O início da primeira fase da temporada europeia é sempre aguardado com muita expectativa. Nessa ocasião, os motorhomes das equipes são mostrados pela primeira vez no ano, o velho continente é a casa da categoria, os carros apresentam um primeiro nível de evolução e, em consequência, as disputas políticas intensificam-se. Esse é o cenário do GP da Emília-Romagna (foto de abertura), quarta etapa do Campeonato Mundial de F-1, evento marcado para domingo, em Imola, na província italiana de Bologna. Após três etapas a Ferrari lidera entre construtores e, com Charles Leclerc, entre os pilotos, certeza que as arquibancadas e colinas do circuito Enzo e Dino Ferrari estarão superlotadas, algo impossível nos últimos anos, consequência da Covid-19.
Os motorhomes usados pelas equipes de F-1 são verdadeiros palácios sobre rodas, construídos para proporcionar a cada um dos seus pilotos uma área privativa de descanso e um ambiente para receber convidados VIP, geralmente patrocinadores atuais ou potenciais. Em horários menos concorridos servem também para ações com a imprensa e eventos gastronômicos de alto nível. O suíço Peter Sauber, fundados da organização que atualmente promove a marca Alfa Romeo, ficou famoso pelos jantares harmonizados com bons vinhos e refinados charutos que promovia quando ainda era o comandante maior da equipe suíça. Em 1999 convidei cerca de 20 jornalistas de diversos países para promover o prêmio “Best Rango”. Ao longo do ano foram analisados três quesitos: taças (qualidade dos vinhos e bebidas servidas), talheres (idem para a gastronomia servida em cafés da manhã e outras refeições) e ambiente. A equipe vencedora foi a BAR e esse resultado foi explorado mundialmente pela marca Barilla, que fornecia pastas e molhos ao time onde Ricardo Zonta era um dos pilotos.
No chão de fábrica, engenheiros e técnicos já desenvolveram modificações possíveis para mitigar as deficiências que foram notadas nas pistas de Abu Dhabi, Jeddah e Melbourne, em especial a “pandemia” que assola os carros da categoria: o efeito golfinho. Se a Ferrari pode dar-se ao luxo de contar com o carro mais equilibrado até o momento, seus rivais diretos lutam para sanar problemas de confiabilidade, caso da Red Bull, e à sensibilidade exacerbada da aerodinâmica, mal que aflige a Mercedes.
Curiosamente, essas deficiências afetam de maneira distinta cada um dos respectivos pilotos. Sérgio Pérez e George Russell acumulam até agora mais pontos que seus companheiros e líderes de equipe, respectivamente o campeão mundial reinante Max Verstappen e Lewis Hamilton.
À primeira vista, é de supor que a maneira como o holandês trata seu equipamento amplifica os pontos críticos do motor Honda na versão derivada do RA 621 H usado no ano passado. Isto se justifica pelo simples fato de o mexicano ter completado duas etapas nos pontos enquanto Verstappen abandonou duas corridas por problemas técnicos.
No lado tedesco, George Russell constrói seu futuro na base da regularidade e alguma dose de sorte: Lewis Hamilton não consegue se impor ao companheiro de equipe como estava habituado com Valtteri Bottas. Nas provas de classificação o heptacampeão mundial leva a melhor (2×1), mas na Austrália a diferença entre ambos foi de cerca de 1/10 de segundo e vale lembrar que Hamilton sequer passou da Q3 em Jeddah. Em termos de melhores voltas na prova Russell vence por 2×1 e soma 37 pontos, contra 28 do seu “team mate”. O suíço Marc Surer, ex-piloto de F-1, acredita que os motivos para tanto são dois fatos: Russell vem de duas temporadas explorando um carro pouco competitivo e Hamilton há tempos teve em suas mãos um chassi extremante eficiente. O mesmo Surer acredita que é uma questão de tempo para que Hamilton retorne à condição de melhor piloto do time. A conferir.
No lado político, o protagonismo é de Toto Wolff: o austríaco mão esconde que está insatisfeito com a relação fornecedor-cliente entre as equipes Ferrari e a Haas.
Não deixa de ser curioso que nas últimas temporadas a sua própria escuderia forneceu mais que conselhos à Racing Point, atual Aston Martin, a ponto dos carros do time de Silverstone tenham sido chamados de “Pink Mercedes”¨(Mercedes cor de rosa), alusão ao patrocinador da época.
Guenther Steiner, o líder da equipe americana, reagiu filosoficamente à provocação de Wolff: “Se nosso carro anda, a gente é classificada como “Ferrari branca”; se vai mal, sentem pena da gente. Eu desejo que todos fiquem verdes de raiva, pois isso significa que estamos fazendo um trabalho muito bom!”
WG
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