionam esse aquecimento.
Na presente conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP 26) em Glasgow, na Escócia, iniciada no dia 31/10 último e que terminará no dia 12 deste mês, um outro gás entrou na berlinda, o metano (CH4). Em relação ao CO2 é cerca de 20 vezes mais poderoso quando se trata de efeito estufa. Em compensação, tem passagem mais rápida na atmosfera (cerca de 10 anos) enquanto o dióxido de carbono permanece mais de um século.
O metano tem origem nos vulcões, aterros sanitários (decomposição orgânica), pântanos e no processo de digestão dos ruminantes (bois, hipopótamos, touros, cabras, ovelhas, girafas, etc) e bactérias nas plantações de arroz.
Das emissões de CH4, a maior parte vem dos bovinos, que não são poucos: calcula-se que já tenham ultrapassado 1,5 bilhão de cabeças no mundo. São chamados ruminantes pelo processo digestivo do alimento que mastigam antes de chegar ao estômago, nos chamados rumens. Provocam gases expelidos pela boca ou pelas narinas. Mas também pelo “escapamento” (junto às fezes). E as pesquisas revelam que o metano teve um surpreendente e inexplicável crescimento nos últimos 10 anos.
Como reduzir as emissões?
Por incrível que pareça, mais da metade do metano tem origem nas bufas das vacas. Diversos estudos apontam para uma mudança na dieta (pasto) do rebanho como solução. Outros para uso de “máscaras” que captam e processam os gases.
Outra redução é a captura do metano gerado em aterros sanitários (“lixões”), colocando o gás a serviço da sociedade. É o biogás já usado em motores, assim como o GNV.
O CO2 perdeu um pouco a pose com a súbita invasão do metano em seus domínios, mas ainda é considerado o principal vilão da atmosfera. E o escapamento dos veículos não é – ao contrário do que apregoam os defensores do meio ambiente – sua maior fonte de emissões: transportes terrestres, marítimos e aéreos respondem por apenas 25% do total.
Mas, alternativas ao petróleo estão sendo desenvolvidas em todo o mundo. O álcool já é substituto da gasolina com emissão quase nula do o CO2 (considerado do pé de cana ao escapamento), no Brasil. Outros países, como EUA e Índia, avançam nesta direção. O diesel já vem sendo substituído pelo óleo vegetal.
Também o hidrogênio pode substituir os derivados do petróleo. Ou como combustível, ou para alimentar as células a combustível que geram energia elétrica a bordo para movimentar o veículo. Mas seu custo de produção, armazenagem e distribuição ainda é quase proibitivo.
Mas o vilão pode virar herói: pesquisas revelam a possibilidade de combinar o H2 (hidrogênio) ao CO2 (dióxido de carbono) para se obter metano (CH4) e movimentar veículos. Ou no processo de aquecimento industrial ou doméstico. Com resultado climaticamente neutro.
Carro elétrico é solução?
Sim e não. Em regiões onde a energia elétrica é gerada por usinas térmicas (a diesel, GNV ou carvão), ele simplesmente transfere o ponto de emissões de gases nocivos. Da cidade para o campo.
O mundo está migrando para o carro elétrico, mas ainda restam dúvidas e problemas a resolver. Ponto de recarga é um deles, principalmente para quem mora em apartamento. Nas estradas, os eletropostos são problemáticos pelo ainda demorado tempo de recarga. Uma coisa é esperar na fila da bomba. Outra é a da tomada…
O custo da energia elétrica é outra interrogação: o desembolso para recarregar na estrada é 50% maior que o doméstico. E quanto custará a energia elétrica para o consumidor final dentro de 15 anos?
Outra questão não menos importante é a capacidade de geração de energia elétrica do país. Numa entrevista recente com técnicos da usina de Itaipu, veio à tona que o número de carros elétricos que poderiam ser carregados hoje no país é de cerca de 180 mil. Como superar este limitador?
Uma solução “sopa no mel” para o elétrico no Brasil já está sendo desenvolvida por parcerias entre a Nissan e a Volkswagen com universidades paulistas. É o carro movido eletricamente sem bateria, por uma célula a combustível alimentada por hidrogênio extraído do álcool. À venda em todo o país.
Outra alternativa interessante — pioneira no mundo — é o híbrido flex do nosso Toyota Corolla. Que roda eletricamente ou a combustão, com álcool…
A rigor, a “limpeza” do meio ambiente não terá solução única, mas diversificada pelo mundo. Cada região com uma solução doméstica mais adequada para atenuar as emissões do CO2 e do CH4.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade dos seu autor.
Mais Boris? autopapo.com.br