Janeiro de vendas de automóveis no Brasil sempre teve cara de ressaca e isso foi muito bem explicado na apresentação de Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, no último dia 7. Num gráfico bastante didático, com média de vários janeiros, pudemos ver que esse mês costuma representar cerca de 6,5% das vendas totais do ano.
Os fatores que puxam a queda são os mesmos e conhecidos, férias de verão, aperto nas despesas dos compradores que desestimula as compras de carro zero, mês subsequente a dezembros fortes (quando ocorrem as antecipações de vendas para fechar números do ano). Só que este janeiro apresentou uma queda acentuada também contra janeiro do ano passado, ou seja, já considerada a sazonalidade. Culpou-se então a variante Ômicron da Covid, que me atingiu também e afastou do trabalho vários empregados na mão de obra direta e nos escritórios, em todos os fabricantes. Afetou produção e vendas. Para termos uma ideia, foi 40% abaixo de dezembro e 28% menos que janeiro do ano passado. Falta de chips? Também, no ano passado ela se manifestou a partir do segundo trimestre, foi um pouco equacionada, mas a normalização do abastecimento de semicondutores é somente esperada para janeiro que vem.
Tanto a Anfavea quanto a Fenabrave apressaram-se em dizer que um janeiro ruim não é suficiente para comprometer o ano, no que parecem estar certos. No ano passado testemunhamos que chips e alguns itens da matéria-prima limitaram a oferta, que por sua vez foi o limitador da demanda.
Tenho porém uma dúvida. Se as projeções indicam que este ano será 10% superior a 2021, esses exercícios de previsão de vendas foram fundamentados na redução dos gargalos de chips, uma melhora na oferta seria o fator principal do crescimento esperado. O meu palpite é de que os fatores que jogam contra o crescimento podem ter começado a se fazendo presentes e, se não forem devidamente atacados, pode ser que esse crescimento não venha. Falo a respeito dos preços de autos, cuja escalada supera a inflação do ano na proporção de 3 para 1 (10% de IPCA e +35% nos preços médios dos automóveis, nos mesmos 12 meses) e das taxas de juros, que estão sendo puxadas para cima pelas altas consecutivas da Selic e, para ajudar mais um pouco, os financiamentos de novos e usados têm-se tornado mais restritos. Nas duas primeiras semanas de fevereiro o ritmo seguiu lento. A ver.
VW anunciou a volta do segundo turno em sua fábrica da Anchieta, Nissan a caminho de abrir um segundo turno também, enquanto a GM anunciou a paralisação por um mês de sua fábrica de Gravataí.
Os preços dos automóveis estão em alta no mundo, mas enquanto nos EUA eles buscam driblar esse fator com financiamentos mais agressivos, aqui no Brasil fazemos o contrário. Sobem os preços e restringe-se o financiamento.
Os números estão ruins sim. Explicações dadas, vamos a eles, ao todo venderam-se 126.518 autoveículos, sendo 116.774 leves e 8.744 pesados.
Nos automóveis tivemos 41% a menos que dezembro e 30% menos que janeiro passado. Faturamento diário de leves ficou em 5.561 nos 21 dias úteis do mês. Quando olhamos para quanto foi faturado na concessionária e quanto foi venda direta, nos deparamos com queda de 33% no varejo e 21% nas vendas diretas. A explicação das revendas vazias por falta de compradores faz sentido aqui.
Ranking do mês
A Fiat (foto de abertura) manteve a primeira colocação que assumiu desde março passado, com boa distância do 2º e 3º lugares, respectivamente Chevrolet e VW, foram 23.299 versus 13.104 e 13.082. Hyundai em 4º, com 12.581 e Jeep em 5º.
HB20 liderou as vendas de automóveis, com 5.634 unidades licenciadas, seguido pelo Onix, Renegade, Compass. Pulse foi o modelo mais vendido da marca italiana, superou o Argo e figurou nos top 10. Talvez mereça destaque o 18º lugar do Peugeot 208, com 1.989 unidades.
Nos comerciais leves a Strada na frente, com 6.716 unidades, a deixou à frente até dos automóveis, de novo. Toro em 2º, Hilux em 3º, Oroch num bom 4º lugar.
Este ano enfrentaremos novamente limitações de chips, o que irá impactar na oferta de automóveis e influenciar os rankings de vendas.
Até mês que vem!
MAS